O tratamento com uma nova dosagem de semaglutida (ou Ozempic, nome fantasia), medicamento injetável para controlar a diabetes, levou a uma redução de até 15% do peso corporal de pacientes com sobrepeso e obesidade, ao longo de um ano e meio. É o que mostrou o resultado de um estudo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine.
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Em bula, a semaglutida é indicada para uso associado à dieta e a exercícios no tratamento de adultos com diabetes tipo 2 não controlada. A medicação ainda não foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) especificamente para emagrecer, em pacientes que não têm diabetes. Na prática, os endocrinologistas têm prescrito (regime sem estar na bula) a semaglutida também para tratar pacientes com sobrepeso ou obesidade - uma doença crônica que abre portas para vários outros problemas, como pressão alta, diabetes, colesterol e triglicérides altos, gordura no fígado, doenças cardíacas, apneia do sono e câncer.
"O semaglutida tem ação semanal. Ou seja, é aplicado uma vez por semana. Há estudos com ele voltados para o tratamento da obesidade, e a agência de saúde americana, FDA (do inglês Food and Drug Administration), liberou para o tratamento desse excesso de peso. Mas ainda não foi colocada essa indicação em bula", diz a endocrinologista Lúcia Cordeiro, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-PE). O assunto será discutido durante o congresso médico EndoRecife 2021, que acontece entre os dias 13 e 16 de outubro.
Segundo Lúcia, a semaglutida, para o tratamento do excesso de peso, deve ser usada somente com acompanhamento médico. "É indicada para quem tem índice de massa corpórea (IMC) entre 28 e obesidade grave. O pico de perda é de 15% do peso inicial. A dose para o excesso de peso é maior do que para os pacientes com diabetes, e essa indicação precisa ser feita pelo médico", esclarece Lúcia, ao orientar que as pessoas não devem fazer uso de semaglutida por conta própria.
Por que a semaglutida (ou Ozempic, nome fantasia) ajuda a perder peso?
Segundo Lúcia Cordeiro, a semaglutida atua no sistema nervoso central (SNC), numa área responsável pela saciedade. "Com isso, a medicação reduz o esvaziamento do estômago e melhora a sensibilidade à insulina, o que ajuda na perda de peso. Mas, dessa maneira, o medicamento também tem seus efeitos adversos, como empachamento, refluxo, diarreia ou constipação intestinal. Mas tudo isso é possível de ser controlado, fazendo o escalonamento de dose (inicia com uma dosagem e aumenta aos poucos)", frisa a endocrinologista. Ela acrescenta que esses efeitos adversos são mais comuns nos primeiros 15 dias e, passado esse período, os sintomas melhoram.
A semaglutida, segundo Lúcia, vem se consolidando, cada vez mais, como tratamento da diabetes, obesidade e síndrome metabólica. "A classe de medicação da qual a semaglutida faz parte tem ação na prevenção da mortalidade por doença cardiovascular, pois o medicamento diminui a aterosclerose, que é o fenômeno que obstrui as artérias. Além disso, a semaglutida retarda o desenvolvimento de doença renal nas pessoas com diabetes."
Outro ponto a se destacar é que a semaglutida é uma medicação de alto custo. Nas farmácias, o preço varia entre R$ 700 e R$ 900. Para o próximo ano, a expectativa é que seja lançada a versão da semaglutida em comprimidos no Brasil.