Um dia após a coluna Ronda JC publicar reportagem sobre a demora na realização do exame de corpo de delito no adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, trabalhador atingido no olho e que ficou cego durante ação violenta da Polícia Militar numa manifestação no Recife, a assessoria de imprensa da Secretaria de Defesa Social (SDS) se pronunciou sobre o assunto. Em nota oficial, o órgão alegou que "não houve morosidade'.
"Tão logo foi procurado pelos advogados da parte, na tarde de 21/06, o Instituto de Medicina Legal (IML) agendou a perícia a ser realizada por uma perita médica legista, com formação em Oftalmologia, ofertando atendimento de qualidade e apropriado para uma ocorrência específica de trauma ocular. O IML esteve, desde que manifestantes foram atingidos de forma grave, no dia 29 (de maio), à disposição para a realização das perícias médico-legais".
A nota disse ainda que Daniel "não pode ser periciado no dia do ferimento porque ficou internado. Logo após receber alta médica, foi feito o encaminhamento ao IML. Como a realização das perícias dependeu do quadro de saúde, não houve, como leva a crer a matéria, morosidade ou qualquer limitação por parte dos órgãos de segurança envolvidos no caso". O texto afirmou ainda que Daniel prestou depoimento à polícia no dia 14.
Como a coluna mostrou nessa terça-feira (22), Daniel só passará por exames no próximo dia 28 de junho, ou seja, 30 dias após ser atingido no olho esquerdo. Ainda não se sabe, inclusive, se o ferimento foi causado por bala de borracha ou fragmento de granada - ambas usados por policiais militares para dispersar o protesto.
A data do exame no IML foi confirmada pelo advogado de Daniel, Marcellus Ugiette. Segundo ele, a data foi agendada durante um reunião com a direção do instituto. Sobre a demora, Ugiette disse que vai levar o histórico de exames feitos no Hospital da Restauração, onde Daniel chegou a ser internado, para ajudar no laudo do IML.
Em relação ao caso do arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29, que perdeu a visão também, já ficou claro que ele foi atingido por bala de borracha. As filmagens mostram isso. A vítima já passou por exame de corpo de delito e também já prestou depoimento.
INVESTIGAÇÕES
As investigações sobre a atuação dos policiais militares na manifestação estão sendo conduzidas pela Polícia Civil (no âmbito criminal) e pela Corregedoria da SDS (no âmbito administrativo), mas ainda não há prazo para conclusão. Na corregedoria, há nove procedimentos em andamento. E 16 PMs lotados no Batalhão de Choque e na Radiopatrulha foram afastados das funções, inclusive o suspeito de atirar em Jonas. O policial foi afastado da corporação por 120 dias, por determinação do secretário de Defesa Social.
INDENIZAÇÕES
Em paralelo às investigações, o governo de Pernambuco está em negociação para pagar uma indenização vitalícia às duas vítimas, que não participavam da manifestação. Além disso, durante três meses, o governo vai pagar dois salários mínimos a cada um. A Procuradoria-Geral do Estado (PGE), no Recife, está acompanhando tudo.