Nos horários de pico, os congestionamentos são registrados diariamente. Nos meses de chuva, alagamentos fazem com que seja evitada. E mesmo que apresente tantos problemas, a Avenida Recife, como tantas outras vias da capital pernambucana, segue na contramão do que diz a literatura sobre transportes e do que outras metrópoles do Brasil vêm adotando para melhorar o trânsito em áreas urbanas — ainda que, entre as soluções, a maior parte seja considerada relativamente acessível aos cofres municipais.
A via mede 7,23 quilômetros, indo do prédio da Justiça Federal, na BR-101, até o cruzamento com a Avenida Senador Robert Kennedy, unindo os bairros do Engenho do Meio e da Imbiribeira. Dessa extensão, há Faixa Azul em cerca de 3,6 km, entre a Rua Gonçalves Magalhães até a Avenida Dom Helder Câmara. A implementação da faixa exclusiva para ônibus foi em 2013, e até hoje não foi ampliada. Segundo a CTTU, os transportes coletivos ganharam velocidade de 56% com a faixa. Quanto à expansão dos equipamentos de corredores exclusivos e da malha cicloviária, a Prefeitura do Recife diz estar "realizando estudos técnicos para possibilitar a implantação desses equipamentos na via."
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A oferta de ônibus é mais uma reclamação frequente. Segundo o Consórcio de Transporte Grande Recife, que administra as linhas da Região Metropolitana, são 15 linhas de ônibus, com 101 carros no total que fazem 693 viagens diariamente na via. Para fins de comparação, a Mascarenhas de Moraes tem extensão semelhante, de 6,5 km, e 42 linhas de ônibus que fazem 1.924 viagens por dia.
“Às 17h, ou 18h, é trânsito indo e voltando. Os ônibus também demoram, principalmente o TI Santa Luzia/Ibura e o Totó/Boa Viagem”, relatou o vendedor George Felipe, de 35 anos, que comercializa guloseimas em uma parada de ônibus desde 2017.
Em toda a avenida, não há ciclovias ou ciclofaixas, o que faz com que ciclistas disputem o espaço junto aos veículos motorizados, colocando as vidas em risco. “Já sou acostumado em andar na pista, mas seria melhor se tivesse uma faixa para a gente, porque os ônibus param do jeito que querem”, disse o borracheiro Leocílio Veloso, que trabalha em um comércio na avenida.
Segundo a geógrafa da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Mariana Zerbone, que estudou o corredor viário na academia, a Avenida Recife - chamada de Estrada Perimetral até 1960 - foi criada como “terceira perimetral, com o intuito de circular a cidade do Recife e interligar a RMR como continuidade da BR-101. “No entanto, a mancha urbana se expandiu para além da perimetral, e esta passou a ser uma avenida de importante ligação entre as zonas sul, oeste e norte da cidade”, tornando-se uma avenida de densidade e de intensidade de fluxos”.
Um problema histórico também apontado pela pesquisadora é o fato dela ser um dos principais pontos de alagamento da cidade, com “enchentes que vem comprometendo o seu uso”. Essa realidade é ainda mais complicada nos períodos de maior chuva na capital, entre maio e julho. Para evitar transtornos, há diversas oficinas em sua extensão que, inclusive, construíram pelo menos um metro acima do nível da avenida. Quem depende da Avenida Recife conhece bem essa realidade, em parte responsável pelo trânsito intenso no local, como os borracheiros Ricardo Oliveira. “Na época de chuva, até os clientes aumentam, já que muitos carros quebram por ficarem parados na água”, contou.
Especialista em Transportes pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Oswaldo Lima Neto propõe que os cruzamentos na avenida sejam estudados de forma a adaptar melhor os tempos dos semáforos, mas pontua que esta é uma medida paliativa. “Se a gente não conseguir reduzir esse uso através de um melhor transporte, com faixa exclusiva, com faixas para bicicletas, de alguma forma se conseguirá diminuir o congestionamento. Alguns dizem: vamos quebrar tudo, fazer desapropriação e botar mais faixas. Mas não adianta, porque quando se amplia o sistema viário, ele é ocupado”, explicou.
A insegurança para os estabelecimentos na avenida é queixa do empresário Roosevelt Guedes, de 47 anos, proprietário de uma oficina situada às margens da via há 11 anos - tipo de comércio que é, inclusive, um dos mais encontrados nela, junto aos de materiais de construção. “Minha loja já foi arrombada três vezes. Há dois meses levaram meu ar-condicionado. Os comércios da área sofrem muitos furtos. Mesmo com a câmera da Secretaria de Defesa Social (SDS), não adianta. Entram do mesmo jeito”.
Na infraestrutura, há também muitos pontos a melhorar. Por toda a extensão da via há placas de concreto rachadas e faixas de pedestres apagadas. Buracos também são observados. Como na cidade inteira, as calçadas são desniveladas e apresentam riscos para pedestres - principalmente os com limitações motoras, mas a maioria é de responsabilidade dos donos dos estabelecimentos à frente delas.
Esclarecimentos
Sobre as placas de concreto, a Autarquia de Manutenção Urbana e Limpeza do Recife (Emlurb) esclareceu que já substituiu nove e outras 30 placas serão trocadas ao longo do corredor viário, dentro da programação da "Ação Verão". E em relação aos alagamentos, disse promover a limpeza dos canais que cruzam a área onde fica a Avenida Recife, como os canais do Rio Jiquiá, Jardim Uchôa, da Marinha e da Malária. "Entretanto, é importante lembrar que toda a área do bairro do Ipsep, entre outros adjacentes, foi construída em aterro, que fica abaixo do nível do mar e sofre com a influência das marés, que alagam partes do bairro mesmo sem incidência de chuvas."
Ainda, esclareceu ainda que o Plano Diretor de Drenagem da cidade diagnosticou que os rios Tejipió e Jiquiá precisam passar por uma ação de dragagem. No entanto, são necessários investimentos da ordem de R$ 100 milhões, recursos que precisam ser captados pela Prefeitura para operacionalizar as obras.