Diante da repercussão da morte Paulo Roberto Gonçalves Cavalcanti, o MC Boco, a esposa do cantor, Alynne Cristina, usou das redes sociais para desabafar e pedir que as pessoas parem de especular sobre a motivação da tragédia. Ele foi assassinato no palco de um bar em Ipojuca, Litoral Sul do Estado, na madrugada do último domingo (26). Em uma sequência de Stories publicados ainda no domingo, ela disse estar revoltada "com essa crueldade, maldade, covardia e inveja".
Alynne começa ressaltando que "teve de ter forças para entrar nesse Instagram". "E todo mundo que me segue há muito tempo sabe que sou muito reservada, apareço quando quero. Mas agora não consigo me calar. Meu coração está pior que um copo de vidro quebrado", escreveu.
A esposa de Boco pediu que as pessoas parassem de associar o assassinato com a recente prisão do cantor. "Parem de achismo ou afirmar coisas que vocês não sabem, que foi morto porque era envolvido com crime, associando a morte com a prisão dele. Ele não era traficante, bandido e muito menos envolvido com nada".
Boco foi preso em flagrante com mais três homens em junho de 2020. Eles foram encontrados 670g de pasta base de cocaína dentro de um veículo na Mustardinha, Zona Oeste do Recife. Ele foi solto em outubro desse ano. Os pedidos de relaxamento da prisão foram acatados durante uma audiência. Por conta desse histórico, especula-se que o assassinato teria ligação com o tráfico. (continua após a galeria)
A esposa rebate os boatos. "[Ele era] apenas um cantor que se dava bem com todos tipos de pessoas. Quem tivesse suas guerra que comesse! Boco era um profissional, não devia, entrava e saia em qualquer lugar! Se contatassem ele estaria ali, cumprimento com a obrigação e trabalho dele!", continua.
"Até porque, se devesse, minha gente, como que um cara iria ter uma profissão de cantor, sabendo que teria que entrar em vários locais para fazer shows? Se ele devesse, fosse envolvido [com o tráfico], como ele iria cantar em um local como Serrambi, sabendo que iria ser morto?", questiona Alynne.
"Foi uma covardia, a verdade foi essa! A capacidade do ser humano, aliás, não sei se posso chamar de ser humano, subir em um palco para tirar a vida de um artista (pai, esposo, filho) que chegou na casa de show e ficou nada menos esperando de boa seu horário de tocar. Atirar friamente, enquanto ele cantava? Isso é uma revolta".
Ela continua reforçando que é necessário aguardar as investigações. "As pessoas não sabem de nada. Absolutamente nada. Nessas poucas palavras que foram ditas acho que ficou claro que meu marido foi assassinado friamente, por ser esse cara que ele sempre era. Sabia chegar e sair dos lugares, conhecia pessoas de A a Z, se fulano tem guerra com ciclano o que Boco tinha a ver com isso?", questiona.
Ela dá um exemplo da pacificidade do marido: "Todo mundo sabe que ele era louco pela Torcida Jovem, mas ele tinha amizades de várias torcidas e nunca teve rivalidade com ninguém", escreveu. "Ele era cantor, artista, fazia o trabalho dele! Não merecia isso! Que a justiça de Deus seja feita", finaliza. A motivação do homicídio ainda é investigada. A polícia não divulgou informações sobre os suspeitos.
Boco e Alynne estavam casados há cinco anos e tinham uma filha de 2 anos. O cantor tabé tinha outros três filhos.
Pioneiro do brega-funk
MC Boco, ao lado de MC Sheldon, foi uma figura essencial para o desdobramento do brega-funk enquanto expressão cultural massiva em Pernambuco - tornando a historiografia do gênero quase como uma biografia sua.
O cantor pernambucano nasceu com o nome Paulo Roberto Gonçalves Cavalcanti, mas fez trajetória artística sob o nome de Boco. Construiu a história artística ao lado de MC Sheldon, a partir de 2007, dando início ao movimento brega-funk. Uma cultura que foi fortalecida junto aos pioneiros MC Leozinho do Recife, Troinha, Shevchenko e Elloco e a dupla Metal e Cego.