Trânsito, transportes e mobilidade urbana, com Roberta Soares

Mobilidade

Por Roberta Soares e equipe
COLUNA MOBILIDADE

Metrô do Recife: mais de R$ 1,5 bilhão para conceder gestão do sistema à iniciativa privada

Essa é a quantia inicial que os estudos técnicos de viabilidade apontam serem necessários para repassar operação do sistema ao setor privado

Cadastrado por

Roberta Soares

Publicado em 07/10/2021 às 14:22 | Atualizado em 07/10/2021 às 14:23
Pelo que já foi acordado, o governo de Pernambuco será o gestor do futuro contrato de concessão pública do Metrô do Recife, previsto para 30 anos - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

O valor não para de subir. Já foi de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão, passou para R$ 1,5 bilhão, e agora já ultrapassou esse valor. Essa é a quantia estimada para recuperar e “arrumar” o Metrô do Recife e deixá-lo atraente para ter a operação repassada à iniciativa privada. Em agosto, o valor estava em R$ 1,5 bilhão, mas nesta quinta-feira (7/10), o governo de Pernambuco - quem terá que assumir a gestão das mãos da União - informou que a quantia já está acima desse valor.

A previsão é de que os estudos técnicos que vêm sendo desenvolvidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sejam concluídos no fim do ano, quando o valor preciso será divulgado. A quantia será utilizada na recuperação de toda rede aérea do sistema (que faz a alimentação do metrô), incluindo as linhas elétricas - Centro (com seus dois ramais: Camaragibe e Jaboatão) e Sul - e a diesel (VLT), do material rodante (todos os veículos que trafegam sobre os trilhos de uma ferrovia - trens de passageiros e de manutenção), dos trilhos e dormentes, além da reforma das estações.

Outro ponto importante é que, dos cinco sistemas sob gestão da CBTU e que estão sendo alvo dos estudos de transferência para a gestão privada, o do Recife e o de Belo Horizonte (MG) são os que mais têm capacidade de atrair investidores - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

“Vamos fazer o que for melhor para a população, sem dúvida. Mas é preciso considerar que o maior desafio não é o investimento inicial para requalificar, mas garantir a operação do sistema. O Metrô do Recife, todos sabem, tem uma realidade financeira de total dependência dos recursos da União (a receita do sistema cobre menos de 20% do custo de operação). Por isso, embora seja uma decisão política, ela precisa estar fundamentada tecnicamente para que o governo de Pernambuco possa entrar no projeto, que sempre, mesmo se for concedido à iniciativa privada, terá que ter a parceria da União pela dimensão dos custos referentes a sistemas de transporte metroferroviários”, explicou Marcelo Bruto, secretário-executivo de Parcerias e Estratégias de Pernambuco, durante debate na Rádio Jornal sobre a situação e o futuro do Metrô do Recife. O secretário é o representante do governo do Estado nos estudos para a futura concessão.

Outro ponto importante é que, dos cinco sistemas sob gestão da CBTU e que estão sendo alvo dos estudos de transferência para a gestão privada, o do Recife e o de Belo Horizonte (MG) são os que mais têm capacidade de atrair investidores. O metrô mineiro, inclusive, está para receber investimentos na ordem dos R$ 2,8 bilhões. A quantia foi aprovada pela Câmara dos Deputados na semana passada. A Trensurb, sistema de Porto Alegre, também. Além do Recife e de Belo Horizonte, a CBTU gere os sistemas de Natal (RN), João Pessoa (PB) e Maceió (RN) - que são bem menores do que o pernambucano e o mineiro.

Aumentos do metrô do Recife - THIAGO LUCAS/ ARTES JC


“O governo de Pernambuco precisa assumir o Metrô do Recife de toda forma. É obrigação com a população da Região Metropolitana do Recife, que não merece ser obrigada a utilizar apenas o ônibus, que presta um serviço limitado e ruim. Investimentos não são problema e o Estado tem a obrigação de fazê-los. Isso vai acontecer em Belo Horizonte e aconteceu em Salvador (BA), em Fortaleza (CE) e, no caso de São Paulo, há anos”, alertou Stênio Cuentro, engenheiro, especialista em mobilidade e vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (CREA-PE), que também participou do debate.


CUSTO MÍNIMO

Segundo o superintendente do Metrô do Recife, Carlos Pereira, o sistema metropolitano precisaria, no mínimo, de R$ 500 milhões para dar uma arrumada básica e mínima. Com essa quantia, por exemplo, seria possível reduzir o intervalo de dez minutos praticado no sistema mesmo nos horários de pico. “Os valores de acima de R$ 1 bilhão seriam para reestruturar o sistema e deixá-lo pronto para a concessão privada. Mas com R$ 500 milhões conseguimos investir em áreas importantes para a operação. De fato, o Metrô do Recife clama por investimentos e não suporta mais operar com praticamente 50% do orçamento e 50% da demanda de antes da pandemia”, alertou e lamentou o superintendente.

O metrô mineiro, inclusive, está para receber investimentos na ordem dos R$ 2,8 bilhões. A quantia foi aprovada pela Câmara dos Deputados na semana passada - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

O Metrô do Recife já transportou em suas três linhas (dois ramais elétricos e um a diesel) 400 mil passageiros por dia e tinha capacidade para o dobro se houvesse investimentos. Mas desde a pandemia e com os aumentos que elevaram a tarifa de R$ 1,60 para R$ 4,25 num período inferior a dois anos, perdeu metade da demanda. Segue transportando diariamente 200 mil passageiros, em média.

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