Carnaval exige tempo e planejamento. Se hoje fosse um período normal, os preparativos para a festa já estariam sendo feitos neste fim de ano - a três meses da festividade. Com um futuro incerto por causa da pandemia, o Estado e as prefeituras do Recife e Olinda ainda não tomaram uma decisão concreta sobre a realização da Festa do Momo em fevereiro.
Artistas, blocos e outras agremiações também estão à espera de uma resposta, já que oficialmente as secretarias de saúde esperarão um avanço na vacinação e uma queda no número de casos para a realização da festa na rua. Entre a classe artística e os realizadores da festividade momesca, há uma divergência: enquanto alguns são mais cautelosos, outros acreditam que o Carnaval pode ser realizado em três meses.
No Galo da Madrugada, que anunciou nesta quarta-feira (24) a sua programação, o cenário é otimista. O presidente da agremiação, Rômulo Meneses, acredita que a festa poderá ser realizada. "Estamos trabalhando como se tivesse ter o Galo. Fizemos a camisa, estamos contratando tudo. Não temos a certeza, mas também não trabalhamos com a incerteza. Temos 95% da certeza que vai ter Carnaval. Acreditamos no trabalho do governo, nas secretarias da saúde e no resultado que vem sendo apresentado (diminuição de casos e avanço das vacinas)", disse Rômulo numa coletiva de imprensa.
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O presidente do Galo chegou a cogitar um Carnaval com máscaras, acreditando que a população poderá obedecer as regras sanitárias. "Eu me sinto seguro (em fazer Carnaval) assim como eu vejo milhares de pessoas indo trabalhar todos os dias, de ver milhares de pessoas indo às praias nos finais de semana e milhares de crianças e adultos indo estudar todos os dias. Por que não fazer um Carnaval com todo mundo usando máscara? Pessoal é disciplinado, se disser: 'Faz um carnaval usando máscara, todo mundo vai usar máscara'", complementou Rômulo.
Para o Homem da Meia-Noite, a proposta de um Carnaval vai depender das autoridades sanitárias. O calunga completa 90 anos em 2022, mas está cauteloso em relação aos avanços da doença e o posicionamento das secretarias.
"Acompanhando a evolução da vacinação contra a covid-19, a publicação de dados oficiais da pandemia, assim como respostas e posicionamento oficiais das autoridades sanitárias. Sabemos que temos muito a avançar; o momento ainda exige equilíbrio, coerência, cuidado e respeito, mas de alguma forma estaremos juntos nestes 90 anos do Calunga. Faltam 3 meses para o dia 26 de fevereiro de 2022, na incerteza que o tempo trás, vamos seguir em frente dentro do que for possível", disse o presidente da agremiação, Luiz Adolpho, no anúncio do tema do próximo ano.
Procurado novamente pela reportagem do JC, o bloco continua com o mesmo posicionamento do último pronunciamento. Em Olinda, a prefeitura ainda não tomou uma decisão, apesar de ter aberto licitação para o Carnaval. "Como o Carnaval é fevereiro, já estamos construindo tudo que é preciso, startando os processos de licitação e começamos a correr atrás dos patrocinadores", disse Lupércio, no programa Passando a Limpo, na Rádio Jornal.
O que diz a classe artística?
Quando perguntado aos artistas que compõem o ciclo carnavalesco, todos são muito enfáticos: tem que ter reforço na vacinação. O cantor André Rio, um dos principais nomes da tradição pernambucana, enfatiza que os artistas devem reforçar a campanha da vacinação.
"A gente tem que fazer campanhas. Todos nós temos que nos empenhar para levar o máximo de pessoas para se vacinar. A gente tem que estar nas nossas redes sociais, fazendo campanha, para que aumente o número de vacinados com a segunda dose e a dose de reforço. Isso que vai fazer que a folia seja segura e que a gente possa colocar nossos blocos nas ruas", disse o cantor.
André Rio, embora tenha cuidado ao falar sobre a realização das festas, também reitera que deve ter estratégias para segurar a classe artística, paralisada há dois anos por causa da crise sanitária. "Acho que a gente tem que fazer debates e fóruns com o poder público e a iniciativa privada para minimizar essas perdas e tenha um carnaval seguro. Se não puder ser na rua, mas que seja nos clubes ou em lugares mais fechados", argumenta André.
A cantora e instrumentista Bia Villa Chan também deseja que o Carnaval seja realizado, desde que haja um incentivo à vacinação massa. "Como boa pernambucana, eu quero sim que tenha Carnaval em 2022. Agora, poder, só se a gente continuar avançando na vacinação contra a covid. Terminar o ciclo vacinal da primeira, segunda e terceira dose para quem pode tomá-la. E incentivar outras pessoas a tomar também. Só assim, quando chegar mais próximo da festa, as autoridades em saúde vão dizer se é possível ou não ter Carnaval", conta a artista.
um dos pontos que a artista traz tem sido discutido nos últimos dias: vale fazer apenas festas privadas? Para Bia, isso descaracteriza a tradição democrática pernambucana, além da falta de incentivos dessas festas aos artistas locais. "Nas grades artísticas desses carnavais, os artistas pernambucanos não são contemplados. Vale a pena ter carnaval pela metade? Não vale! Carnaval só completo", argumenta.
Em entrevista à Radio Jornal, Almir Rouche declarou que é cedo para definir os rumos das festividades. "Eu penso que é muito cedo para começar a discutir isso. Mas já que botaram em pauta, eu acho que se tivermos segurança sanitária, se o ministério da saúde junto com as secretarias estaduais e municipais se sentirem seguras para fazer o carnaval, se tiver 90% e 100% da população vacinada. Eu, particularmente, já vou tomar minha terceira dose, eu penso que assim a gente deva ter um carnaval para o povo", explicou o cantor.