Alvo de disputas para cabo eleitoral entre os partidos de direita do Recife, o presidente Jair Messias Bolsonaro (sem partido) não é bem avaliado pela população da capital pernambucana. De acordo com a pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, para 43% do eleitorado recifense, Bolsonaro tem comandado uma gestão ruim ou péssima. Para 28%, a atual gestão do governo federal tem sido regular, ao passo que 29% a avaliam como ótima ou boa. O pessimismo, segundo especialistas, reflete o perfil de resistência às pautas bolsonaristas na região, mas não significa a falta de espaço para crescimento de uma chapa direitista na disputa pela Prefeitura do Recife.
Apostando na manutenção da polarização registrada na última eleição presidencial, as candidaturas de direita não têm buscado descolar do presidente na disputa majoritária municipal. O motivo é que mesmo com a rejeição, Bolsonaro também tem dado vazão a um movimento de ampliação do seu capital político, sobretudo com perfis que têm sido beneficiados de maneira mais imediata.
“No Recife a gente tem um perfil de eleitorado ainda com uma tradição de esquerda muito forte. Elegemos sucessivas gestões no governo estadual e municipal. Agora existe um percentual do eleitorado insatisfeito. O caminho não é claramente bolsonarista, existe muita resistência ao discurso dele, mas por renda, por classe social, a gente consegue ver um crescimento de Bolsonaro no eleitor de baixa renda, beneficiado com o auxílio (emergencial), uma coisa mais imediatista”, aponta a cientista política Priscila Lapa.
O avanço de Bolsonaro sobre o eleitor mais pobre não deve ser o fio condutor para impulsionar uma chapa mais de direita no Recife. Seguindo a linha da primeira rodada de resultados da pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, a concepção da cientista é de que o pleito local de fato reedite a polarização vista na eleição presidencial de 2019, mas sofra um apelo muito mais de rejeição à esquerda, independentemente da figura do presidente. “Tem espaço porque, dentro da movimentação nacional, temos claramente uma resistência aos nomes de esquerda. Acho que Marília (Arraes, PT) teve uma queda muito mais por conta do perfil do partido dela. A movimentação que temos de Mendonça (Filho, DEM) sinalizando a Bolsonaro, conquista um voto mais popular, de base, dessas pessoas que hoje associam o presidente a essa avaliação positiva, mesmo não sendo a maioria no Recife”, diz Priscila.
A independência do presidente, também é apontada pelo ex-ministro e aliado do candidato do DEM Armando Monteiro. “O que vai pesar decisivamente na eleição é a discussão do Recife, discutir um projeto para o Recife. Na medida em que ele (Mendonça) tem experiência, já mostrou nas posições que ocupou que se saiu bem, teve um bom desempenho, então o que vai dar a candidatura dele força é o próprio perfil dele”, afirma. Mesmo assim, Monteiro reforça que a candidatura de Mendonça é “amigável ao governo federal” e isso só resulta na não “dificuldade de dialogar com o governo federal no interesse do Recife”.
Procurado, Mendonça Filho não quis comentar os resultados da pesquisa, mas outros candidatos que têm se valido da popularidade do presidente preferiram desacreditar os números apontados pelo Ibope. Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB) questionou a credibilidade da pesquisa e disse continuar “achando que Bolsonaro é o maior eleitor do Recife”, seguindo a mesma linha do Coronel Alberto Feitosa (PSC). “Mais uma vez eu questiono o resultado, porque todas as demais pesquisas davam uma avaliação positiva do presidente. Mais um motivo para a gente também desacreditar e não considerar esse resultado. Em todas as pesquisas que foram mostradas anteriormente davam o presidente Bolsonaro bem avaliado”, comentou.
Na última pesquisa CNI/Ibope, em todo o País, o governo Bolsonaro era avaliado como bom ou ótimo por 40% dos entrevistados. No fim de 2019, 19% das pessoas que recebiam até um salário mínimo consideravam o governo ótimo ou bom. O índice agora já é de 35%.
“Para todos esses candidatos que apoiam Bolsonaro, o que me parece é uma preocupação com 2022. Se você cativa esse eleitorado, há uma faixa interessante para disputar mandato proporcional em 2022. Para esses (candidatos) menores nacionalizar e usar o nome de Bolsonaro é uma estratégia para cativar um nicho, consolidando-se e tendo referência para a disputa em 2022”, analisa o cientista político Vanuccio Pimentel.