Vista como a linguagem menos acessível da literatura, a poesia pode ter um imenso potencial popular. Foi isso o que Bráulio Bessa sentiu com o seu quadro no "Encontro com Fátima Bernardes", na TV Globo. Suas palavras inspiraram muita gente em todo o Brasil, estimulando a criação do documentário "Poesia que Transforma", que estreia nesta quarta-feira no Globoplay. O projeto foi idealizado pela pernambucana Duda Martins em parceria com Bráulio. Ela ainda assina a direção ao lado de Chico Walcacer.
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Com cinco episódios temáticos (raízes, amor, igualdade, fé e recomeço), o documentário acompanha pessoas de dez diferentes estados que tiveram suas trajetórias transformadas a partir do momento em que suas trajetórias se cruzaram com os versos do poeta. O documentário explora temáticas atuais como racismo, homofobia, intolerância religiosa, xenofobia, entre outros.
"Eu costumo dizer que a poesia, quando o poeta quer, tem o mesmo poder de um abraço. O poder de se adaptar a qualquer pessoa e fazer bem. Independente do físico, da casca, o abraço vai sempre fazer bem a quem está dentro dele. Por isso acredito nessa transformação. Certa vez me perguntaram qual minha maior fonte de inspiração. E eu disse: 'Gente'. Eu me inspiro em gente", diz Bráulio, que é natural de Alto Santo, no interior do Ceará.
"Hoje, percebo ainda mais a força existente na palavra. Percebia isso em cartas, depoimentos, e-mails, abraços, em cada história que meus leitores me contavam, mas agora percorri geograficamente o caminho que a poesia fez e foi muito emocionante. Contar essas histórias é uma grande homenagem à poesia, à esperança, ao amor, à bondade, à sensibilidade humana", continua o poeta.
Duda Martins conheceu Bráulio nos bastidores do "Encontro", trabalhado na central de atendimento ao espectador. "Quando ele começou o quadro 'Poesia com Rapadura', eu via e pensava: 'que massa, nosso sotaque sendo representado em um espaço tão grande na mídia nacional'. Embora ele seja cearense, eu me sentia também representada. A cada apresentação dele, recebíamos uma chuva de e-mail sobre pessoas falando sobre suas próprias histórias. Ele falava de uma forma tão simples de temas tão importantes e as pessoas se surpreendiam", diz Duda Martins.
"Entendemos como tudo aquilo era muito real. Era sobre o poder da palavra, da poesia, da literatura. Como isso estava transformando a realidade das pessoas", continua. "Costumo falar que a poesia do Bráulio é muito democrática. Ele alcança todo mundo: velhos, jovens, pobres, ricos. Pessoas de todos os extratos sociais, de todas as raças. A gente percebeu isso ao ir conhecer essas pessoas e suas origens. A poesia muitas vezes é vista como rebuscada, erudita e distante da nossa realidade, mas ela é muito presente."
O documentário contou com uma equipe curadora que selecionou os personagens. Em quatro meses de gravações, o projeto passou por cidades como Juazeiro do Norte, Fortaleza, Salvador, Cuiabá, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Brasília, Manaus e mais.
Além dos depoimentos, a série também explora a própria trajetória de Bráulio, que tem uma relação afetiva com a costura, ofício de sua mãe e avó. A cada encontro, um verso bordado é deixado com o personagem, como forma de espalhar simbolicamente a poesia. As peças foram feitas à mão pela artista pernambucana Blenda Souto Maior. “Acredito que os encontros não foram sensacionalistas, nem de comoção. A história de Bráulio é a minha história, a sua história e de tanta gente do Brasil. É assim que nos conectamos com a história dele”, finaliza a diretora.