Ela está um pouco menos desarrumada do que esteve nos últimos anos da gestão PSB no governo de Pernambuco, uma prova de que, com o passar do tempo, o ranço da política partidária, egoísta e pequeno, vai deixando de influenciar o olhar da gestão estadual sobre a BR-232, rodovia que representa o eixo estruturador do desenvolvimento do Estado. E que também representou, por muitos anos, talvez o maior símbolo do governo Jarbas Vasconcelos, antecessor à entrada do ex-governador Eduardo Campos e à escalada do PSB em Pernambuco. Percebe-se, ao percorrer os 120 quilômetros da BR-232 entre o Recife e a cidade de Caruaru, no Agreste, que o poder público voltou a andar por ali e cuidar - dentro do que é possível - da rodovia. Mas ela segue perigosíssima, com pequenas “armadilhas” para o motorista em diversos pontos e com um extremo comprometimento da segurança viária. Dirigir na BR-232, mesmo após o poder público ter investido R$ 400 milhões, exige motoristas alertas.
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Com o feriado da Semana Santa chegando - no dia 2 será a Sexta-Feira Santa -, é esperado que o volume de veículos na rodovia aumente, já que é o período que abre a temporada de visitas ao interior do Estado. Mesmo em plena segunda onda da pandemia de covid-19 e sem o tradicional espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém - que pelo segundo é cancelado -, a BR deverá ver o volume de circulação aumentar. Ainda mais com a liberação da quarentena mais rígida pelo governo de Pernambuco a partir do dia 1º de abril. Geralmente, em tempos normais, o volume da BR-232 sofre um aumento entre 30% e 40%, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Mas diante dos apelos do governo para que a população fique em casa, o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Pernambuco (DER), estima que a variação de veículos na rodovia nesta Páscoa deverá ser próxima a de 2020 - 22 mil veículos por dia. De toda forma, a atenção do motorista é imprescindível. Mesmo mais cuidada, a intervenção na rodovia é limitada porque os anos de abandono e as falhas de construção - discutidas até hoje na Justiça Federal - deixaram marcas sérias de comprometimento da segurança viária do corredor. A capinação é uma das ações que mais avançou - a BR-232 passou anos parecendo uma verdadeira floresta. Há trechos muito ruins, é fato, como na altura de Caruaru. Mas a reportagem do JC, por exemplo, viu equipes de intervenções trabalhando e longos trechos capinados.
Estamos empenhados nisso e vamos fazê-lo. A rodovia BR-232 será outra. Será um investimento de R$ 300 milhões, a ser executado pelo Estado e o governo federal juntos. Temos conversado e recebido o apoio do Ministério da Infraestrutura. Os editais para realização dos dois projetos foram lançados em janeiro (triplicação) e março (restauração) de 2020 e nossa meta é que até setembro sejam lançadas as licitações das obras”,Fernadha Batista, secretária de Infraestrutura de PE
O pavimento, como sempre, segue sendo o mais comprometido. Os trechos da pista antiga - todo em asfalto - parecem montanhas russas na altura de Bezerros, especialmente nas imediações da Encruzilhada São João. O pior deles está entre Caruaru e Gravatá, no sentido interior-capital. E não é de hoje. Depois que a BR-232 começou a se degradar, sempre foi o mais evidente. No início do segundo semestre de 2020, a Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco fez uma pavimentação contínua em pedaços desse trecho, indo além do tapa-buraco. Ajudou, mas foi pouco e seguem até agora sem sinalização horizontal. A ultrapassada e perigosa solução do asfalto sobre placas de concreto - que criam “pequenas montanhas” no pavimento - segue sendo aplicada em alguns trechos.
A rodovia também não tem mais qualquer tipo de sinalização - especialmente a vertical. O que ainda está em pé, deteriora-se há tempos. Retornos não têm, sequer, uma placa indicativa - restaram apenas os portais. A maioria deles, aliás, nem parecem oficiais de tão abandonados e tomados pela terra e lama. “É uma rodovia muito ruim. E não deveria, porque já foi muito, muito boa. Uma pena. Principalmente quando vemos que, aqui ao lado, na Paraíba e em Alagoas, as estradas são infinitamente melhores. O pavimento da 232 está destruído. Tem trechos muito ruins e perigosos”, alerta o caminhoneiro Antônio Júnior, morador de Pernambuco e que costuma fazer entregas em todo o Nordeste. Por tudo isso, toda atenção do condutor é pouca.
