JC 105 Anos

MARCELO RECH: Imprensa e liberdade

Com a confiança de sua comunidade, nos seus 105 anos, o JC se reinventa para atender a novas demandas. E, temos certeza, fará isso por muito tempo ainda.

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MARCELO RECH

Publicado em 02/04/2024 às 22:00 | Atualizado em 03/04/2024 às 0:02
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*O JC marca seus 105 anos presenteando você, leitor, com textos especiais olhando para o futuro. Com reflexões de nossa equipe, além de convidados muito especiais, estamos prontos para seguir em frente. Com a força de nossa tradição, o compromisso com nossa comunidade e a disposição de estarmos sempre inovando. Acesse aos demais links do especial ao final desse texto.

No exercício livre da atividade jornalística - e é importante que, para o bem das democracias, seja assim. No entanto, a expressão é composta por dois substantivos. Para haver liberdade de imprensa, é preciso haver também imprensa. E é aí que estamos diante de um grande perigo.

Uma das bases do regime democrático, a imprensa livre vem sendo sufocada pela combinação perversa da erosão gradual das liberdades com a degradação econômica de veículos de comunicação. Nos EUA, por exemplo, cerca de 10 jornais fecham a cada mês, deixando comunidades inteiras sem fonte de informação local ou a mercê de bandoleiros digitais que se valem do vácuo jornalístico para vender elixires da radicalização.

Apesar de todas as suas limitações, empresas jornalísticas são a melhor invenção dos últimos séculos para que as sociedades se conheçam melhor a partir de retratos da realidade e da pluralidade de ideias e, assim, possam fazer escolhas sensatas sobre o futuro. Mas, por sua dinâmica de crítica, denúncia e opinião, a atividade jornalística sempre atraiu a ira de liberticidas. Nunca houve uma ditadura que convivesse com uma imprensa livre, ressalve-se.

Mais recentemente, a imprensa também vem sendo garroteada por uma forma que dispensa o operoso controle de conteúdos jornalísticos. Em países como Venezuela e Nicarágua, governos agem para simplesmente eliminar a imprensa, aí entendida como aquela que faz jornalismo sem ser um braço oficialesco do regime. O tsunami se completa com a drenagem de recursos publicitários por oligopólios digitais que rejeitam os mecanismos de responsabilização e contrapartidas que são parte do DNA dos meios de comunicação.

A captura de conteúdos jornalísticos pela inteligência artificial, sem a devida remuneração dos produtores, só tende a agravar um quadro que, no longo prazo, pode fazer desaparecer grande parte da imprensa independente. Em seu lugar, restariam tão-somente câmaras de eco digitais a refletir pensamentos dominantes, bolhas de grupos ideológicos e informações falsas.

Em nome da pluralidade e da estabilidade, o mundo livre deve atuar na reversão desse cenário por uma lógica simples. Em seu negócio, as big techs produzem como efeito secundário uma poluição social materializada em desinformações e discursos de ódio. É o jornalismo profissional que tem a técnica e a capacidade de neutralizar, ainda que parcialmente, esses resíduos tóxicos. Então, como em qualquer indústria, os poluidores devem ajudar a pagar o custo da limpeza da poluição. E devem fazer isso antes que seja tarde demais para a sanidade mental do planeta.

No entanto, não basta se encontrar, como já ocorre em alguns países, como Austrália e Canadá, fontes alternativas de financiamento para uma atividade essencial no enfrentamento da desinformação, dos extremismos e, consequentemente, da desestabilização política e econômica. Os veículos precisam ter sólidas raízes entranhadas na sua comunidade, bem como reconhecidos compromissos com a defesa das causas, cultura e valores de suas regiões. Ou seja, não basta se criar um veículo do dia para noite. Aliás, alguns grandes empreendimentos digitais jornalísticos incensados há 10 anos como o futuro da mídia, como o grupo com origem canadense Vice Media, que chegou a valer mais de U$ 5 bilhões, hoje enfrentam a bancarrota.

O futuro do jornalismo, na verdade, deve ser buscado no passado, porque é na construção gradual, ano após ano, da credibilidade junto ao público que se içam as velas que conduzem os veículos por mares turbulentos rumo às próximas décadas. Um diário como o Jornal do Commercio, com quem celebramos seu aniversário, é um farol para essa navegação rumo ao futuro. Nenhuma empresa sonha chegar a um século de existência sem a confiança da sua comunidade. Poder ostentar esse galardão e, ao mesmo, se reinventar para atender a novas demandas e comportamentos é o melhor caminho para a perenidade - seja de um jornal ou de qualquer organização. É isso que o JC vem fazendo há 105 anos e, temos certeza, fará por muito tempo ainda.

Marcelo Rech,  presidente-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ

 

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