As chuvas que atingem o Grande Recife desde a tarde da última quarta-feira (12) devem continuar nesta sexta-feira (14). Segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) há a possibilidade da continuidade das precipitações, por isso ela vem emitindo alertas sobre risco de chuvas fortes a moderadas na região. Com locais registrando mais de 269 mm de precipitação nas últimas 24 horas, a quinta-feira (13) foi marcada por morte, vários deslizamentos de barreiras e alagamentos em diversos pontos.
- Corpo de Bombeiros continua buscas por família soterrada após queda de barreira em Jaboatão, no Grande Recife
- Vídeo: fachada de imóvel cai e atinge um homem que se protegia da chuva em Jaboatão dos Guararapes
- Chuva torrencial provoca 15 deslizamentos de barreiras no Grande Recife, interdita trecho da rodovia PE-15 e gera série de transtornos em Pernambuco
Só no Recife, foram 360 pedidos de socorro por vistorias e colocação de lonas nas áreas de morros até o início da noite. Em Jaboatão dos Guararapes não foi diferente. Pelo menos 44 deslizamentos de barreiras foram registrados pela prefeitura. Um deles, no bairro de Sucupira acabou de forma trágica: quatro pessoas de uma mesma família ficaram soterradas após a destruição da casa onde eles moravam. O pai, a mãe e os dois filhos (ambos adolescentes), foram cobertos pela terra.
Mesmo sob risco, moradores da localidade, com os próprios braços, lutaram para resgatar as vítimas, enquanto aguardavam a chegada das equipes do Corpo de Bombeiros. Em conjunto, as buscas foram realizadas durante toda a noite, sob forte chuva e alto risco de novo deslizamento de terra. O corpo do garoto de 16 anos, que não teve a identidade confirmada, foi o primeiro a ser encontrado.
Foto: Artur Borba/JC Imagem
A mãe, o pai e a menina de 12 anos seguem sendo procurados pelos Bombeiros nesta sexta-feira (14). O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) montou um ponto de apoio no local.
De acordo com a Defesa Civil, que também foi até o local da ocorrência, a chuva abriu uma fenda de aproximadamente 100 metros na barreira, causando o deslizamento. Por medida de segurança, cinco residências que ficam nas proximidades do acidente foram interditadas, já que a possibilidade de ocorrer uma nova movimentação de terra chega a 80%, segundo informou o órgão.
- Após uma quinta-feira marcada por chuvas e alagamentos no Grande Recife, veja a previsão para esta sexta (14)
- Cidades do Grande Recife registram deslizamentos de barreira nesta quinta (13) de chuvas
- Defesa Civil alerta sobre risco de quedas de barreiras no Cabo de Santo Agostinho
- Vídeo mostra momento exato de deslizamento de barreira em Paulista; confira
Por pouco, tragédia semelhante não aconteceu no bairro de Jardim Paulista Alto, em Paulista. Segundo a Defesa Civil do município, moradores do local registraram uma ocorrência para o órgão. Equipes se dirigiram até o local, e, ao chegar, verificou o "perigo iminente de desabamento e retirou com sucesso as pessoas da área". Cerca de 10 minutos depois, a barreira desabou. As famílias foram encaminhadas para a Secretaria de Políticas Sociais.
Outro deslizamento aconteceu na Rua Expedicionário Francisco Vitorino Ladeira, na UR-11, em Jaboatão dos Guararapes, onde parte da terra de uma barreira despencou na rua. Cerca de duas casas foram atingidas pelos destroços; uma delas está coberta praticamente pela metade. Muitos moradores se juntaram para retirar a terra com enxadas, já que continua deslizamento. Um dos moradores chegou a ficar soterrado, mas foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros.
Em Camaragibe, a Secretaria de Defesa Civil registrou 14 deslizamentos de barreira em bairros como Jardim Primavera, Ostracil, Areeiro, Bairro dos Estados e Tabatinga. Além disso, houve dois desabamentos de muro, sendo um no bairro da Ostracil e outro no Vale das Pedreiras, e também um desabamento parcial de casa, na Rua Major Isidoro, no Areeiro, onde três famílias de casas próximas foram orientadas a saírem do local e irem para a casa de parentes.
Alagamentos
Além das quedas das barreiras, a Região Metropolitana registrou diversos pontos de alagamentos. Em Olinda, por exemplo, o trânsito fico bastante complicado na PE-15. Isso porque um canal localizado ao lado do viaduto que cruza os bairros de Ouro Preto e Jatobá transbordou, causando um grande alagamento no local. Para passar pela área, motoristas precisavam redobrar a atenção.
