URBANISMO

Esvaziadas, igrejas católicas esperam que revitalização do Centro do Recife retome movimento de fiéis

Párocos foram convidados pela Prefeitura do Recife a contribuir com o Recentro - programa que pretende revitalizar o Centro da cidade. Insegurança é a principal queixa

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Katarina Moraes

Publicado em 21/02/2022 às 18:30 | Atualizado em 22/02/2022 às 15:17
Basílica e Convento de Nossa Senhora do Carmo, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Com o passar dos anos, os bancos do Convento de Santo Antônio esvaziaram na mesma medida em que a Rua do Imperador, onde está situado, decaía cada vez mais. Hoje, principalmente após a chegada da pandemia, o movimento do lado de fora é maior que no de dentro; com pessoas em situação de rua vivendo em condições miseráveis em suas calçadas. Junto ao de tantas igrejas do Centro do Recife que veem sua arquitetura e história serem ofuscadas pelo abandono dos arredores, seus representantes estiveram presentes, na última semana, em reunião com a Prefeitura do Recife para apresentação do Recentro, o programa que pretende revitalizar a região.

Ao todo, 15 párocos foram convidados pela secretária do Escritório do Centro do Recife, Ana Paula Vilaça, para conhecerem o projeto e apresentarem suas principais queixas. Anteriormente, já foram realizados encontros com os setores comercial, turístico, imobiliário e tecnológico. Segundo Ana Paula Vilaça, o contato será permanente com os diferentes atores. “Queremos fazer algo colaborativo e inclusivo. A gente vai sistematizando as demandas para construir os projetos com a sociedade, e entendemos que a igreja católica é fundamental nesse processo de requalificação e retomada do Centro, dada a importância histórica”, afirmou.

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Convento de Santo Antônio, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Convento de Santo Antônio, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

A comum demanda aos clérigos é a necessidade de melhoria na segurança da área central, cuja falta tem afastado os fiéis. “A presença do povo caiu. Como Santo Antônio é padroeiro de Pernambuco e do Recife, o convento já foi muito movimentado em anos remotos. Mas com o Centro se esvaziando, o povo fica com medo de assalto. Desde a pandemia não temos quase ninguém na igreja”, pontuou o frei João Amilton dos Santos, ministro provincial da Ordem dos Frades Menores.

Frei João Amilton torce por mudanças no Centro do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

O Frei Rosenildo Alexandre, da Basílica do Carmo, que fica aberta de domingo a domingo, contou que a instituição contrata seguranças particulares para evitar assaltos nas redondezas - mas que mesmo assim continuam acontecendo. “O Pátio do Carmo é um local onde acontecem muitos saques. É fácil escutarmos que a pessoa foi assaltada. Uma vez um rapaz veio por volta de 12h para a missa e quando saiu tinham seis homens o esperando. Levaram a corrente de ouro dele, que teve um prejuízo grande. Já vimos até mortes e tiros acontecerem ao redor. É uma situação que nos deixa assustados”, relatou.

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Em 2021, a área Central do Recife, formada pelos bairros da Boa Vista, Cabanga, Coelhos, Ilha do Leite, Ilha Joana Bezerra, Paissandu, Recife Antigo, Santo Antônio, Santo Amaro, São José e Soledade, computou 593 ocorrências de roubos, segundo dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) e sete Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). Mesmo com o alto índice de violência, a SDS-PE afirmou que houve redução de 12% nos roubos e de 29% nos CVLIs.

O seminarista José Lucas de Lima, 27, era uma das poucas pessoas que passeava pelas paróquias quando a reportagem o encontrou. Ele contou que, apesar de “andar com cautela” pelo Centro, não deixa de visitar as igrejas históricas, porque é uma forma de “mergulhar na história do catolicismo e na do Brasil. “Como sou do interior, vir até as igrejas históricas do Centro me traz um ar de voltar ao passado; não uma nostalgia, simplesmente, mas um retorno a nossa história. Sempre procuro visitar, praticamente todas as semanas, quando tenho uma folguinha, para me aprofundar um pouco na história do nosso País.”

Seminarista José Lucas de Lima, 27, costuma visitar igrejas do Centro pela importância histórica delas - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Revelada em primeira mão pelo JC no início do mês, a gestão João Campos (PSB) também apresentou aos religiosos a intenção de montar um roteiro cultural e turístico que irá “religar” os pátios e as igrejas da capital pernambucana, que está sendo elaborado pelo arquiteto Francisco Cunha. Segundo Vilaça, deve ser colocado em prática “ainda neste ano.” A intenção também é ampliar o Recife Sagrado, projeto lançado em 2014 na gestão de Geraldo Julio (PSB) que apresenta aos visitantes a liturgia e os aspectos históricos desses monumentos de sete templos da cidade.

A reunião trouxe para o frei João Amilton, segundo ele, expectativa de mudança. "A gente está nessa esperança de somar forças com toda a representação de grupos diversificados juntamente à Prefeitura, que parece estar bastante entusiasmada. Vamos dar as mãos e torcer para que Deus dê forças e para que o Espírito Santo ilumine para que possamos dar passos qualitativos e com pressa. Não queremos que fique só nas palavras, para que o centro histórico do Recife tenha segurança, tranquilidade e vivência comunitária."

Basílica da Penha, no bairro de São José, Centro do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Capela Dourada, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Recentro

O Recentro prevê ações de curto, médio e longo prazo para os bairros do Recife, de Santo Antônio e de São José, com retomada da moradia, fortalecimento do comércio e do turismo na região. Uma das principais frentes é a reocupação de dezenas de prédios em estado de degradação por incentivos fiscais. Projetos de construção e recuperação total terão 100% de desconto no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), e de 50% para reparos e manutenção por 5 anos para uso não residencial, e 8 anos para residencial. Já os programas de habitação popular terão isenção por 10 anos. Para recuperar imóveis nas Zonas Especiais de Preservação Histórica (ZEPHs) e instalar hotéis e atividades culturais, comunitárias e educacionais, e negócios voltados à beleza e à higiene pessoal, a alíquota do Imposto Sobre Serviços (ISS) será reduzida de 5% para 2%. Também haverá isenção total do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis Intervivos (ITBI).

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