A estimativa demográfica e a consequente demanda por habitação podem impor a Pernambuco o desafio de dar conta de quase 600 mil novas moradias na próxima década (até 2030). De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) junto à Ecconit Consultoria Econômica, o Estado tem atualmente um déficit de 326.844 unidades. O Nordeste como um todo lidera o déficit habitacional no País, com a ausência de 1.550.236 residências para atender a população, considerando apenas o déficit sem ônus excessivo com aluguel.
No Recife, O estudo elaborado com base em dados do IBGE reunidos e analisados pela equipe da Ecconit, que é formada pelos economistas Robson Gonçalves, Marco Capraro Brancher e Ana Maria Castelo, chegou a um total de 177.896 moradias aquém no déficit ampliado, sendo 80.072 contabilizadas pelo ônus excessivo com o aluguel. A demanda total de unidades na cidade é de 233.162 até 2030, estando concentrado 116.113 na faixa de renda entre um e três salários mínimos.
Em todo o Brasil, a dimensão absoluta do déficit alcançou 7,8 milhões de unidades. Isso corresponde a 9,6% do total de domicílios existentes no País em 2019. Desse universo, 4,4 milhões de unidades se referem ao conceito restrito e outras 3,3 milhões à contagem que leva em conta o ônus excessivo com aluguel (mais de 30% da renda).
Entre 2004 e 2012, o déficit ampliado passou de 7,9 milhões de unidades para 6,8 milhões de unidades. O indicador registrou tendência de alta até 2018, quando atingiu a marca de 8,1 milhão de unidades.
Segundo o levantamento, sem levar em conta o ônus com aluguel, a região Nordeste é a que concentra a maior parcela do déficit habitacional brasileiro (34,8%), fato explicado sobretudo pela elevada coabitação e, mais especificamente, pelo número de famílias conviventes.
O ônus excessivo com o aluguel acrescenta à conta 748.429 unidades, o que leva a região a um total de 2.298.666 no déficit ampliado. Essa demanda se concentra na faixa que vai até 5 salários mínimos (98%), sendo massivamente mais expressiva na parcela da população que conta com apenas até um salário. Nesse estrato, o déficit é de 1.452.574 ma região.
Para o presidente da Abainc, Luiz Antonio França, apesar dos números preocupantes, o Nordeste conseguiu reduzir o déficit habitacional em 844 mil moradias entre 2004 e 2019. Já nas demais regiões, o aumento do comprometimento da renda com aluguel fez o déficit subir em 1,8 milhão de moradias, resultando em um saldo global de 193 mil unidades a menos no déficit nacional.
"Ao longo de 15 anos, como mostra o estudo, o país como um todo reduziu o déficit em 2 milhões de moradias, com destaque para o Nordeste, que representou 40% dessa queda. A redução reflete as políticas públicas de habitação para a população de baixa renda. É preciso reforçar e ampliar programas de habitação para zerar o déficit habitacional brasileiro, bem como focar na redução dos juros atrelados ao financiamento imobiliário", afirma França.
A maior parte do período citado por França contou com o avanço do programa Minha Casa Minha Vida, que subsidiava a compra da casa própria por famílias de baixa renda. Desidratado há pelo menos dois anos, o programa chegou ao esgotamento de recursos do governo federal para subsídios, e deu lugar ao Casa Verde e Amarela, lançado pela gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que é voltado para redução de juros no financiamento, bem como reformas e regularização fundiária.
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Ainda conforme os números da Abrainc, nos anos recentes (2017 e 2019), o número de domicílios tem crescido a taxas que são cerca do dobro do crescimento da população: 1,5% ao ano e 0,7% ao ano, respectivamente. O estudo estima a demanda por novas habitações no período 2020-2030 considerando para cada ano o dobro da taxa de crescimento da população como projetada pelo IBGE. O resultado é um número de 11,4 milhões “novas famílias”.
Supondo que cada uma delas demandaria uma nova unidade residencial e que o déficit habitacional existente em 2019 permaneceria inalterado, essa seria exatamente a demanda por novas habitações no horizonte de projeção. A taxa média anual de crescimento desse indicador seria de 1,2% até 2030. Considerando esse percentual, o Nordeste demandaria 3.252 novas moradias (28,5% do total nacional). Só em Pernambuco a demanda seria de 597 mil (5,2%), segunda maior da região, atrás apenas da Bahia (872 mil). As composições familiares com renda de até 3 salários mínimos devem responder por 97% das que precisarão de uma nova residência até 2030.