Candidata a prefeita do Recife pelo Podemos, Delegada Patrícia reforçou o apoio que recebeu do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o diálogo com a iniciativa privada e o discurso de contra a "velha política", durante o debate da TV Jornal, realizado na manhã desta terça-feira (10).
Ao abrir o debate, a delegada teve de responder o motivo pelo qual quer ser prefeita da capital pernambucana e iniciou sua fala reforçando que não é política de carreira. "Estou aqui hoje, não como política, não sou política e não quero fazer carreira na política. Estou como cidadã, representando cada um de vocês que não aguenta mais pagar imposto para sustentar as mordomias das famílias, inclusive das que estão aqui neste debate, para vocês que não aguentam mais 20 anos de gestão do PT e PSB afundando nossa cidade na miséria, colocando a população em ônibus quentes e lotados, fazendo que nossos idosos cheguem num posto sem remédio, a todas as mães que não tem filho numa creche para deixar em segurança, a todos que tem medo de ser assaltado. Sou opção à velha política, que está sugando do povo há anos, somos a representação da nova política", disse.
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A última semana de campanha antes do primeiro turno é decisiva para Patrícia. A candidata viu seu percentual de intenções de voto diminuir ao mesmo tempo em que sua rejeição dobrou no Recife, segundo a quarta rodada da pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, divulgada na noite dessa segunda-feira (9). Para especialistas ouvidos pelo Jornal do Commercio, a candidata sofreu com o impacto de publicações antigas nas redes sociais, nas quais chamou o Recife de Recífilis, e com a ausência de uma estrutura partidária que lhe desse mais força para rebater os adversários que exploraram essas publicações. O recente apoio que a delegada recebeu do presidente Jair Bolsonaro à sua campanha ainda não dá a certeza de crescimento à postulante, mas é a última cartada da delegada.
O primeiro embate da delegada no debate se deu com o candidato Mendonça Filho (DEM). O candidato perguntou a proposta de Patrícia para o Canal do Ibiporã, no Coque, e ela disse que a pergunta deu "tom infantil" ao debate. "Nossa gestão vai gerir para todos os moradores, não adianta Mendonça, por você ser do Recife, querer me dizer um local específico aqui ou ali. Ninguém aqui conhece todos os canais pelo nome, isso é trazer o debate para um tom infantil, a gente está falando de soluções de saneamento, de poder limpar os canais, de poder fazer a cidade funcionar. Estive no canal Rio da Prata, onde o PSB, de João Campos, reformou a metade que dá para a pista principal e a outra metade abandonou. No local, eu vi dois porcos mortos boiando no canal e os moradores moram dentro da lama, com esgoto a céu aberto na porta de casa. Não vamos reestruturar um canal, vamos reestruturar todos, nossa gestão terá apoio do governo federal para trazer aportes financeiros para obras de infraestrutura", disse Patrícia.
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Em sua réplica, Mendonça apontou um desconhecimento da candidata dos problemas do Recife. "Não falamos de um canal extraordinário, nem foi uma pegadinha, é um canal que corta o Coque, afeta 50 mil pessoas e envolve uma obra de 18 milhões de reais. Há sete anos que se sucedem governos com promessas de entrega e nada, nossa gestão busca concluir essa obra. Imaginei que você tivesse conhecimento melhor da cidade e das obras em andamento contratadas pela péssima gestão de do PSB, de Geraldo Julio, vamos levar adiante essa obra, investir forte no saneamento básico", disse o candidato.
Delegada Patrícia teve direito à tréplica e partiu para as críticas à política, inclusive, citando os nomes de João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT). "Enquanto Mendonça e os demais aqui conheciam a cidade fazendo política, porque vivem da política, o primeiro emprego foi na política, Mendonça está na política há 30 anos, Marília há 12 anos e o primeiro emprego de João Campos foi chefe de gabinete de Paulo Câmara. Eu conheci a cidade como delegada, prendendo político corrupto, prendendo quem desviou dinheiro de merenda da população, da saúde, sou delegada há 12 anos e coloquei 49 políticos corruptos na cadeia. Tive coragem de fazer o que ninguém nessa cidade fez e demonstrei o amor ao Recife", afirmou.
Confira o debate:
Na reta final da campanha, Delegada Patrícia aposta suas fichas no apoio que recebeu do presidente da República Jair Bolsonaro no último sábado (7), tanto que a candidata já esteve em Brasília nessa segunda-feira para participar de uma live com o presidente. Durante o debate, Patrícia pôde discutir o apoio de Bolsonaro com outro candidato que esperava ganhar a atenção do presidente, o Coronel Feitosa (PSC). Ela questionou ao coronel a importância do apoio do presidente na capital.
"Todo apoio é muito importante. E lamento que o governo de Geraldo Julio e o de Paulo Câmara tenham fechado as portas para esse apoio. Votei no presidente Bolsonaro e fui o único candidato que pautou a campanha com as pautas do governo federal. Defendendo a pátria, Deus e família, o uso da hidroxicloroquina como tratamento precoce do coronavírus. Não defendendo o 'fique em casa', como a senhora defendeu. O presidente deixou bem claro que era contra o fique em casa e você não disse a ele. Você não assumiu em hora nenhuma que não defendeu as pautas dele", disse Feitosa.
