Porto de Galinhas, no Litoral Sul de Pernambuco, vive nesta sexta-feira (1º) o terceiro dia de revolta pela morte de Heloysa Gabrielly, 6 anos, baleada durante ação policial.
Apesar de comércios amanhecerem novamente fechados e serviços estarem paralisados, o acesso ao principal destino turístico do Estado foi desbloqueado.
Nessa quinta (31), barricadas formadas por manifestantes que pediam justiça pela morte da menina estavam postas nas principais vias do balneário, proibindo a passagem de veículos e deixando turistas "presos" no local.
Como a fisioterapeuta Alessandra Freitas, de 47 anos, que chegou a Porto no dia 28 e viu o clima esquentar na região. “Aqui é maravilhoso, nunca tinha ouvido relatos disso. A gente chegou e estava tudo normal. No dia seguinte começaram as manifestações e o negócio ficou feio. Demos sorte de termos feito compras, mas teve gente relatando que ficou sem comida, porque os supermercados estavam fechados”, contou.
À noite, o Governo de Pernambuco determinou o reforço da segurança com o deslocamento de 250 homens das polícias Militar e Civil até o município. Com a chegada do efetivo, as vias foram liberadas. Os protestos também foram encerrados.
A população determinou a paralisação das atividades do distrito após a criança ter sido baleada na Comunidade Salinas com um tiro no peito na noite da quarta (30) e não ter resistido ao ferimento. A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) investiga de onde o disparo partiu.
Na tarde desta sexta, o secretário de Defesa Social do Estado, Humberto Freire, confirmou que Operação Porto Seguro deve continuar atuando na praia pelo tempo que for necessário.
Os estabelecimentos permanecem fechados em Porto. Turistas e moradores de Porto de Galinhas estão aterrorizados; muitos se negam a conversar com a reportagem do JC.
O jangadeiro Carlos Roberto da Silva, 41, participou das manifestações que foram pacíficas, mas defende que o comércio seja retomado para que quem depende dele, a maior parte da cidade, não seja mais prejudicado.
“Jangadeiros são quase uma família, e quando houve o incidente com a menina a gente resolveu parar. Acho que hoje já podia estar todo mundo trabalhando, porque tem muita família que depende da praia. Tenho barraca e faço passeio de jangada, o prejuízo é grande.”
Investigações
A Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) afirma que o caso aconteceu durante uma troca de tiros entre policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e suspeitos de tráfico de drogas. Já familiares de Heloysa que estavam no local da tragédia negam que tenha havido um tiroteio.
O que se sabe, por enquanto, conforme divulgado em imagens de câmeras de segurança, é que duas viaturas policiais perseguiam uma moto momentos antes da criança ser atingida. Só havia um homem nela, diferente da versão informada pela Polícia Militar, de que havia dois suspeitos de tráfico de drogas fugindo.
Os PMs que participaram da ocorrência chegaram ao Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), no Recife, com a viatura marcada de tiros. Eles entregaram três armas de fogo, que estão sendo periciadas. Uma delas seria dos suspeitos, que teriam a abandonado na rua.
Em nota, a Polícia Civil informou que está investigando as circunstâncias da morte. "É prematuro, neste momento, fazer afirmativas."
Já a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social disse ter enviado equipes a Porto de Galinhas para "colher as informações, para verificar se há indícios de autoria e de materialidade por conduta que represente infração disciplinar, visando a subsidiar um procedimento apuratório."