Construção prevê PIB de 4% e até 200 mil novas vagas em 2021, mas ainda teme falta de matéria-prima

Nos últimos 11 meses, 17,62% é o acumulado de alta só com materiais e equipamentos (maior variação na era pós-real para o período), segundo a Cbic
Lucas Moraes
Publicado em 17/12/2020 às 12:46
NA PRÁTICA Empresas devem analisar caso a caso se vale a pena comprar a outorga de determinado terreno Foto: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM


Fechando o ano de 2020, mesmo com a pandemia da covid-19, relativamente em recuperação, o setor da construção renova as esperanças para o ano que vem, mas sem tirar do horizonte enormes desafios. Para 2021, a Câmara da Indústria da Construção (Cbic) projeta um crescimento de 4% para o PIB do da construção, abrindo oportunidade para até 200 mil postos de trabalho. A principal preocupação quanto ao desestímulo a esses resultados está no custo da construção. Com a falta de insumos no mercado, o setor teve nos últimos 11 meses alta de 17,6% só com materiais e equipamentos, e um prolongamento disso pode inclusive inibir lançamentos e impactar nas entregas do que já foi vendido no segmento imobiliário.

Nas projeções da Cbic, o PIB da construção deve fechar 2020 com queda de 2,8%. No segundo trimestre deste ano, a queda foi de 8,1%, enquanto no terceiro trimestre houve alta de 5,6%. 

"Esse crescimento foi positivo. Importante. Mas a construção ainda está com patamar 4,5% menor do que dezembro de 2019, e o nível de atividade do setor se compara ao início do ano de 2007. Estamos trabalhando no mesmo patamar de 2007 e estamos 36% inferiores ao auge do patamar de nossas atividades, quando em 2014. Embora mesmo diante desse patamar, a construção civil tenha sido o setor que mais gerou emprego", avalia a a economista do banco de dados da Cbic, Ieda Vasconcelos. 

Mesmo fechando em queda, o PIB da construção ainda deve ficar acima do PIB nacional, já que a última projeção do Focus aponta para redução na casa dos 4%. No caso da construção, o ano de 2020 conseguiu ser de prosseguimento à saída da crise vivida entre 2014 e 2018, embora esse movimento tenha se dado de forma moderada. O segmento imobiliário trouxe alento com um número expressivo de vendas em meio à pandemia, mas desgastes como a questão dos insumos pesaram para a construção como um todo.  

"Em 2019, o PIB da construção voltou a crescer depois de cinco anos de queda (+1,5%). O desempenho da construção no início de 2020, na sondagem da CNI, indicava um nível de atividade num patamar maior do que no início de 2019. Em janeiro começamos o ano com expectativa de crescer 3%. Só que em março, quando iniciado o auge da pandemia, houve uma redução, levando-nos ao menor patamar da série (desde 2010). Em abril já começamos uma recuperação, mas chegamos em outubro sem a manutenção dessa crescente e isso tem a ver com as dificuldades de desabastecimento dos insumos", complementa Ieda. 

Desde julho, conforme a Cbic, o INCC - que mede o custo da construção - está superior a 1%, chegando a outubro com alta mensal de 4,15%. De janeiro a maio, o acumulado era de 2,75%, enquanto de  junho a novembro a alta já foi de quase 15%. Nos últimos 11 meses, 17,62% é o acumulado só com materiais e equipamentos (maior variação na era pós-real para o período). 

"O que está nos preocupando é que os preços subiram. Uma das justificativas era  a desvalorização do rela frente o dólar, mas já tivemos um movimento contrário e os preços continuam subindo. Hoje acabei de receber uma nova leva de aumento do preço do cimento. Temos que ter muito cuidado quanto a isso, porque impacta. Se foi vendido um imóvel que se imaginava uma inflação, e agora está muito maior não há previsão contratual para um aumento de custo desse, então os contratos terão impacto muito grande, assim como os prazos de entrega", queixa-se o presidente da Cbic, José Carlos Martins. 

Mercado imobiliário

Só no mercado imobiliário, que representa cerca de 60% dos resultados do setor, houve um crescimento de 8,4% das vendas (129 mil unidades) até o terceiro trimestre, mas retração de 28% nos lançamentos e - 13% no estoque. Vendendo mais, o segmento prepara-se para agora para construir e fazer a maioria das entregas em 2021, o que justifica as previsões positivas para o ano que vem mas passa a ser ponderado por conta da incerteza quanto à normalização do fornecimento de matéria-prima. 

"No imobiliário, a preocupação com 2021 não é taxa Selic nem outros componentes macroeconômicos. A única preocupação nossa é com aumento dos preços e desabastecimento dos materiais de construção. Apesar de nossos contratos, de acordo com a lei de distratos de 2018, terem se mostrado à prova da pandemia, temos muita preocupação porque centenas de milhares de imóveis vendidos nos últimos 12 ou 24 meses estão em construção no País, passando pela adequação do aumento de insumos. Esperamos que os empresários não de lançar por conta disso", diz o presidente da Comissão da Índustria Imobiliária da Cbic, Celso Petrucci. 

A expectativa é encerrar 2020 com até 160 mil unidades vendidas, comprovando que a situação ainda degradante do mercado de trabalho e renda não comprometeram o segmento. No ano até outubro, a construção gerou mais de 138 mil novos postos de trabalho. A perspectiva agora é em 2021 avançar para até 200 mil, mas o andamento das obras de infraestrutura, concessões e imobiliárias é que definirão o ritmo de demanda por essa mão de obra. 

"Esse aumento de insumo pega a construção de forma diferenciada. Há obras com custo da construção representando 40% do preço, outras até 70% ou 80% do preços. Essa incidência do aumento é parcial no empreendimento. Um outro problema é em que momento está a obra, temos várias unidades em produção, que estão nos seis últimos meses ou 12 meses, os impactos são diferentes. em escala maior ou menor, mas não acredito que isso possa impactar os contratos e compromissos de compra e venda que já foram firmados", ressalva Petrucci.

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