Delegada Patrícia aproveitou seu momento de fala para reforçar que abriu um canal de diálogo com o presidente e que isso pode ajudar o Recife, caso seja eleita. "Para mim, foi uma alegria abrir esse canal de diálogo, temos apoio de Bolsonaro para concretizar a mudança na cidade do Recife e ter essa porta de diálogo que o PSB fechou. O senhor [Feitosa] tem 25 anos como policial militar, mas será lembrado por ter votado a favor de fechar a delegacia que combatia a corrupção, isso ficará na sua história, a delegacia foi fechada com apoio dos deputados e Feitosa foi um deles", alfinetou a delegada.
E o coronel rebateu. Segundo Feitosa, a delegada se faz de "vítima" sempre que fala da extinção da antiga Decasp. "Você sempre se aproveita e se coloca na posição de vitima. Depois de você ter chamado a cidade de Recífilis e chamado o povo do Recife de feio, ter ido para a mídia assumir e depois ter negado, você, mais uma vez, prega através da mentira sua plataforma de campanha. Não é verdade que acabamos com a Decasp. Você foi uma gestora incompetente na Decasp. Lá, quando o Ministério Público pegou toda a documentação, tinham 249 processos que você deixou prescrever. A prescrição de um processo de corrupção, se você não sabe, leva 11 anos. Você não fez nada com essas pessoas. Quem você queria proteger?", questionou.
A troca de farpas de Patrícia e Feitosa gerou dois direitos de resposta, um para a candidata do Podemos, que foi chamada de mentirosa e outro ao candidato do PSC, que também foi taxado de mentiroso. "Sobre o Coronel Feitosa me chamar de mentirosa, sempre trabalhei com a verdade, minha vida é pública, em quatro anos na Decasp trabalhei com a verdade, vimos ele defender o fechamento da delegacia, sabemos quem é o mentiroso, quero informar a Feitosa que fiz 15 grandes operações na delegacia, mais de 200 buscas e apreensões, prendi políticos corruptos e empresários, recuperamos 13 milhões de reais aos cofres públicos, prendi o primeiro prefeito, a primeira delação foi comigo", se defendeu Patrícia. Por sua vez, Feitosa respondeu que votou pela ampliação no combate à corrupção, pois de uma delegacia, se tornaram quatro. O candidato voltou a falar dos processos que prescreveram com Patrícia e a chamá-la de "incompetente".
Mesmo criticando a gestão do PSB, Delegada Patrícia, pela ordem das perguntas acabou não tendo confronto direto com João Campos (PSB). Mas, teve a oportunidade de debater com Marília Arraes, candidata do PT, outro partido criticado pela delegada.
Para Marília, Patrícia perguntou sobre a geração de emprego e disse que o Partido dos Trabalhadores vive de "cabide de empregos" por ter cargos comissionados na gestão do PSB. Ainda segundo a delegada, o partido de Marília só entende que empregos devem vir do setor público.
Por sua vez, Marília Arraes destacou números da gestão petista no Brasil, que teve oito anos do ex-presidente Lula, que apoia Marília, e Dilma Rousseff, que ficou quase seis anos, até sofrer o processo de impeachment. "O PT não acha que todo emprego vem do setor público, quando o PT governou o País, geramos emprego e muito, o Brasil tinha taxa de pleno emprego, Pernambuco tinha taxa de 4% de desemprego e a Espanha com 25%. Hoje, o Recife é a capital do desemprego, temos 150 mil desempregados, 18 mil postos de trabalho fechados, de janeiro a agosto, e mostra incompetência do PSB. É importante separar bem quem são eles e quem somos nós (PSB e PT), vamos melhorar o tratamento das empresas, dos MEIs, é possível dar auxílio para população fazer seus negócios, vamos desburocratizar a máquina pública para o empresário ser melhor tratado, é perfeitamente possível", disse a petista.
Na sua réplica, Delegada Patrícia aproveitou para manter os acenos ao setor privado que vem fazendo durante toda a campanha. "O melhor programa social não é dar dinheiro, é gerar emprego. Vamos batalhar para que a cidade gere emprego e renda, temos diversos projetos para que a cidade possa trazer a iniciativa privada como braço amigo da gestão, queremos a iniciativa privada tendo espaço na cidade para fazer com que as pessoas tenham sustento e digam que sustentam suas famílias, sem esmola de político, queremos povo livre, através de emprego, vamos qualificar jovens e adultos para o mercado de trabalho", disse.
Na tréplica, Marília Arraes apresentou suas propostas para quem possui MEI e paga IPTU comercial. De acordo com a candidata, esse público será isento da taxa. "Quem é MEI, é trabalhador. Vamos ligar a capacitação à demanda do mercado de trabalho, vamos encaminhar os jovens ao mercado de trabalho e fazer a retomada econômica que com a pandemia parou e tinha parado antes com Geraldo Julio, vamos dar auxílio ao ambulante, ao comerciante informal, que tem mercadoria tomada nas ruas do Recife porque busca seu sustento. Vamos fazer o recifense voltar a se orgulhar de sua cidade", concluiu Marília.