Depois de um longo período longe dos palcos pernambucanos, executando projetos interativos virtuais, o Grupo Magiluth segue até o fim de semana com o espetáculo "Estudo Nº1: Morte e Vida". O grupo propõe um estudo cênico a partir do poema dramático Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, que mergulha na trajetória de imigrantes que deixam o sertão nordestino e seguem o caminho do rio, em busca de melhores condições de vida e trabalho. A peça segue com apresentações nesta sexta-feira (18) e sábado (19), a partir das 20h, e domingo, a partir das 19h.
O espetáculo, em curta temporada, volta para observar os movimentos migratórios gerados por adversidades climáticas, políticas e sociais. Um cenário que não é distinto da época em que o texto de João Cabral foi publicado. "Quando a gente começou a fazer esse trabalho, a gente não tinha a intenção de fazer uma adaptação do texto original. O que a gente tinha como ideia era montar o Morte e Vida Severina, de fato, como uma montagem de rua. Acontece que, durante o próprio processo, a gene começou a entender que havia questões dentro do texto que estavam acontecendo hoje. Que acontecem desde a época de João Cabral relata isso nessa peça, com algumas pequenas mudanças ou quase do mesmo, as coisas continuam se repetindo", explica o ator e dramaturgo Giordano Castro.
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Segundo Giordano, o texto que foi escrito entre 1954 e 1955, é um clássico devido as questões que são contemporâneas. "As questões que ele fala em relação à precarização do trabalho, a luta pela terra, a busca de algo melhor e a gente continua nisso. A gente continua saindo dos nossos territórios em busca de outros lugares. É isso que faz a obra um clássico. Um clássico se torna a partir da possibilidade que ela tem de falar com um outro tempo, de continuar comunicando, trazendo reflexões e implicações com um outro tempo. É disso que faz esse trabalho ser relevante e uma obra clássica. ALÉM disso, a própria poesia de João Cabral é muito bonita".
Pandemia e paralisação
A montagem original estava prevista para acontecer em 2020, mas foi paralisado por causa da pandemia. Ele acredita que isso tenha influenciado no processo até chegar ao resultado que está sendo apresentado ao público. O espetáculo tem direção de Luiz Fernando Marques, o Lubi – parceiro do grupo desde 2012, e também do ator e diretor Rodrigo Mercadante, experiente em trabalhos cênicos a partir da poesia.
"Esse trabalho acabou ganhando uma característica por causa disso. A gente tinha um trabalho para 2020 e foi suspenso na reta final. Depois que a gente voltava para o trabalho, questões do texto tanto quanto do próprio trabalho, a gente já estava em outros conflitos e outras coisas estavam atravessando a gente. Acho que o Estudo Nº 1 traz as marcas desse tempo, desses anos, desse processo que começou e voltou. Essas características estão explícitas não só nas questões do trabalho, como também nas questões estéticas. A própria poética do trabalho trouxe isso, essas várias retomadas que a gente teve e as pesquisas que fizemos", conta Giordano.
"Acho que tem uma relação de virtualidade e de internet no trabalho, que talvez seja uma marca realmente muito forte desse momento em que vivemos. Mas, de fato, é um trabalho de palco. Era isso que estávamos com saudade, é isso que a gente estava querendo. Depois que a gente voltou a fazer espetáculos no teatro ficou muito nítido que era isso que move nossos corações. É um trabalho de teatro. E que bom que estamos voltando. E queremos muito que as pessoas voltem conosco.
SERVIÇO
Estudo Nº 1 - Morte e Vida
Teatro Apolo
Quinta, sexta, sábado às 20h
Domingo às 19h
Ingressos: R$ 40 e R$ 20