Enquanto o governo de Pernambuco corre com o projeto de reconstrução e requalificação da rodovia PE-15 - que prevê investimento de R$ 180 milhões -, o corredor definha. E, com ele, o BRT Norte-Sul, o mais extenso dos dois corredores metropolitanos da Região Metropolitana do Recife, que atende a 100 mil pessoas por dia, aproximadamente.
As imagens que ilustram essa reportagem falam por si só. É inimaginável ver um corredor do Sistema BRT, o Bus Rapid Transit, criado pelo Jaime Lerner em Curitiba (PR) para ser um “metrô sobre pneus”, operando nessas condições.
Situação que se repete ano após ano, e é potencializada na época das chuvas. A Coluna Mobilidade, por exemplo, já publicou inúmeras reportagens semelhantes a esta. Em uma delas, o pavimento de acesso às estações chegou a ficar no barro. Literalmente.
Confira algumas aqui:
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E todo esse estrago tem custo. E quem paga por ele é a população, direta ou indiretamente. O passageiro paga duas vezes. Mas quem não usa o sistema também contribui porque os reparos do pavimento - mais frequentes ano a ano - saem do caixa do governo.
Além disso, vale lembrar que o BRT Norte-Sul faz parte do Conorte, um dos dois consórcios de transporte que operam licitados, via concessão pública. Ou seja, quanto maior o custo de operação, maior a diferença para a receita - reduzida em pelo menos 30% com a perda histórica de passageiros, agora estabilizada pela pandemia de covid-19.
Dos R$ 250 milhões que o governo de Pernambuco tem colocado em subsídios públicos no sistema de transporte da RMR, pelo menos R$ 90 milhões são para o Conorte. E boa parte se perde na destruição do pavimento da PE-15.
CALOR NOS VEÍCULOS
A frota de BRT tem sofrido muito com a degradação do corredor de ônibus da PE-15. Os veículos estão tendo um custo de manutenção altíssimo e, o que é pior, sofrendo uma depreciação precoce e gigantesca. Veículos com oito anos de idade e sete de operação. Mas que parecem bem mais velhos.
Depreciação que sucateou a frota de BRT e impede, por exemplo, a conexão eletrônica dos dispositivos e o bom funcionamento da refrigeração. Por isso os BRTs têm circulado tão quentes. Para que o passageiro entenda o que os buracos da PE-15 provocam nos veículos.
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E, como se não bastasse, gastam ainda mais combustível, que já representa 34% do custo de operação. Enfim, vira um círculo vicioso, onde todos perdem: Estado, passageiros e operadores.
UMA NOVA PE-15
A Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco (Seinfra) garantiu que a partir desta quarta-feira (29/6), equipes do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PE) iniciarão um serviço de manutenção do pavimento nos trechos mais críticos. Mas a solução para esses anos de destruição da rodovia PE-15 só virá com o projeto de reconstrução e requalificação da PE-15, que está sendo licitado.
O projeto, orçado em R$ 180 milhões, pretende qualificar, urbanizar e inserir a rodovia nas cidades cortadas por ela. E, tudo isso, com mais protagonismo para o pedestre e o ciclista. É uma tentativa de tentar tornar a PE-15 um pouco mais humanizada.
Além da requalificação da rodovia estadual, o Estado resolveu intervir também na pista central da BR-101 Norte, entre os Terminais Integrados de Abreu e Lima e Igarassu. O trecho terá uma nova pavimentação e drenagem, além de iluminação. Mas apenas a pista central será recuperada, que funciona como corredor de transporte público metropolitano.
No total, serão 24 quilômetros de rodovias requalificadas, sendo 13,5 quilômetros da PE-15 e outros 10,5 quilômetros da BR-101 Norte. A PE-15 ficará com a maior parte dos recursos: R$ 155 milhões, enquanto a BR-101 responderá pelos R$ 25 milhões restantes.
Os recursos são do Plano Retomada, principal aposta do governo para recuperar a infraestrutura de todo o Estado, que já teve investimentos superiores a R$ 2 bilhões. O processo licitatório para contratação da empresa responsável pela execução das obras foi publicado no Diário Oficial do Estado na quinta-feira (23/6).