Hotéis de Pernambuco perto de fechar as portas por causa do novo coronavírus

Com o regime de restrição social, o turismo, que tem o deslocamento e interação entre pessoas como princípio, deixa de fazer sentido
Mona Lisa Dourado
Publicado em 23/03/2020 às 13:56
Porto de Galinhas ficou deserta depois da interdição das praias Foto: DIVULGAÇÃO


Bastou uma semana para a realidade mudar em looping. Na segunda (17), o Convention & Visitors Bureau de Porto de Galinhas demonstrava cautela com o novo coronavírus, alegando que poucas reservas haviam sido canceladas até então. Havia, inclusive, um certo otimismo com as vendas realizadas durante a Semana do Consumidor.

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DIVULGAÇÃO - Porto de Galinhas ficou deserta depois da interdição das praias

No fim de semana, o destino já estava deserto, ainda mais depois que a Prefeitura de Ipojuca determinou a interdição completa das praias.

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DIVULGAÇÃO - Porto de Galinhas ficou deserta depois da interdição das praias

De acordo com a Associação de Hotéis de Porto de Galinhas, hoje (23) a ocupação se encontra entre 10% e 20% no principal destino turístico do Estado, que conta com 16 hotéis e mais de dois mil leitos, considerando pousadas, albergues e flats. Estima-se que cerca de 40 mil pessoas trabalham direta ou indiretamente com o turismo em Porto.

"Os turistas estão remarcando os seus retornos, mas até lá não deixaremos ninguém desabrigado em qualquer situação " - diz a entidade, em nota

ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM - Vista aérea de Porto de Galinhas

Em todo o Estado, segundo a seção local da Associação Brasileira da Industria de Hotéis (ABIH-PE), novos check-in são realizados apenas por quem, por acaso, está em trânsito no interior. Até porque, em todo o País, operadoras e agências de viagens paralisaram as vendas, depois que as companhias aéreas também restringiram os voos nacionais e internacionais. 

A entidade reforça que todas as medidas de higienização estão sendo tomadas nos empreendimentos e que os hóspedes continuarão recebendo todo o apoio até conseguirem retornar em segurança aos seus destinos de origem. Inclusive porque são obrigados a fazê-lo pelo Código de Defesa do Consumidor.

A ABIH tem 87 hotéis associados no Estado (metade deles de pequeno porte, com menos de 50 apartamentos), que empregam cerca de 15 mil trabalhadores.

TURISMO SEM SENTIDO COM NOVO CORONAVÍRUS

Com o regime de restrição social, o turismo, que tem o deslocamento e interação entre pessoas como princípio, deixa de fazer sentido.

A média de ocupação atual na rede hoteleira de Pernambuco é de 5% a 7%, praticamente turistas que ainda não conseguiram antecipar passagens para voltar pra casa.

MONA LISA DOURADO/JC - Em pequenos e médios hotéis, como o Navegantes, funcionários terão férias coletivas

Caso dos comerciantes cariocas Rute da Silva e João Guedes, ambos de 54 anos. O casal chegou ao Recife na terça (18). Como não pôde cancelar o pacote, decidiu vir assim mesmo. “Agora, tudo o que queremos e ir embora. Esta tudo fechado”, diz Rute.

Com a partida dos hóspedes, cedo ou tarde, será inevitável fechar as portas. A exceção são os hotéis que também contam com flats. Nestes, será impossível paralisar completamente as operações, porque parte deles está ocupada pelos proprietários que utilizam as unidades como segunda residência, onde preferiram passar o período da quarentena.

No bairro de Boa Viagem, que concentra a maior parte dos hotéis do Recife, o cenário em algumas unidades de pequeno e médio porte já era de suspensão de atividades na última semana. Alguns esperavam a saída dos últimos hóspedes, enquanto outros já haviam anunciado férias coletivas aos funcionários. 

Em âmbito nacional, as cerca de 650 unidades das grandes redes hoteleiras já preveem o encerramento das operações a partir da próxima semana, segundo o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb).

RESORTS SALINAS FECHADOS

No Estado vizinho de Alagoas, os Resorts Salinas de Maceió e Maragogi anunciaram na tarde desta segunda (23) a suspensão das atividades por 90 dias, entre 1o. de abril e 29 de junho de 2020. Reservas poderão ser reagendadas sem custo até 2021 e, para quem optar pelo cancelamento, o reeembolso será feito em até 30 dias após a data prevista do check-in.  

Dados do setor apontam que, em geral, os custos fixos de um hotel só são cobertos quando as taxas de ocupação ficam em torno de 60%.

Se num primeiro momento o setor em Pernambuco sentiu alívio de escapar do decreto estadual impondo restrições, agora tudo o que a hotelaria parece desejar e ser obrigada a suspender atividades, para evitar despesas que começam a ficar insustentáveis.

DEMANDAS PARA ENFRENTAR COVID-19

Para atravessar a crise do novo coronavírus, tentar minimizar os prejuízos e preservar os empregos, a ABIH-PE e outras entidades levarão uma série de demandas comuns ao setor à reunião do trade turístico estadual com a Secretaria de Finanças de Pernambuco, logo mais, às 15h desta segunda-feira (23).

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Entre os pleitos, estão redução de 60% na tarifa total (água e esgoto) da Compesa, com carência de 120 dias, e pagamento em 10 vezes sem juros; redução de 60% na alíquota do ICMS em todos os regimes (especial e normal) e prorrogação dos vencimentos do tributo por 120 dias; redução de 60% na tarifa da Copergás, com retirada total de ICMS na conta por 120 dias; carência de 120 dias em qualquer taxa estadual; isenção de ICMS na Celpe por 120 dias; retirada da substituição tributária para qualquer opção de regime (especial ou normal) por 120 dias; e apoio para as negociações junto à NeoEnergia.

APELO POR REMARCAÇÃO

O trade também solicita que regras já válidas para companhias aéreas sejam estendidas a todo o setor. A Medida Provisória nº 925, publicada no Diário Oficial da União na quinta-feira (19), possibilitou o reembolso do valor de passagens aéreas em 12 meses. Por outro lado, os consumidores que aceitarem crédito para utilização no prazo de 12 meses, contado da data da viagem, ficarão isentos de taxas e penalidades previstas nas normas da tarifa contratada.

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