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Saúde e Bem-estar

Por Cinthya Leite e equipe
IMUNIZAÇÃO

Vacinação de arquiteta em Hospital de Referência à Covid-19 no Recife gera polêmica

No Recife, caso de uma arquiteta, que trabalha no Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem e foi vacinada, tem circulado bastante nos grupos de WhatsApp e em rede social. Em Jupi, no Agreste, o MPPE investiga vacinação de um fotógrafo, servidor da prefeitura

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Raphael Guerra, Cinthya Leite

Publicado em 20/01/2021 às 0:13 | Atualizado em 20/01/2021 às 1:08
VAGAS Ocupação acima de 90% força abertura de mais 200 leitos em PE - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

O caso de uma arquiteta, que trabalha no Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, e foi vacinada nesta terça-feira (19) contra a doença, tem circulado bastante nos grupos de WhatsApp e em rede social, onde ela postou foto com o cartão de vacina e, após polêmicas, apagou a imagem. Chama a atenção o fato de ela não ser profissional de saúde que atende pacientes com sintomas da covid-19 nas enfermarias e leitos de terapia intensiva (UTI). Em Jupi, no Agreste do Estado, imagens de fotógrafo, que é servidor da prefeitura, sendo vacinado, causaram revolta, já que o profissional também não faz parte do grupo prioritário. 

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Conforme foi divulgado publicamente, o plano de imunização contra o novo coronavírus pactuado entre o Estado e municípios prioriza, neste momento inicial (com as 270 mil doses já enviadas a Pernambuco pelo governo federal), um pequeno subgrupo da primeira fase da campanha.

Isso ficou claro na fala do secretário Estadual de Saúde, André Longo, na última segunda-feira (18): "Neste primeiro momento, nossa prioridade será imunizar os trabalhadores de saúde que atendem pacientes da covid-19 nas nossas enfermarias e leitos de UTI. Havendo doses, devem ser atendidos os serviços de urgência, atenção primária e agentes comunitários de saúde, respeitando a gradação de acordo com o perfil que cada município tem de sua rede de atenção à covid-19."

 
 
 
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Nesta terça-feira (19), só após ser questionada pela reportagem deste JC sobre as polêmicas do caso da arquiteta, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que todos os profissionais (independentemente da função e do setor em que atuam) dos quatro hospitais, considerados referência no atendimento aos pacientes com suspeita e confirmação da covid-19, fazem parte do grupo contemplado nestes primeiros dias da campanha. Em momento algum durante o anúncio oficial do plano de imunização, o governo deixou claro que 100% dos trabalhadores desses quatro hospitais seriam beneficiados no momento atual. Até ontem à noite, estava claro que só os profissionais de enfermarias e leitos de UTI receberiam as doses contra covid-19 que vieram neste pequeno lote. Essa exceção, que é o grupo total de trabalhadores dos hospitais de referência, informada pela assessoria de imprensa da SES apenas ontem, não havia sido anunciada publicamente.

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Em nota enviada pela secretaria, a direção do Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem informou que a arquiteta faz parte da equipe do hospital "e foi vacinada por atuar diretamente nos ambientes de UTI e enfermarias da unidade de saúde". O comunicado acrescentou ainda que a arquiteta testou positivo para covid-19 por duas vezes, desde que passou a integrar a equipe da unidade, em abril do ano passado. "O Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem reforça que a vacinação da arquiteta em nada interfere na disponibilidade da vacina aos profissionais das áreas de assistência direta do hospital. A unidade esclarece ainda que, por atender exclusivamente pacientes com covid-19, prevê a imunização de todos os profissionais que são da saúde, mas que também atuem diretamente em ambientes com risco de infecção, seja na manutenção física do imóvel ou de maquinários importantes, como aparelhos de hemodiálise e demais funções em que haja contato, mesmo que indireto com pacientes."

O hospital conta atualmente, segundo a SES, com 1.309 funcionários, sendo 1.225 atuantes na assistência direta nas enfermarias e UTIs. Ontem, no início da manhã, em solenidade que marcou o início da campanha de imunização na unidade, André Longo só se referiu aos trabalhadores da saúde como prioridade neste momento inicial. "São mais de 1.200 profissionais da saúde que trabalham aqui e que serão priorizados para que a gente tenha mais segurança e para que eles possam continuar salvando vidas neste que é o maior Hospital de Referência para a Covid-19 no Estado", afirmou o secretário. Além da unidade de Boa Viagem, o governo do Estado administra outros três Hospitais de Referência para a Covid-19: o antigo Brites, em Olinda; o Eduardo Campos, em Serra Talhada (Sertão); e a Unidade de Pronto Atendimento e de Atenção Especializada (Upae) de Petrolina (Sertão).

