"Você quer escrever sobre o que?” é a pergunta que tem norteado as mais recentes reuniões de pauta da revista Outros Críticos. A publicação editada por Carlos Gomes chegou em 2020 ao quinto ano de atuação e libera hoje para leitura gratuita no site outroscriticos.com a primeira edição desta temporada.
Em conversa por telefone, Carlos explica que o objetivo tem sido construir um projeto cada vez mais horizontal, pautando-se pela colaboração dos profissionais participantes da edição da vez desde a gênese do assunto central, que nesta 15ª é Políticas do Som e Imagem.
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“Cada um vai trazendo temas, artistas, elementos que estão os instigando no momento. Uma primeira coisa que surgiu agora foi a restrição na arte, que está presente neste período de pandemia, no qual os artistas têm muitas limitações para trabalhar”, conta. “A partir da ideia de restrição, improviso e gambiarra, pretendemos entender como os artistas usam esses caminhos imprevistos para criar suas obras”.
É este o fio que guia a composição da revista, ao investigar as questões que transitam na dimensão estética e política da arte no momento de paralisação, redesenho e retomada engatinhante da cultura no Brasil, sobretudo para os artistas com menos acesso a subsídios tecnológicos e financeiros, ou ainda os que se utilizam justamente dos recursos da tecnologia, da internet, de forma debochada e potencialmente irônica.
É um lugar em que transita biarritzzz, artista que protagoniza entrevista, concedida à pesquisadora Fernanda Maia, e um ensaio de fotos feito por Priscilla Buhr. Artista transmídia, biarritzzz apresenta pela primeira vez na terça-feira (20/10), às 20h, no canal da Outros Críticos no YouTube, performance baseada em Eu Não Sou Afrofuturista, sua obra mais recente.
Também integram a nova etapa da revista os textos produzidos pelos colaboradores do interior de Pernambuco, selecionados a partir da convocatória aberta no início do ano. São eles Abiniel João Nascimento, artista visual de Carpina, e Mayara Bezerra, comunicadora de Santa Cruz do Capibaribe. O primeiro abre a revista falando sobre o aracá - ou maracá - instrumento presente no maracatu rural e os quesitos que o envolvem.
Já Mayara discursa sobre a paisagem sonora de sua cidade natal, “um questionamento sobre a ideia de silêncio nesse período de pandemia e isolamentos. São modos de pensar e escrever que nós, aqui no Recife, não temos”, aponta Carlos Gomes.
O pesquisador GG Albuquerque colabora com texto a respeito da gambiarra como potência inventiva. Já Carlos Gomes propõe provocação a partir do pensamento do filósofo francês Gilles Deleuze, na sessão Polivox.
“A gente pensa muito a crítica como criação, então tentamos sempre estabelecer diálogo com os artistas, fazer uma espécie de jogo com eles e tentar jogar essa obra para mais longe. Então, se o artista não consegue produzir, circular ou fazer com que sua obra exista, isso também impacta nosso trabalho. Todos os nossos lançamentos até então aconteceram em espaços culturais, por exemplo. Estamos ligados à rua”, relembra Carlos.
A edição #15 da Outros Críticos foi diagramada por Fernanda Maia e construída em troca com as obras do artista visual KAÝTO, mineiro radicado em Niterói, no Rio de janeiro.
Antes de o ano chegar ao fim, a Outros Críticos encabeçará mais uma edição da revista — com novos escritos de Abiniel e Mayara —, trabalhando a relação entre tradição e invenção na música. A previsão é para meados de novembro.
Outra novidade é a reedição ampliada de Ninguém É Perfeito e a Vida é Assim: a música brega em Pernambuco, livro escrito por Thiago Soares e lançado há três anos. O autor tem produzido um capítulo extra, com análise sobre o brega-funk. A nova edição poderá ser acessada gratuitamente também no site do projeto.