Os raros casos de agravamento no quadro infeccioso e até mesmo a morte de pessoas que tomaram as duas vacinas contra a covid-19 faz pensar se há necessidade de repetir doses com o mesmo ou até outro imunizante. Em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, na manhã desta quarta-feira (16), o médico sanitarista e diretor adjunto da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), Jarbas Barbosa, esclareceu que ainda não há recomendações para isso, mas que estudos que pretendem responder tais dúvidas estão em curso.
"Por enquanto não há recomendação para repetir ou tomar outra vacina. Não sabemos ainda quanto tempo vai durar a imunidade dessa vacina, isso vem sendo estudado, tem pessoas vacinadas que todos os meses fazem exame de sangue para identificar se ainda têm anticorpos ou não", disse o especialista.
Dados do Ministério da Saúde obtidos pela CNN em maio mostravam o registro de uma morte a cada 25 mil pessoas que tomaram as duas doses do imunizante, o que equivale a 0,004% dos vacinados. O médico explicou que "nenhuma vacina, não só de covid-19, tem 100% de eficácia", mas que reduzem, em muito, a chance de infecção e do desenvolvimento de quadros mais sério, e que tais exceções não tiram a importância da imunização para barrar a disseminação do novo coronavírus pelo mundo.
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"A Inglaterra divulgou há poucas semanas que as duas vacinas usadas lá, - entre elas, a Astrazeneca, também usada no Brasil - reduzem a mortalidade em 80%. Mas tem pessoas que tomam a vacina e não desenvolvem a proteção necessária. Nos mais velhos, esse fenômeno é ainda maior, porque a idade naturalmente compromete o sistema imunológico", disse.
"Ter 80% de redução na mortalidade é um resultado excelente. Mas tem, sim, pessoas que vão tomar as duas vacinas e vão ter a forma grave e morrer. Por isso, a gente recomenda que quem tomou as duas vacinas não deixe as medidas de proteção. Quando você toma essa vacina, não sabe se estará no grupo dos que estarão completamente protegidos, ou no pequeno grupo dos que não estarão", completou.
O diretor da Opas ainda disse que nem mesmo testes de anticorpos podem determinar se o vacinado desenvolveu uma imunidade suficiente para largar as medidas de proteção. "Esses testes têm uma capacidade limitada em indicar exatamente como está seu sistema imunológico. Apenas exames mais sofisticados, feitos em laboratórios conseguem dizer se você está protegido."
Tire outras dúvidas
Quando será a hora de vacinar crianças e adolescentes?
"A prioridade é completar a vacinação em adultos, porque ainda tem muita gente que não foi vacinada. A cobertura com duas doses na população brasileira ainda é pouco acima de 10%, tem muita gente para vacinar antes de se pensar em crianças. Claro que as que têm alguma comorbidade que facilite o aparecimento de formas graves fazem parte de um grupo especial que precisa ser vacinado quando houver vacinas que possam ser utilizadas em crianças. Os Estados Unidos já têm. Quando houver no Brasil, primeiro devem ser vacinados os quadros que justifiquem maior vulnerabilidade para desenvolver formas graves. A prioridade é salvar vidas."
O que poderia ser feito pelos países que ainda não começaram a vacinação?
"Na região das Américas, o único país que não começou a vacinar foi o Haiti. Há países do caribe com 20 a 25% da população vacinada. O Haiti vive uma situação muito complexa de crises políticas, e mesmo sendo um dos 10 países que recebem vacina de graça pelo COVAX, não conseguimos convencer o governo que ele deveria usar a vacina da Astrazeneca, que era a que estava disponível. Com o recente aumento de casos que começou a ocorrer, o governo decidiu que vai utilizar a vacina. Estamos junto ao mecanismo COVAX buscando as doses para o Haiti."