Dois meses após a ação violenta de policiais militares contra manifestantes que faziam ato pedindo o fim do governo Bolsonaro, na área central do Recife, as investigações seguem em andamento. Faltam respostas e punições. Dezesseis PMs (três oficiais e 13 praças) continuam afastados das atividades nas ruas. De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), havia uma previsão de que os procedimentos fossem finalizados em 30 de julho, mas os prazos foram prorrogados até o final de agosto.
Na ação desastrosa da PM, em 29 de maio, dois trabalhadores foram atingidos nos olhos - um deles foi o arrumador de contêineres Jonas Correia de França, 29 anos, que perdeu a visão do olho direito. O PM do Batalhão de Choque suspeito da ação foi identificado como Reinaldo Belmiro Lins. Ele foi afastado de forma cautelar por 120 dias da corporação. Também teve o armamento recolhido. Já o adesivador Daniel Campelo, 51, perdeu a visão do olho esquerdo. O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) apontou que a lesão foi ocasionada por um "instrumento contundente". O PM que atingiu a vítima não foi identificado, oficialmente.
Ambos estão recebendo assistência do governo do Estado, que reconheceu os excessos cometidos pela PM. Por três meses, estão recebendo dois salários mínimos. Mas também há negociações para que os dois trabalhadores recebam uma indenização, além de uma pensão vitalícia.
"Seguimos em negociação dos valores. Eles (governo) pediram documentos, entregamos. E pediram outros dados depois, que também já foram entregues. Agora será feita uma perícia laboral. O Daniel segue com problemas no olho atingido e também no outro. É possível que passe por nova cirurgia. Estamos aguardando posição do Estado sobre a indenização e a pensão, mas, se demorar, vamos à Justiça", afirmou Marcellus Ugiette, advogado de Daniel Campelo.
Uma autônoma, que também foi atingida na perna por um disparo feito pela PM, também está recebendo dois salários mínimos mensais, como revelou a coluna Ronda JC.
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INVESTIGAÇÕES
A principal pergunta sobre a ação desastrosa segue sem resposta oficial: Quem deu a ordem para a PM avançar contra os manifestantes que faziam um ato pacífico? Documento interno da corporação, publicado em primeira mão pela coluna, descreveu que foi o então comandante geral da PM, coronal Vanildo Maranhão, o responsável por mandar os policiais irem até a Praça do Derby, onde ocorria a concentração do ato, para dispensar os manifestantes. Vanildo, inclusive, nunca veio a público esclarecer isso. Ele acabou sendo exonerado do cargo, dias após o protesto. O coronel foi transferido para a reserva remunerada.
O delegado federal Antônio de Pádua também deixou a titularidade da SDS, seis dias após o ato violento da PM. Humberto Freire foi o substituto definido pelo governador Paulo Câmara.
As investigações sobre a ação dos policiais estão sendo conduzidas pela Corregedoria da SDS, onde foram instaurados nove procedimentos, e pela Polícia Civil, que apura, na esfera criminal, as denúncias de agressões contra os trabalhadores atingidos nos olhos e também contra a vereadora do Recife Liana Cirne (PT), atingida por spray de pimenta ao tentar negociar com PMs da Radiopatrulha.
"A Corregedoria Geral da SDS instaurou nove procedimentos de investigação. Desses, seis foram concluídos com identificação de autoria e transformados em Procedimentos Administrativos Disciplinares, nos quais os servidores acusados terão direito à ampla defesa e ao contraditório. Houve dois arquivamentos, um por não ser possível identificar de autoria e outro por ausência de infração disciplinar. Uma Investigação preliminar está em curso. Os inquéritos instaurados pela Polícia Civil de Pernambuco tiveram o prazo prorrogado e seguem em curso, devendo ser concluídos no final de agosto. O Inquérito Policial Militar instaurado pela PMPE encontra-se em curso. Havia um prazo anterior de conclusão do mesmo até 30 julho, mas, devido à necessidade de coleta de informações e novas perícias, foi solicitada a prorrogação", explica, em nota, a SDS.