Entre as 19h da quarta-feira (12) e 19h dessa quinta (13), a capital pernambucana, Recife, registrou mais de 60% das chuvas previstas para todo o mês de maio. De acordo com a Defesa Civil, as precipitações chegaram a 200,4 milímetros. Para este mês, o esperado era 328,9 mm. Isso se refletiu nas ruas da cidade. Vias como a Rua Pintor Antônio de Albuquerque, no Ipsep, que liga o bairro ao Ibura, ambos na Zona Sul da cidade, ficaram debaixo d'água. Também foram registrados alagamentos nas ruas Amélia e Esmeraldino Bandeira, nas Graças; Rua do Espinheiro, no Espinheiro; e Rua Francisco da Cunha, em Boa Viagem.
Quedas de árvores
No dia atípico, as quedas de árvores chamaram a atenção. Somente na capital pernambucana, foram 18 ocorrências contabilizadas pela Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) até a noite de ontem. Na Zona Sul do Recife, uma árvore caiu e derrubou um poste na Avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem. Segundo a Autarquia de Trânsito e Transporte (CTTU), a via foi interditada por conta da queda e o trânsito foi desviado pela Rua Ribeiro de Brito. Agentes foram ao local para orientar motoristas e pedestres.
A Santa Casa de Misericórdia do Recife, mantenedora do Hospital Santo Amaro (HSA), localizado na Avenida Cruz Cabugá, também registrou a queda de uma árvore, do tipo mangueira, no estacionamento da unidade. Alguns galhos acertaram um carro que estava no local, mas sem danos graves. De acordo com a Santa Casa, um idoso de 61 anos passava pela área no momento da queda. Ele teve apenas um susto com o ocorrido, sendo prontamente atendido e liberado em seguida.
Já na Zona Norte da capital, houve queda de árvore na Avenida Hidelbrando de Vasconcelos, em Dois Unidos. Segundo a CTTU, a via foi bloqueada na altura da distribuidora de Água Mineral Santa Clara e agentes orientaram o retorno dos motoristas.
Em Olinda, pelo menos cinco quedas de árvore. Uma delas foi retirada pela Defesa Civil na Rua Escritor Ramos de Almeida, no bairro de Jardim Atlântico.
O Corpo de Bombeiros informou ter sido acionado para outros 14 cortes de árvores pelo Estado, até as 18h de ontem.
'Fique em casa, porque é muita chuva'
Os transtornos foram tantos que, em entrevista concedida à Rádio Jornal nesta quinta (13), o Secretário de Defesa Civil do Recife, Cássio Sinomar pediu que a população ficasse em casa durante as chuvas. “A gente pede que, quem puder, fique em casa, porque é muita chuva. Neste momento está torrencial, caindo cerca de 10 a 15mm em meia hora, então é importante que as pessoas fiquem em casa. As que estão em áreas vulneráveis, como em morros, a orientação já é diferente: procure um local seguro, vá para a casa de um parente ou de um amigo, entre em contato com a Defesa Civil para que a gente vá lá e vistorie”, disse.
No caso dos recifenses que residem em áreas de risco, a Defesa Civil os orienta a procurar outro local seguro para se abrigar, além de acionar o órgão pelo número 0800.081.3400. Eles podem se dirigir ao Abrigo Emergencial da Travessa do Gusmão, no bairro de São José, área central da cidade. Até a tarde desta quinta (13), a Defesa Civil do Recife já havia recebido 175 chamadas.
Explicação do fenômeno
A Apac diz que as fortes chuvas de ontem estão ligadas à atuação de um sistema meteorológico chamado Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL), considerado comum para os meses de abril a julho, que se desloca desde o Rio Grande do Norte, passando pela Paraíba e chegando até Pernambuco.
"Da mesma forma que há ondas no oceano, também têm na atmosfera. O fluido se desloca e vem em forma de ondas. Quando essas ondas se intensificam, ocorre ainda uma intensificação das nuvens nessas regiões", explicou a meteorologista Aparecida Fernandes.
As chamadas "ondas de leste" foram intensificadas, de acordo com a especialista, por um aquecimento de causas desconhecidas no Oceano Atlântico. "O Oceano Atlântico Sul teve uma parte mais aquecida do que o normal e isso faz com que gere mais vapor de água, que alimenta as nuvens, e com que os sistemas meteorológicos fiquem mais intensos", disse.
Ver essa foto no Instagram