Matéria atualizada às 17h30
Com informações da repórter Monica Ermírio da Rádio Jornal
A manicure Dione Gomes da Silve, de 40 anos, que teria sido vítima de feminicídio e teve o corpo jogado no Rio Tejipió, no Recife, foi enterrada no cemitério de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife (RMR), na tarde desta quarta-feira (6). Muito emocionados, os amigos e familiares da mulher se reuniram no local para o último adeus e pediram justiça.
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Previsto para ter início às 14h, o sepultamento só aconteceu cerca de duas horas depois. O atraso aconteceu por causa da demora na liberação do corpo pelo Instituto de Medicina Legal (IML), onde as impressões digitais da manicure foram reconhecidas. Por estar em avançado estado de decomposição, o corpo de Dione só foi velado por cerca de 20 minutos antes de ser enterrado. O cadáver foi encontrado, com lesões possivelmente causadas por arma branca, nessa terça-feira (5), no Rio Tejipió, na Zona Oeste do Recife, após três dias de buscas.
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Muito abalada, a irmã da manicure chegou a passar mal. Ela relatou as dificuldades que a família vem passando desde o desaparecimento da vítima. "Está sendo difícil para toda família. Eu estou dopada desde o dia que recebi a notícia. Deus tem me sustentado. Ela não merecia ser tratada brutalmente. Ele é um monstro. Ele estragou a nossa vida, mas também estragou a vida dele. Eu quero justiça!", afirmou.
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O ex-marido da vítima também clamou por justiça. "Aquilo não é gente, não. É um monstro. A mulher era cidadã de bem, mãe de família... Não temos nem palavras para falar porque o sofrimento é muito grande. Toda vez que falo penso em minhas filhas, peço que Deus conforte. Eu espero que ele pague pelo crime que cometeu, quero que seja julgado, que fique um bom tempo na cadeia para ver que destruiu não só as minhas filhas, que eram muito apegadas à Dione, mas toda a família", disse.
O mesmo pedido foi feito pelo padrasto de Dione durante o sepultamento. "O que a gente espera agora é justiça, ele já está preso. Ele acabou com uma mãe de família, ela era uma mulher de bem, trabalhadora. Ele destruiu uma família", disse.
Confira fotos do velório da manicure:
Feminicídio e ocultação de cadáver
O mototaxista Maurício Alves Andrade, namorado de Dione, suspeito de assassiná-la e jogar o corpo dela no Rio Tejipió, na Zona Oeste do Recife, teve prisão preventiva decretada em audiência de custódia, nesta quarta-feira (6). Autuado pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver, ele foi encaminhado ao Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife.
O homem havia recebido voz de prisão e sido autuado em flagrante pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver nessa terça-feira (5), quando, acompanhado de advogado, se apresentou ao Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), localizado no bairro do Cordeiro, Zona Oeste da capital, momentos depois do corpo da manicure ter sido encontrado pelo Corpo de Bombeiros.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Francisco Océlio, o nome do namorado já estava nos autos como autor do crime antes mesmo dele se apresentar à polícia. "Já tínhamos conhecimento da autoria desde o momento que tínhamos certeza que ela foi executada. O que restava era realizar a localização do corpo. Também já havíamos colhido o depoimento da pessoa que auxiliou o suspeito a carregar o corpo no próprio carro. Ele alega que não auxiliou a jogar, mas essa é a versão que se dá. Já que, sozinho, o suspeito não teria condições de carregar esse corpo pela comunidade e não teria como chegar até o local de descarte", explicou o delegado.
O corpo da manicure foi encontrado em um braço do Rio Tejipió, na comunidade conhecida como Rabo da Lacraia, no Recife, com duas lesões de arma branca no pescoço, que foram, segundo o perito criminal Victor Sá Leitão, "provavelmente, provocadas por facadas". Ainda de acordo com o perito, há grandes chances de que ela já estivesse morta quando foi arremessada ao rio. O corpo da manicure passou por exames no Instituto de Medicina Legal (IML), que deverão constatar as suspeitas.
O local do crime, a casa do namorado, na Imbiribeira, Zona Sul do Recife, já havia sido periciado duas vezes, uma delas durante a noite, com o objetivo de identificar rastros de sangue da vítima. A arma que teria sido utilizada no crime não foi encontrada pela polícia. O delegado afirma que, apesar de ainda não ter sido concluído, já teve acesso ao trabalho da perícia. "As fotos falam por si e dizem a dinâmica do crime, como ele foi praticado e como a vítima foi abordada. Já sabíamos que foi utilizada uma arma branca por conta da quantidade de sangue derramada no local, que o autor lavou e tentou esconder os vestígios", explicou Océlio.
De acordo com familiares e amigos de Dione, ela foi vista pela última vez às 22h do sábado (2), quando saiu da casa onde morava, no bairro de Monte Verde, em Jaboatão dos Guararapes, em direção à casa do namorado. A informação recebida por eles foi de que o namorado da mulher teria ligado para um parente pedindo para socorrer Dione, que estaria ensanguentada. Ao chegar na Ponte Motocolombó, que liga Imbiribeira e Afogados, na Zona Oeste da cidade, ele teria solicitado a parada do carro e em seguida jogado a vítima no rio.
"Ele chegou aqui, bateu na janela e disse que a esposa estava passando mal. Eu imediatamente acordei, peguei o carro, coloquei na beira do portão. Ela estava deitada, com as costas pro chão, um pano branco coberto. Porque ele disse que ela teve um derrame, caiu, bateu a cabeça e ficou sangrando. Aí eu pensei que estava desmaiada", explicou um parente do suspeito, que não terá a identidade revelada.
Confira imagens da procura pelo corpo de Dione:
Relacionamento marcado por ciúmes
De acordo com a filha da vítima, o relacionamento de apenas nove meses do suspeito com Dione era marcado por ciúmes. "Ele não deixava ela fazer nada. Até uma risada que ela dava, incomodava ele. Chegou ao ponto até de ela terminar com ele, mas como ela tinha o coração mole, voltou", contou a filha.
O ex-marido da vítima também comentou a relação. "O relato dos irmãos que moravam com ela é que, no começo, ela conversava com eles [sobre o relacionamento], era comunicativa. Depois de cinco meses, ele ficou possessivo de ciúmes, e ela não se abria mais, não falava mais, não era a mesma pessoa. Mudou o comportamento. O brilho que ela tinha mudou. Com certeza, ele ficava, de alguma forma, ameaçando ela", contou o ex.
Agora, o que restam são as lembranças dos planos entre a mãe e filha. "Me lembro que a última vez que a gente conversou, ela estava lá em casa deitada na minha cama, e disse que ia construir uma casa atrás da minha para que a gente pudesse viver mais perto uma da outra", contou a filha mais velha.