Lidiane cedeu a cozinha da lanchonete e mobilizou amigos e familiares. Valéria doou alimentos. Pâmela, Paula e Greice prepararam a comida. Jean levou as marmitas de moto até um dos locais de doação. Jeckson comeu uma das quentinhas. E assim, num trabalho coletivo, voluntário e de muita cooperação, o sofrimento de centenas de famílias afetadas pelo temporal em Pernambuco está sendo amenizado. Também ajuda moradores e equipes de órgãos públicos que trabalham incansavelmente no resgate de vítimas das enchentes.
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Muitos nem se conheciam. Se juntaram diante dos estragos que viram na rua vizinha ou por relatos de um amigo, pelas redes sociais e na imprensa. Desde sábado, dia em que o Recife e Região Metropolitana mais sofreu com a chuva, não pararam. Fizeram cota, foram ao supermercado comprar mantimentos, convocaram outras pessoas para se unirem na rede de solidariedade. Já distribuíram mais de mil quentinhas e 500 cestas básicas, além de roupas, água e produtos de higiene e limpeza.
Foram até comunidades que estão próximas de onde vivem, na Zona Sul do Recife, e em Jaboatão dos Guararapes: Buracão, Betel, Muribeca, Marcos Freire, Jardim Monte Verde (onde 20 pessoas morreram soterradas), Ibura. No Estado, segundo o governo, são mais de 6 mil desabrigados e 91 mortos.
MOBILIZAÇÃO
"No sábado, depois de ver tanta destruição, decidi ajudar. Formei um grupo no Whatsapp com cinco amigas. Cozinhamos cuscuz e sopa e levamos para o Ibura. Em pouco tempo não imaginava a mobilização de tanta gente. Começamos cozinhando na minha casa, mas depois abri a cozinha da lanchonete pois o volume aumentou muito", conta Lidiane Ferreira, 33 anos, moradora da UR-5. O grupo ontem estava com 252 participantes.
Sua pastelaria deveria ter funcionado no sábado e domingo, dias em que há um bom movimento. Mas não havia como parar a produção de marmitas. Em todo os cantos, havia doações espalhadas, gente trabalhando, comida sendo preparada e organizada para distribuição.
"Estou cheia de contas para pagar. Mas não tem dinheiro que pague ajudar tanta gente. Tirei alimentos da minha casa e da lanchonete. O caos em alguns lugares de Recife está muito grande. A recompensa é ver o sorriso de quem está precisando. Deus vai me recompensar", ressalta Lidiane.
CONFORTO
A auxiliar de serviços gerais Valéria Conceição, 32, mora perto da lanchonete. Soube da mobilização e levou uma sacola com arroz, feijão, fubá, biscoito e macarrão. A depiladora Pâmela Emilayne, 27, fez o mesmo que Lidiane. Juntou amigos e familiares e igualmente produziu marmitas que foram entregues a moradores devastados pelo temporal. Nesta segunda-feira ela se juntou aos voluntários da UR-5.
"Só dá para ter noção da destruição vendo de perto. Muitas pessoas perderam tudo. É uma forma de aliviar esse sofrimento", diz Lidiane. "Não posso ajudar financeiramente. Mas posso contribuir com meu suor, meu trabalho. Nessa comida que estou fazendo tem amor, carinho e compaixão", garante a cozinheira Greice Gomes, 39.
Atuando como voluntário nas buscas por desaparecidos na comunidade de Buracão, na Vila dos Milagres, no Ibura, Jeckson Santos, 39, comeu cuscuz com salsicha. O almoço foi entregue pelo vigilante Jean Silva, 27, que aproveitou o dia de folga no trabalho para ajudar a ação pensada por Lidiane. "Estamos trabalhando muito no meio da lama, com sol e chuva. Essa comida é muito importante, nos fortalece", garante Jeckson.
Quem quiser ajudar pode doar alimentos não perecíveis, água mineral, produtos de higiene pessoal e embalagens descartáveis (para colocar as refeições). Basta levar para a Avenida Expedicionário Francisco Vitoriano, 31, na UR-5, Ibura. Contribuições em dinheiro para o pix 81-987221735 (em nome de Pamela Emilayne).