"Não existe descarte na política, principalmente quando temos bandeiras em comum, projetos em comum. A política não é feita construindo muros. Quem faz a política do muro não avança", disse a pré-candidata à Prefeitura do Recife, Isabella de Roldão (PDT), quando questionada se o partido havia "descartado" a possibilidade dela ser vice em uma chapa com João Campos (PSB), também pré-candidato à Prefeitura. Roldão reforçou sua pré-candidatura e afirmou estar à disposição do partido em qualquer situação.
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"Se o PDT vai caminhar para que o meu nome seja posto como candidata a prefeita, estou a disposição. Se o PDT compreender que o nome vai ser o de Túlio Gadelha (também pré-candidato do partido), estou também à disposição para pensar como essa coisa vai se dar, até como uma vice. Eu não estou sendo cotada para ser vice de uma chapa que me é completamente hostil politicamente e ideologicamente falando. A gente tem coisas muito próximas, em comum e que são muito caras, inclusive, para as nossas pessoas", disse Isabella, em entrevista ao Resenha Política, nesta quinta-feira (20), que tem realizado uma série de lives, na TV JC, com os pré-candidatos à Prefeitura do Recife.
Um dia após o deputado federal Túlio Gadêlha (PDT) lançar oficialmente a sua pré-candidatura a prefeito do Recife, o diretório estadual do PDT, comandado pelo também deputado federal Wolney Queiroz, emitiu uma nota informando que Isabella também colocaria seu nome no páreo para representar o partido no pleito deste ano. Wolney é aliado de primeira hora do PSB, partido que atualmente administra a capital.
Questionada sobre como estavam as discussões dentro do partido sobre as duas pré-candidaturas, Isabella disse reconhecer a importância do nome de Túlio dentro do partido, mas defendeu que tem experiência para concorrer ao pleito. "Eu acho que tenho uma pequena vivência política na minha cidade que me respalda para disputar. Eu compreendo e acho que Túlio é um nome importante dentro do partido, mas isso não me descredencia. Fica aquilo de "por quê que eu não posso ser?".
A ex-vereadora ainda contou que ficou surpresa com o anúncio da pré-candidatura de Túlio, já que meses antes ele teria colocado condições ao PDT para que concorresse; condições nas quais não foram cumpridas.
"Em março, em tese, Túlio tinha retirado a candidatura por conta daquelas questões. Essa coisa não aconteceu. Eu fiquei surpresa com a recolocação do nome dele como pré-candidato. Eu acredito que, pelo o histórico do partido de resolver as coisas internamente, a gente vai conversar sobre isso. Túlio é um cara acessível", explicou.
Outro ponto discutido na entrevista foi sobre rumores de que Isabella sofre rejeição por uma parte do PSB, e de que isso inviabilizaria uma aliança como vice-prefeita em uma chapa com João. Perguntada sobre isso, Roldão afirmou que não via isso de forma negativa e culpou o machismo em sua época como vereadora da Câmara municipal do Recife, onde muita vezes fez oposição ao partido.
"Eu faço um recorte de gênero aqui. Quando eu fui eleita vereadora, existia uma expectativa por ser nova, loira, branca, mulher, mas eu me posicionei fortemente com as coisas. Eu não sou a Isabella quietinha, dócil. Eu tenho posicionamentos. Quem achou que eu seria uma pessoa domável, eu não sou. Eu me vi em episódios na Câmara que foram desagradáveis. Atitudes extramente machistas, desrespeitosas, que se a gente não entrar para se impor, vamos ter perfil de dócil", contou.
A pré-candidata defendeu que todos os planos e propostas para o Recife deveriam ser construídos com base no bem-estar social. "Eu diria que um dos grandes problemas da cidade é a forma como ela deve pensar no bem-estar social. A gente precisa pensar numa cidade de fato mais justa. É a partir desse gancho do estado de bem-estar social que a gente consegue ver os ramos que precisamos fortalecer. Passando pelo processo da educação, mobilidade, saúde", explicou.
"A gente precisa amadurecer e continuar no processo de que o melhor tem que ser feito para as pessoas que mais precisam. Isso é um processo de mentalidade mesmo. Não ter que ter arrumadinho, tem que ter essa continuidade de arrumação."
Como exemplo, a ex-vereadora citou o Hospital da Mulher e defendeu a qualidade do atendimento. "No meu plano de parto, que tive em casa, eu coloquei que caso houvesse algum problema, eu iria para o Hospital da Mulher. Eu acho que o Hospital da Mulher deveria ser referência para todo um atendimento de saúde. Não só pela estrutura física, mas também pela humanização no atendimento".
Isabella, que ocupou o cargo na Secretaria de Habitação do Recife até abril de 2020, quando se desincompatibilizou da função para ter a possibilidade de concorrer nas eleições, foi questionada sobre o déficit de habitações no município. A pré-candidata admitiu um déficit "qualitativo e quantitativo" na cidade, mas defendeu que tentou ser "criativa" em sua gestão.
"De fato o déficit habitacional na nossa cidade é enorme. Não há dinheiro no município suficiente para sanar isso. A gente tem que ser criativo e precisa começar com coisas muito simples. Implementamos, ainda na Secretaria, a autoconstrução e as melhorias habitacionais. No caso da autoconstrução, a gente dava o material, capacitava o dono do terreno e ele, junto do amigos, começava a construir a própria casa. Então a gente tem que pensar de forma alternativa e sustentável", contou.
Mesmo com as dificuldades na gestão, a ex-secretaria comemorou os avanços que foram alcançados. "Pequenas reformas, de no máximo 5 mil reais, como adaptar um banheiro, fazer uma rampa, trocar um telhado. A gente começou a trabalhar de uma forma possível nessas melhorias. O déficit habitacional está também no universo da habitação qualitativa, não só quantitativa. Sou testemunha do esforço para a construção do Encanta Moça. Lembro de estar em Brasilia, despachando com o secretario nacional da habitação, para ver se a gente conseguia liberação para esses contratos. Infelizmente, até a minha saída da Secretaria, eles ainda não tinham liberado recursos suficientes".
Em sua conclusão, Isabella defendeu a vida pública e convocou os jovens a não desistir da política. "O tempo politico está difícil mesmo. Quero reforçar que política é lugar de gente séria. Não é 10, 20 ou 100 que estão por aí aprontando, que vão conseguir contaminar todo um processo que é essencial para as nossas vidas. Se existe uma vocação de trabalhar com o público, no serviço, entre para a política. Tem muros e tem pontes, na vida é assim e na política também. E na minha opinião, o caminho é da ponte", finalizou.