Após realizar sua primeira edição online no ano passado, como uma espécie de teatro filmado, o Baile do Menino Deus aprofunda a sua experiência audiovisual para 2021, quando completa 18 anos de realização no Recife. A inovação, mais uma vez, se dá pela pandemia. Ao invés da reprodução do tradicional palco do Marco Zero, a câmera agora percorre vários pontos históricos do Recife, mesclando a magia do natal com a aura poética da capital.
A edição ainda ganhou dois ilustres solistas: a rainha da ciranda Lia de Itamaracá e o paraibano Chico César. A transmissão será realizada no site oficial do evento e no canal do YouTube a partir de 23 de dezembro, às 20h. Em seu formato presencial, o Baile costuma reunir 70 mil pessoas.
A direção geral continua sendo de Ronaldo Correia de Brito, com produção de Carla Valença, da Relicário - uma parceria que já dura 18 anos. No âmbito do audiovisual, a direção foi da cineasta pernambucana Tuca Siqueira, com fotografia de Beto Martins. Silvério Pessoa (Romã Romã), Gabi da Pele Preta (cigana), Lucas dos Prazeres (anjo), Márcio Fecher (José), Isadora Melo (Maria), Flávio Leandro e Carlos Filho (participante da atual edição do The Voice) também integram o elenco do auto, que terá novos arranjos e orquestra, regida por Rafael Marques.
Contando o nascimento de Jesus a partir da narração de personagens da cultura popular nordestina, sendo um contraponto ao natal gélido da cultura anglófona, o texto do "Baile do Menino Deus" foi criado há 40 anos como parte da Trilogia das Festas Brasileiras - também composta por "Bandeira de São João" e "Arlequim de Carnaval". Pluralizando ainda mais essa noção de cultura nacional, a dramaturgia desse ano também traz elementos contemporâneos como o hip hop de Okado do Canal, que se apresenta com 16 dançarinos no Teatro de Santa Isabel.
Roteiro
No filme, José e Maria moram em Nazaré da Mata, na zona canavieira do estado, uma forma de trazer para o contexto pernambucano a tradicional Nazaré da Galiléia palestina. A mãe do menino Deus sonha em cursar uma faculdade, enquanto José trabalha como carpinteiro na região. Casados, o casal vai ao Recife comprar enxoval. A partir daí o longa traz cenários como Rua do Sol, Rua da Aurora, Mercado de São José, entre outros. Pela noite, Maria sente as dores do parto e, ao invés do presépio, o casal se vê numa situação de rua - um contexto muito real do Centro da cidade.
"Em 2020, nós pegamos o cenário do Marco Zero e transplantamos para um espaço no Teatro Guararapes. Nosso palco tem 600 metros quadrados e conseguimos manter o esplendor. Para esse ano, nós ainda não conseguimos fazer com o Marco Zero porque o baile aglomera", diz o criador e diretor geral Ronaldo Correia de Brito. "É um evento que mobiliza o estado e virou um patrimônio da cidade, sendo um espetáculo das pessoas. Assim, decidimos manter o texto e a música em uma dramaturgia totalmente nova dentro de um roteiro de cinema".
"O grande desafio desse filme foi trazer a magia, o encantamento e o lirismo do Baile do Menino Deus para um filme, com essa proposta de transformação, de incorporação de mudança" continua. "Conseguimos construir um espetáculo com dinâmica cinematográfica. A orquestra contracena com os atores, os intérpretes com os cantores. Existe um certo tom neorrealista, lembra muito o cinema."
Magia do Recife
A produtora Carla Valença ressalta que sempre desejou realizar um Baile que explorasse mais a cidade do Recife para além do Marco Zero e que o longa acabou sendo uma oportunidade para isso. "O filme vem como uma alternativa para a pandemia, mas não deixou de ser a oportunidade para fazer um registro em filme, um baile com outra narrativa. Para além da cenografia, trazemos um certo status do Recife."
No âmbito do audiovisual, a produção do filme conta ainda com a REC, produtora recifense responsável por filmes como "Me Preparando Para Quando o Carnaval Chegar", de Marcelo Gomes, "Tatuagem", de Hilton Lacerda, entre outros. "O Baile se expandiu em cenário real reforçando o teatro enquanto território do sonho", diz a cineasta Tuca Siqueira.
"A celebração do nascimento de uma criança poderia acontecer em qualquer lugar, mas o Recife é palco para essa festa narrada pelo espetáculo há 17 anos. Essa transição de retomada após isolamento pandêmico percorre algumas ruas do centro. Acho que o Recife escolheu o Baile e numa caminhada com parte da equipe projetamos as cenas imaginadas sentindo a pulsação dos lugares escolhidos por nós. Foi assim que definimos as locações do filme e que se construiu o cenário dessa história”, finaliza a cineasta.