Certamente muitas famílias passaram a ouvir falar sobre Round 6, da Netflix, esta semana, depois que o conteúdo da série viralizou nos grupos de WhatsApp. No Google Trends, o termo Round 6 tem alta em buscas no Brasil. Muitos pais de crianças e adolescentes estão preocupados com o teor desta produção sul-coreana, que é primeiro lugar do ranking em 90 países. A apreensão tem fundamento: Round 6, que tem classificação indicativa de 16 anos, tem sido vista por crianças mais novas, que se sentem atraídas pela estética inspirada em animes. A questão é que os pequenos não devem ser expostos a conteúdos inadequados de entretenimento, o que pode impactar negativamente no desenvolvimento ao longo da infância e da adolescência.
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Segundo a sinopse, a série traz jogadores falidos que aceitam um convite para um jogo de sobrevivência, e um prêmio milionário aguarda os participantes, mas as apostas são altas e mortais. Com isso, Round 6 traz cenas e temáticas de assassinato, tortura, tráfico de órgãos e suicídio. E impactante é que tudo isso vem em brincadeiras infantis (“batatinha frita 1,2,3”, cabo de guerra e bolinha de gude), em que os perdedores dos desafios morrem com muito tiro.
Assista ao trailer:
A psiquiatra da infância e da adolescência Carolina Rolim explica que séries que trazem conteúdos de violência e suicídio, por exemplo, podem disparar gatilhos emocionais - uma resposta mental que envolve emoções, pensamentos e comportamentos que podem ser negativos. Ou seja, diante de cenas como as da série, crianças e jovens podem reagir de forma mais exaltada ao que tem visto. "Para quem está vulnerável emocionalmente, essas cenas causam um impacto mais intenso e tendem a ser um gatilho significativo", diz Carolina.
A médica recomenda aos pais que façam a supervisão de tudo o que os filhos, até o final da adolescência, acessam. "Eu não costumo impor, aos pais, o que eles devem recomendar ou não para as crianças. Cada família tem uma forma de pensar. O que eu apresento são as recomendações trazidas pela ciência e o impacto que cada atitude pode gerar. A partir daí, as famílias conversam com suas crianças. "Mas uma coisa é certa: se a classificação indicativa é 16 anos, por que crianças e adolescentes menores vão ver? É um conteúdo claramente impróprio para eles", acrescenta Carolina.
Orientações da pediatria
Este ano a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou o documento #Sem Abusos #Mais Saúde, em que ressalta alertas sobre a importância moral e legal da mediação parental durante todo o período de crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes, num momento em que as plataformas de internet vão assumindo um papel preponderante, pelo uso constante e alastrado em todas as idades, porém nunca substitutivo em tempo e conteúdo do contato humano amoroso, cuidadoso e responsável.
"A linha que separa o mundo real do mundo virtual/digital está ficando cada vez mais tênue e sutil, com a profusão dos estímulos visuais, auditivos, luminosos, movimentos acelerados no deslizar do toque de teclados ou deslizar dos dedos nos celulares influenciando respostas emocionais tanto positivas como negativas. Os métodos de persuasão, usados nas telas e aplicativos, impactam a curiosidade, o consumo das telas e o estabelecimento dos padrões e hábitos digitais, influenciando o uso precoce, excessivo e prolongado, por mera curiosidade e impulsividade ou ainda, pela falta de discernimento, autorregulação e autocontrole", diz o documento da SBP.
A entidade orienta que os pediatras, durante as consultas, avaliem também os hábitos da família em relação ao uso das tecnologias e como as telas estão inseridas nas rotinas, além de questionarem sobre limites de segurança e privacidade.