A Prefeitura do Recife e o Governo de Pernambuco publicaram notas colocando suas posições sobre o estudo do Banco Mundial ("Doing Business Subnacional Brasil 2021"), que colocou o Estado e a cidade do Recife na última posição numa lista com os estados e capitais para se manter um negócio.
É natural que as duas administrações tentem justificar seus motivos e mostrar a sua visão sobre o estudo.
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Mas antes de apontar e procurar culpados sobre a consequência de uma avaliação tão ruim como a que o Banco Mundial acaba de divulgar, colocando Pernambuco na lanterna do índice, que mede as condições de se manter um negócio, é importante que Prefeitura e Governo do Estado procurem ter acesso às tabelas e escores obtidos pelo Recife.
É importante não esquecer. Dos cinco critérios, apenas dois (obtenção de alvará de construção e registro de propriedades) têm a Prefeitura como ator principal - enquanto um deles está apenas relacionado ao poder Judiciário (execução de contratos) e os outros são liderados pelo Estado (abertura de empresas e pagamento de impostos). Portanto, isso tem a ver com a PCR, o Governo do Estado e o TJPE.
E também é natural que a Oposição atribua a performance à gestão do Executivo no município e do Estado. E que esse ranking é o resultado de posturas burocráticas, cujo recado é dado todos os dias aos empresários nos três níveis de governo.
Mas sempre há como o Estado e o município serem mais receptivos e assertivos. Especialmente com os empresários locais. Há uma queixa generalizada do setor empresarial sobre a distância entre os atores do Executivo e os empresários locais e já instalados.
De fato, o governo e Prefeitura não dispensam a mesma atenção a quem é da terra, e já está aqui, e os que estão chegando de outros estados. Não precisa de intimidade, basta ter canais efetivos de comunicação.
Comunicação
Nos últimos meses, o Governo do Estado e o do município têm usado da estratégia de enviar notas assépticas e inodoras quando o assunto é relacionado com falhas e erros dos agentes públicos.
É um mau caminho. A mesma tecnologia que permite ao prefeito João Campos gravar vídeos e participar de "lives" quando o assunto é relacionado a uma ação positiva é que pode permitir a ele, se estiver disposto, interagir com jornalistas. Não é adequado que quando o problema seja crítico se mande uma nota.
O governador Paulo Câmara também se utiliza desse expediente, e mais ainda, o atual secretário de Desenvolvimento Econômico e ex-prefeito do Recife, Geraldo Júlio, que aparece nos encontros de apresentação de novas empresas. Entretanto, não está presente nas entrevistas sobre restrições de atividades, deixando a dura missão para auxiliares e o secretário da Saúde, André Longo.
Tecnologia existe para conectar as pessoas, e o Recife e o Estado podem usá-la para conversar com jornalistas e explicar pontos obscuros. Até porque somos referência através do Porto Digital.
A recusa a entrevistas ao vivo só reforça a ideia de inseguranças em abordar questões difíceis. O prefeito, o governador e os auxiliares poderiam experimentar conversar, de novo, com jornalistas por vídeo. E não precisarão se preocupar com as medidas de segurança e distanciamento.
Mas, voltando à questão dos pontos levantados pelo Banco Mundial: é importante reconhecer que parte dessa dificuldade existe, de fato, e que o modelo de Estado exige tanta segurança na documentação de comprovação que ele acaba sendo um complicador.
Mesmo com a digitalização e com grande parte dos serviços cerificados digitalmente, o nível de papel não diminuiu. Basta ver o que é necessário para um microempresário se regularizar.
E se é difícil abrir, mais difícil é fechar uma empresa. No geral, o Executivo e o Judiciário tratam com tanto cuidado quem pode ser desonesto que acabam punido os honestos. Mesmo que o nível seja de 9 empresários sérios para 1 desonesto.
Resolução de problemas
Mas, como se disse acima: em lugar de tentar se justificar, talvez Governo e Estado fariam melhor se investigassem a fundo sua performance e após encontrar gargalos, tentar resolvê-los.
Ah, é muito importante conversar com os empresários. Não apenas com as entidades. Mas com os formadores de opinião nos seus diversos segmentos. Nenhum deles, a partir de sua experiência, vai se negar a ajudar.
E para quem já nem lembra: quando o governador Jarbas Vasconcelos decidiu reformar o Prodepe, pediu, após várias conversas, a ajuda de empresários para ajudar a escrevê-lo. Teve sucesso.
Não ouviu apenas as entidades, foi pessoalmente conversar com vários deles e anotou sugestões. Hoje, Pernambuco ainda aproveita essa visão. Mas precisa ter a humildade de conversar com quem fez sucesso no mercado.
E eles estão com enorme disposição de ajudar, colocando o problema do outro lado do balcão. Mas é preciso que o gestor tenha a humildade de tentar aprender com quem tem a experiência do fazer.