Quem visitar a Galeria Janete Costa, na Zona Sul do Recife, a partir deste sábado (19), pode estranhar o que vai encontrar logo nas portas de acesso. O nome "Hotel Solidão" dá boas-vindas ao transeunte, sem cartaz que deixe claro o título da exposição ou nome do artista. "A proposta é criar essa confusão", explica o escultor e artista visual Marcelo Silveira, idealizador da mostra homônima que fica em cartaz até 29 de maio, com visitação das quartas aos domingos, das 15h às 19h.
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Natural de Gravatá, no Agreste de Pernambuco, Silveira é internacionalmente conhecido por explorar características físicas dos materiais com os quais trabalha, investigando e revelando possibilidades pouco pensadas em relação a cada um deles. O "Hotel Solidão" até tem elementos que lembram um hotel, mas é, na verdade, uma metáfora para o processo criativo e para tudo aquilo que é esquecido.
O visitante poderá encontrar, por exemplo, a obra "Nas Colunas de Plínio", que usa de pequenas peças de azulejo para quinas de piscina, muito usadas nos anos 1960. Elas se transformam em blocos que remetem à arquitetura clássica.
Já a obra "Open" utiliza pedaços de um closet para formar uma espécie de confessionário que trabalha a entrada da luz. Outro conjunto é composto por portas giratórias, montadas a partir de portas persianas. Ainda existe uma sequência de bandeiras desse hotel imaginário.
Talvez o grande destaque seja o conjunto de colagens produzidas a partir de uma revista “Grand Hotel - A Mágica Revista do Amor”, publicada com ilustrações italianas entre 1947 e 1955. Essas mesmas colagens estão expostas em Nova York, na filial da Galeria Nara Roesler da “Big Apple”. Foi justamente essa revista que deu o pontapé à mostra.
"Existem estopins e elementos motivadores para os trabalhos. Nesse caso, foi a revista Grand Hotel, que me surpreendeu com impressões fantásticas. Essa revista foi produzida num período pós-guerra e mostrava coisas que não estavam acontecendo, diante de um esforço do mundo em se recuperar das destruições", explica Marcelo Silveira, ao JC.
"Eu optei por pegar imagens das capas e das contracapas. Apareciam muitos casais, com cenas bastante dramáticas, que trazem um amor inalcançável", continua. As imagens aparecem recortadas, montadas com tom abstrato, mas ainda assim imprimindo um certo tom retrô.
"A matéria principal de todo o meu trabalho é trabalhar com o que foi esquecido, me interessam as coisas que foram esquecidas e a forma de portar-se na sociedade. Isso me chama atenção. As técnicas, os procedimentos diante da execução dos trabalhos… Muita coisa já foi esquecida."
O Hotel Solidão é, portanto, esse espaço de criação, um espaço solitário para utilização de objetos que já ninguém mais acredita. "Esse espaço do hotel é, para mim, o espaço em que você acredita sozinho, retrabalhando, ressignificando. Ele é imaterial, quando associado ao processo de construção, e tende a ser material pelos objetos que estão dentro. Um rapaz passou por aqui e perguntou: 'Nossa, a galeria virou um hotel?' A ideia é criar essa confusão", finaliza.