TELEVISÃO

A TV Globo está falindo? Saída de Grazi, Silvio de Abreu e Lázaro Ramos indica mudanças no mercado

Sem concorrência há décadas, Globo enfrenta Netflix, HBO e Amazon Prime Video

Cadastrado por

Bruno Vinicius

Publicado em 04/11/2021 às 16:07 | Atualizado em 29/11/2021 às 15:23
Grazi Massafera (Foto: Reprodução/Instagram) - Grazi Massafera (Foto: Reprodução/Instagram)

Reportagem atualizada no dia 29 de novembro de 2021*

A televisão está mudando. E o avanço do streaming em território brasileiro nos últimos anos acelerou esse processo, impactando diretamente o mercado audiovisual como um todo. Se antes a TV Globo pouco sentia a concorrência das outras emissoras, onde já liderava os números de audiência há décadas, agora concorre em um nicho disputado pela Netflix, Amazon Prime Video, HBO Max e Disney Plus - as maiores plataformas no País. Isso significa que a Globo está falindo?

>> Francisco José e Renato Machado são demitidos da TV Globo, diz site

Esse seria o primeiro questionamento, tornando-se quase um senso comum, a partir da saída em massa de artistas e diretores do grupo carioca. A mais recente, a atriz Grazi Massafera, liga esse alerta, já que é ligada a uma transformação dos produtos tradicionais brasileiros, que tem como forte a telenovela. Especula-se que a artista estaria disputada pela Netflix e pela HBO Max. A primeira quer fazer a primeira novela da plataforma, enquanto segunda está montando um novo núcleo de teledramaturgia com o mesmo foco.

Agora, o jornalista Francisco José também está fora da casa. De acordo com o Notícias da TV, a emissora também não renovou seu vínculo com o repórter Fernando Machado. Ambos tinham mais de 4 décadas de casas e atuavam no Globo Repórter. Na semana passada, a Isabela Assumpção foi demitida depois de 41 anos na Globo.

Aposta em novelas

A HBO Max tem como recém-contratados Silvio de Abreu e Monica Albuquerque. O autor de novelas havia sido desligado da TV Globo há quase um ano, quando também houve o desligamento de Albuquerque - atual header de talentos artísticos do HBO Max. Juntos, formarão um núcleo de desenvolvimento de telesséries. O formato seria semelhante ao de novelas, mas limitado a 50 capítulos e com a estética de séries.

Já a Netflix não tem um plano tão exposto quanto o grupo da WarnerMedia, mas tem demonstrado interesse em crescer o mercado nacional. As contratações de Bruna Marquezine, Bruno Gagliasso e até a suposta chegada de Grazi indicam que a plataforma quer investir nas novelas. Segundo reportagem do Uol, a primeira produção seria um remake do sucesso "Dona Beija", novela protagonizada por Maitê Proença na extinta TV Manchete.

Contrato

Especulações à parte, a maioria dos "globais" está assinando com as plataformas de streaming. Mas não como antes. Ter o status de "global" garantia que artistas, roteiristas e diretores assinassem com exclusividade com a Globo. Isso permitia que o casting ganhasse um bom salário, mesmo sem produzir, mas ao mesmo tempo não poderia produzir para outros canais que não fossem associados ao Grupo Globo, que tinha uma presença massiva nos canais fechados.

De fato, fechar contrato fora da TV Globo até cinco anos atrás - quando o streaming ainda estava se estabelecendo no País - não garantia uma visibilidade. A emissora somava quase a audiência total das concorrentes, além de suas produções serem premiadas e vendidas para o mundo todo. 

Agora, com as negociações do streaming, os atores podem explorar a liberdade criativa e também ganhar visibilidade. O alcance de uma Netflix, que está presente em 90 países, é muito maior que o da emissora carioca - que tem um nicho restrito. Além disso, alguns conseguiram alçar a carreira internacional, como o ator Marco Pigossi, interpretando em inglês, espanhol e português para a plataforma.

Papel da Globo

Mesmo com o avanço da Netflix e Amazon Prime Video - as primeiras a investir forte no mercado nacional -, nenhum produto dessas plataformas causaram tanto impacto quanto os produtos veiculados na Globo. Só o "BBB 21", maior reality show da emissora, conseguiu reunir 172,4 milhões de tuítes espontâneos durante a temporada. Números semelhantes só a grandes eventos como o Super Bowl, Copa do Mundo e Olimpíadas.

Isso se deve a um grande valor de marca que a emissora tem. E, ainda, há de se contar a abrangência da televisão. Segundo dados do IBGE, 46 milhões de brasileiros não têm acesso à internet, o que mostra uma dificuldade também desse tipo de expansão de mercado. Enquanto isso, o mesmo censo aponta que 2,3% dos lares do Brasil não têm televisão.

Apesar disso, a queda na audiência e na renda publicitária é evidente durante a pandemia. E a emissora tem notado. Isso pode ser visto nos investimentos no Globoplay, plataforma de streaming da Globo, que estreou em 2015. Com a aposta, o grupo viu seu crescimento em 42% no último trimestre, puxado pelos produtos originais, além do "Big Brother Brasil 21".

"Verdades Secretas 2", primeira novela do streaming brasileiro, bateu recorde de programa mais visto dentro do site. Foram quase consumidas 2 milhões de horas um dia após a estreia da novela, que foi disponibilizada em 10 capítulos iniciais. 

Em número de assinantes, o Globoplay também supera a Netflix, de acordo com últimos dados. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) fez uma pesquisa, divulgada em outubro de 2020, que mostra a plataforma do Grupo Globo com mais de 20 milhões assinantes contra os 17 milhões da plataforma americana.

Retorno para a TV

O que nos indica a partir desses números é que a emissora quer mudar de nicho, aproveitando a presença da marca e a ligação com os brasileiros que as plataformas de streaming não têm. E significa também que, pela primeira vez após o domínio das mídias de massa, a emissora se sente ameaçada por algum concorrente. E isso significa também um desprendimento de um investimento massivo para a televisão, que agora divide as atenções para o streaming.

O mercado também sente um impacto. Com a chegada das plataformas, também uma oxigenação no audiovisual brasileiro. Talentos, como o de Lázaro Ramos, poderão mostrar suas ideias e também sua própria diversidade no streaming. Em um país majoritariamente negro, até pouco tempo não havia protagonistas pretos nas principais novelas: nos últimos 10 anos, apenas Camila Pitanga e Taís Araujo assumiram esses postos nas novelas das 9.

Isso serviu de reflexo para a própria Globo: mais roteiristas, mais diretores e diretoras e atrizes negras estão produzindo e tomando decisões na casa. Uma decisão que a própria emissora deveria ter tomado desde a fundação, quando talentos como Ruth de Souza e Zezé Motta, por exemplo, poderiam ter o mesmo prestígio que tinham no cinema e na televisão.

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