A ação violenta de policiais militares contra manifestantes que participavam de ato pacífico pedindo o fim do governo Bolsonaro, na área central do Recife, completa quatro meses nesta quarta-feira (29). Mas, além das investigações avançarem pouco, um inquérito concluído pela Polícia Civil está cercado de mistério. E nem as partes envolvidas sabem do resultado.
Durante a ação, em 29 de maio deste ano, a vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida no rosto por spray de pimenta ao tentar negociar com policiais militares da Radiopatrulha, na Ponte Santa Isabel. Ela prestou queixa, na ocasião, e um inquérito foi instaurado pela Delegacia da Boa Vista. Pois bem: a Secretaria de Defesa Social (SDS) afirmou à coluna Ronda JC que essa investigação já foi concluída e remetida à Justiça. Porém, a pasta alegou que se tratava de um caso sigiloso e, por isso, não iria revelar o resultado. Nem ao menos se algum PM foi indiciado.
A coluna procurou a assessoria da vereadora e também o advogado de defesa dos PMs envolvidos. Ambos informaram não ter conhecimento do resultado do inquérito.
Na ação, dos trabalhadores que passavam perto da manifestação também foram atingidos nos olhos e perderam a visão. Um deles foi o arrumador de contêineres Jonas Correia de França, 29 anos, que perdeu a visão do olho direito. O PM do Batalhão de Choque suspeito da ação foi identificado como Reinaldo Belmiro Lins. Ele foi afastado de forma cautelar por 120 dias da corporação. Também teve o armamento recolhido. Já o adesivador Daniel Campelo, 51, perdeu a visão do olho esquerdo. O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) apontou que a lesão foi ocasionada por um "instrumento contundente". O PM que atingiu a vítima não foi identificado, oficialmente.
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Os inquéritos policiais instaurados para apurar esses dois casos não foram concluídos, segundo a SDS. "As ocorrências que resultaram em ferimentos graves nos olhos de duas pessoas estão sendo apuradas pelos dois delegados especialmente designados pela Polícia Civil de Pernambuco. Esses inquéritos estão em sua fase final", diz nota enviada à coluna.
"No âmbito da Polícia Militar, foi instaurado um Inquérito Policial Militar, que prossegue em fase de diligências e perícias. Na esfera disciplinar, estão em curso sete Processos Administrativos Disciplinares (PADs) na Corregedoria Geral da SDS, com prazos legais sendo respeitados e com a garantia do direito à ampla defesa e ao contraditório. Dos PADs, cinco são Conselhos de Disciplina e os outros dois são Conselho de Justificação e Sindicância Administrativa Disciplinar", completou o texto da SDS.
Vale lembrar que, por causa da ação violenta, 16 PMs (três oficiais e 13 praças) foram afastados das atividades nas ruas.
QUEM DEU A ORDEM?
A principal pergunta sobre a ação desastrosa segue sem resposta oficial: Quem deu a ordem para a PM avançar contra os manifestantes que faziam um ato pacífico?
Documento interno da corporação, publicado em primeira mão pela coluna, descreveu que foi o então comandante geral da PM, coronal Vanildo Maranhão, o responsável por mandar os policiais irem até a Praça do Derby, onde ocorria a concentração do ato, para dispensar os manifestantes.
Vanildo, inclusive, nunca veio a público esclarecer isso. Ele acabou sendo exonerado do cargo, dias após o protesto. O coronel foi transferido para a reserva remunerada.
O delegado federal Antônio de Pádua também deixou a titularidade da SDS, seis dias após o ato violento da PM. Humberto Freire foi o substituto definido pelo governador Paulo Câmara.