É uma rodovia muito ruim. E não deveria, porque já foi muito, muito boa. Uma pena. Principalmente quando vemos que, aqui ao lado, na Paraíba e em Alagoas, as estradas são infinitamente melhores”,Antônio Júnior, caminhoneiro
De fato, deram uma arrumadinha na BR-232 e ela está com uma aparência um pouco melhor do que nos últimos anos. Mas a rodovia segue muito perigosa. Há trechos quase impraticáveis para trafegar. Para os caminhões é ainda pior",
Adriano Pereira, caminhoneiro
AÇÕES DO ESTADO
Agora, o governo de Pernambuco promete e está, de fato, trabalhando para transformar a BR-232. E não apenas o trecho entre o Recife e Caruaru, mas também a saída oeste do Recife, um percurso de 6,8 quilômetros que, de tão urbano, às vezes faz o motorista levar de 40 minutos a uma hora para percorrê-lo. Nos planos, duas ações grandes: a restauração dos 120 quilômetros até Caruaru e a triplicação dos 6,8 quilômetros da saída da capital, entre a Avenida Abdias de Carvalho, no Bongi (cruzamento com a BR-101), e a BR-408, no Curado, ambos na Zona Oeste do Recife. Essa é a meta da secretária de Infraestrutura de Pernambuco, Fernandha Batista.
“Estamos empenhados nisso e vamos fazê-lo. A rodovia BR-232 será outra. Será um investimento de R $300 milhões, a ser executado pelo Estado e o governo federal juntos. Temos conversado e recebido o apoio do Ministério da Infraestrutura. Os editais para realização dos dois projetos foram lançados em janeiro (triplicação) e março (restauração) de 2020 e nossa meta é que até setembro sejam lançadas as licitações das obras”, garante a secretária. Dos R $300 milhões, R $100 milhões seriam para a triplicação dos 6,8 quilômetros e R $200 milhões para a restauração dos 120 quilômetros até Caruaru - o governo de PE chegou a estimar em R $100 milhões, mas a previsão aumentou.
Fernandha Batista ressalta, ainda, que o governo de Pernambuco está gastando, por mês, aproximadamente R $1 milhão com a manutenção da BR-232 no trecho entre o Recife e Caruaru. “A população pode ficar certa de que estamos cuidando dela. O nosso olhar é de cuidado. É claro que temos limitações financeiras e estruturais que só o projeto de restauração conseguirá resolver. Mas estamos presentes. Houve um entendimento com o governo federal de que, não importa quem irá assumir a gestão da BR após o fim do convênio de delegação ao Estado, ela precisa ter uma manutenção permanente até que todo o processo seja finalizado”, diz. Pernambuco também está viabilizando uma nova operação de crédito, já aprovada pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), que permitirá investir R $1 bilhão em projetos de logística.
FISCALIZAÇÃO
O Conselho Regional de Engenharia de Pernambuco (Crea-PE) é uma das entidades que promete estar atenta aos futuros passos do governo do Estado em relação à BR-232. Com um olhar de colaboração - sem dúvida -, mas também de fiscalização. Novo presidente do Crea-PE, o engenheiro Adriano Lucena faz dois importantes alertas que precisam ser considerados ainda no início dos estudos que vão validar tanto a restauração do trecho até Caruaru como a triplicação na saída oeste do Recife.
É fundamental que essa nova quantia seja gasta com qualidade. Temos que fazer bons projetos, mas também adotar a cultura da manutenção. Também é importante estudar a adoção de variantes em algumas zonas urbanas das cidades cortadas pela rodovia. Esse diagnóstico precisa ser feito e apresentado ao Estado”,Adriano Lucena, do Crea-PE
“Vemos de forma positiva essas ações do governo de Pernambuco focadas na BR-232. Nós realmente precisamos que haja o desenvolvimento econômico no Estado e só com a qualificação de um eixo tão importante isso é possível. Mas é fundamental que essa nova quantia seja gasta com qualidade. Temos que fazer bons projetos, mas também adotar a cultura da manutenção para que, o que aconteceu com a 232, não se repita. Outro aspecto importante e que precisa ser considerado já nessa fase de projetos, pelo menos no caso da restauração da BR, é a possibilidade de adoção de variantes em algumas zonas urbanas das cidades cortadas pela rodovia. Esse diagnóstico precisa ser feito e apresentado ao Estado. Por isso o Crea-PE vai acompanhar de perto os dois processos”, garante Adriano Lucena. Variantes são trechos de rodovias implantados por fora da zona urbana de cidades com o objetivo de reduzir eventos de trânsito na área.