Sobre o caso da arquiteta, que traz à tona, nesta reportagem, como está sendo feita a imunização contra a covid-19 nos hospitais de referência para a doença no Estado, vários profissionais de saúde se manifestaram em grupos de WhatsApp. Alguns publicaram depoimentos em rede social, como a pediatra Marina Rocha Azevedo, com quase 20 mil seguidores no Instagram (@minhapediatra). "Se é assim que a gestão das vacinas está sendo feita, teremos graves problemas com a nova Secretaria de Saúde do Recife. Sigamos aguardando a nossa vez como cidadãos de bem que somos. Trabalho diariamente em hospital, mas a mesma secretaria, que não me acha prioridade, deu prioridade a essa jovem arquiteta. Se você já estava aí pensando como 'furar a fila', pense em quem você vai estar prejudicando", escreveu Mariana, que finalizou o post usando a hashtag #indignada.

Uma denúncia foi feita ao Ministério Público de Pernambuco, que ainda vai se posicionar se vai instaurar procedimento para apurar o caso.

MPPE investiga denúncias em Jupi

Em Jupi, no Agreste, imagens em que um fotógrafo - servidor da prefeitura - aparece sendo vacinado circularam nas redes sociais e causaram revolta, já que o profissional não faz parte do grupo prioritário nesta fase da vacinação. O vídeo chegou às mãos do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que anunciou fiscalização rigorosa da aplicação da vacina em todo o Estado.

O objetivo imediato é evitar que pessoas "furem a fila". O procurador-geral de Justiça, Paulo Augusto de Freitas Oliveira, expedirá recomendação para que todos os membros do MPPE observem, atentamente, a atuação dos servidores públicos responsáveis pela vacinação.

"Estamos vivenciando um caso de emergência em saúde pública em todo solo nacional e é inadmissível que, considerando o quantitativo de vacinas recebidas em Pernambuco, haja qualquer descumprimento das normas estabelecidas pelo Plano Nacional de Imunização", disse o procurador-geral, por meio de nota à imprensa.

Servidores que descumprirem as regras poderão responder por improbidade administrativa, sofrendo sanções judiciais, como a perda dos cargos, e ainda serem investigados pela Polícia Civil.

Em Jupi, 136 unidades da vacina contra a covid-19, para as duas doses de 68 profissionais de saúde que atuam no município, foram entregues ontem pela Secretaria Estadual de Saúde. A quantidade só dará para vacinar um terço dos profissionais de saúde. Mesmo assim, como indicam as imagens, algumas pessoas podem ter burlado as regras. O caso chamou a atenção da promotora de Justiça da cidade, Adna Vasconcelos. "Vamos oficiar a Secretaria Municipal de Saúde para prestar esclarecimentos, bem como os profissionais de saúde que realizaram o procedimento, além da delegacia local para apurar conduta penal acerca do caso."

Além das imagens do fotógrafo, outro vídeo mostra a secretária de Saúde de Jupi, Maria Nadir Ferro, sendo vacinada. O MPPE vai apurar se ela faz parte do grupo prioritário, que nesse momento é formado por profissionais de saúde que atendem pacientes com covid-19. Caso não seja, ela e o fotógrafo, como servidores públicos, poderão responder também por abuso de autoridade. "É um privilégio que não é previsto por lei", disse a promotora. A Delegacia de Jupi já investiga o caso.

Ao site da Rádio Jornal, o fotógrafo, que se identifica como Guilherme JG, disse estar arrependido. "Foi uma falta de empatia. Não terei coragem de tomar de novo", declarou, por telefone.

Após a repercussão negativa do episódio, o prefeito da cidade, Marcos Patriota (DEM) informou ao JC que tanto o fotógrafo quanto a secretária municipal de Saúde "foram afastados de seus cargos imediatamente". A gestora foi procurada, mas não atendeu as ligações. (Colaborou a repórter Bruna Oliveira)

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