Mesmo sendo a mais antiga das cidades brasileiras a ser declarada um Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, Olinda parece ainda não transparecer na manutenção a importância histórica que tem para o País. O título contrasta com a realidade da cidade logo na entrada, onde a visão é de uma estrutura precária, com pouca iluminação, mato alto e lixo espalhado pelas canaletas. A área é alvo de um projeto que deveria revitalizá-la parcialmente até dezembro de 2021, segundo prazo da prefeitura, mas que ainda não foi concluído. Enquanto isso, o abandono domina a percepção de quem visita a Marim dos Caetés.
As obras contemplam um trecho de 500 metros entre a Escola de Aprendizes Marinheiros e o pontilhão. Iniciados em julho, os serviços de mobilidade e paisagismo, contam com implantação de uma ciclofaixa, calçadão, jardineiras e canteiros com flores e palmeiras imperiais. Contudo, da extensão total prevista, a reportagem do JC constatou que pouco mais de 150 metros, em torno de 30%, haviam sido concluídos após cinco meses de início dos serviços. Agora, a gestão tem como previsão finalizar os serviços em janeiro deste ano.
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Apesar da reportagem ter medido a extensão da obra concluída, a Prefeitura de Olinda, entretanto, afirmou que 400 dos 500 metros previstos até dezembro de 2021 foram finalizados, e que, com a conclusão dos 100 metros restantes desta primeira etapa, mais 500 metros serão em breve atendidos com intervenções semelhantes. Como diferença, haverá a implantação de banquinhos.
Durante visita nesta quinta-feira (6), o JC notou que outro trecho que parecia estar em obras, com mato já aparado e canteiros feitos, apesar da ausência de trabalhadores municipais. Na maior parte, entretanto, a vegetação e a sujeira ainda tomavam conta.
“Passo muito por aqui, e já faz umas duas semanas que não vejo alguém trabalhando. Mas está ficando bonito. Quando ficar pronto, vai ser bem melhor”, disse o autônomo Josias Pedro de Freitas, 60 anos, um dos únicos pedestres a passar pelo local no tempo que a reportagem lá esteve.
Seu Josias é uma das pessoas que seria beneficiada pela conclusão dos serviços. Sempre a pé, vai constantemente do Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP), na região onde mora, até a casa de amigos em Olinda, usando a avenida Olinda Dom Hélder Câmara (PE-01), que conta com poucos semáforos e faixas de pedestres para travessia, tornando-se perigosa.
Mesmo com parte da ciclofaixa já construída, Jonata França da Silva, 26, usava a faixa de veículos para pedalar. Ciclista, o jovem vai e volta todos os dias de Olinda, onde mora, até o Bairro dos Coelhos, na área central do Recife, e conta passar por muitos perigos no caminho, que o fizeram até mesmo instalar lanternas improvisadas no meio de transporte.
“Essa avenida é muito perigosa para andar de bicicleta. Já fui atropelado por uma moto aqui. À noite, a escuridão toma conta”, disse.
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As obras são de responsabilidade da Secretaria de Gestão Urbana e vêm custando R$ 400 mil aos cofres públicos municipais. Inicialmente, por nota, a pasta disse que o atraso se deve "por fatores que extrapolam o controle da Prefeitura como, por exemplo, as chuvas". Além disso, respondeu que as "empresas que executam as obras estão de recesso, mas retornam na primeira semana de janeiro, e até o final do mês finalizam a primeira etapa do serviço".
À época do anúncio, em julho de 2021, o secretário de Gestão Urbana da cidade, Marconi Madruga, justificou a importância do serviço paisagístico e de mobilidade para Olinda. “Ali é o cartão postal do município de Olinda, que é tão importante para o mundo. Quem chegar vai ver toda aquela área requalificada. Vai dar um destaque, com um visual adequado ao que hoje é feio”, afirmou o secretário de Gestão Urbana da cidade, Marconi Madruga.