Urbanismo tático: redesenho urbano das ruas salva vidas. Redução de sinistros com vítimas é de quase 40%
Redução das colisões com vítimas foi verificada pela Prefeitura do Recife após estudo realizado em 13 das 50 áreas redesenhadas na cidade
O urbanismo tático, que muita gente ainda insiste em definir apenas como “pinturas no chão” e, em alguns casos, usar para criticar as gestões municipais que as utilizam, tem salvado muitas vidas onde é implantado. Pelo menos no Recife isso tem acontecido e, de acordo com a prefeitura, com comprovação estatística.
Segundo a gestão municipal, houve uma redução média de 37,7% na ocorrência de sinistros de trânsito com vítimas (não é mais acidente de trânsito que se define, segundo o CTB e a ABNT) depois da implantação de redesenhos urbanos em áreas da capital pernambucana.
Para chegar a esse índice de redução, o município analisou 13 áreas redesenhadas nas três zonas da cidade. Entre os destaques, a Praça General Carlos Pinto, em Santo Amaro, bairro da área central da capital, que chegou a reduzir em 50% o número de sinistros com vítimas. E áreas do bairro de Setúbal, na Zona Sul do Recife, onde o urbanismo tático chegou a reduzir em 58% o número de colisões com vítimas.
Para quem não sabe, o urbanismo tático é uma ferramenta que - sem grandes custos - amplia e humaniza os espaços das cidades, com foco na mobilidade ativa - especialmente para os pedestres. É barato, midiático, eficiente se bem feito e, principalmente, se preservado em bom estado.
REDESENHO TAMBÉM FAZ CONDUTORES REDUZIREM VELOCIDADE
O redesenho urbano também tem um efeito na velocidade desenvolvida pelos condutores, segundo o trabalho, desenvolvido pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Vital Strategies, parceira da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS), com apoio da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU).
Nas intervenções de urbanismo tático feitas no Jardim Monte Verde, no Ibura, por exemplo, a gestão municipal diz que houve uma redução de 50% dos veículos excedendo a velocidade de 30km/h na ladeira.
Antes da nova pintura, 47% dos veículos trafegavam acima de 30km/h. Depois, 23,4%. Antes da intervenção, 92,7% das pessoas andavam na rua. Depois da sinalização implantada, teria havido uma redução de 98% e não teriam sido vistas mais crianças andando na via.
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Já na Rua Othon Paraíso, no bairro do Torreão, Zona Norte da capital, 79,6% dos veículos excediam a velocidade de 30 km/h antes do projeto. Depois, esse número caiu para 22,3%, decréscimo de 72%.
O Largo Dom Luiz, na Zona Norte do Recife, seria outro exemplo positivo: 43% dos pedestres andavam no leito viário antes da intervenção, depois, esse número reduziu para 0,6%. Além disso, a distância entre as travessias diminuiu 60%. Já na Rua da Palma, no Centro, houve uma redução de 75% dos pedestres caminhando no leito viário.
A influência do urbanismo tático é importante de ser destacada porque, segundo dados oficiais e baseados em pesquisas observacionais realizadas na cidade, 35% dos condutores de motocicletas transitam acima dos limites de velocidade. Enquanto que 21% dos motoristas de carros excedem os limites de velocidade.
O URBANISMO TÁTICO NO RECIFE
A capital pernambucana tem, atualmente, 50 áreas de urbanismo tático. A implantação começou ainda em 2019. Desse total, entretanto, poucas viraram permanentes - um dos preceitos do redesenho de ruas. Mas, mesmo assim, as que viram fizeram uma diferença na segurança de pedestres e ciclistas.
É o caso de áreas no bairro do Rosarinho, na Zona Norte da capital, da Rua do Hospício e da Avenida Conde da Boa Vista, no Centro da cidade, além de travessias e áreas de acomodação de pedestres da Avenida Governador Agamenon Magalhães, também na área central.
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Outras áreas que viraram permanentes na cidade estão localizadas na Rua Conde do Irajá, na Torre, Zona Oeste, e no Largo da Paz, em Afogados, na mesma região e um dos primeiros espaços a receber o urbanismo tático na capital.
NÚMERO DE SINISTROS COM VÍTIMAS, EM GERAL, TEM AUMENTADO NO RECIFE
Apesar dos avanços com o redesenho urbano das vias, os sinistros de trânsito com vítimas no Recife vêm apresentando crescimento nos últimos três anos. A capital pernambucana teve um aumento superior a 100% nos registros de colisões, quedas, atropelamentos e outros tipos de sinistros no trânsito com vítimas de 2022 para 2024.
Quando o recorte é feito de janeiro a maio de cada ano, o aumento é de 116,5% comparando 2022, 2023 e 2024. Mas quando a análise é de mês a mês, o crescimento chega a 139%, como aconteceu entre os meses de maio dos três anos analisados. De 2024 em relação a 2023, o aumento foi de 53,9%.
Os registros com vítimas no trânsito recifense aumentaram 62,66% em 2023 em comparação com 2022. O levantamento foi realizado pela Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo) com os dados abertos da Prefeitura do Recife. A comparação dos anos de 2022 e 2023 com 2024 não foi possível porque os dados existentes são referentes apenas aos cinco primeiros meses deste ano.
Não se pode esquecer que o Recife, mesmo diante do cenário de crescimento de registros no trânsito, passou um ano com a fiscalização de velocidade desligada devido a atrasos no processo de licitação do novo contrato. Os radares começaram a ser desligados em junho de 2023, houve uma ampliação em fevereiro de 2024, para o religamento ser retomado nos principais corredores viários da cidade no fim de agosto .
MORTES NO TRÂNSITO DO RECIFE CRESCERAM QUASE 20% ENTRE 2021 E 2022
Dados oficiais da prefeitura também mostram que as mortes no trânsito vem crescendo ano a ano. Aumentaram mais de 19% entre 2021 e 2022. Foram 105 vidas perdidas na capital no em 2022. Os dados fazem parte do Relatório Anual de Segurança Viária do Recife em 2022, elaborado pela CTTU em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS).
O relatório aponta que as mortes no trânsito aumentaram 19,3% na capital. E que as principais vítimas dos sinistros de trânsito são os pedestres, que corresponderam a 42% dos casos. O número de feridos também aumentou em 2022.