Em meio às discussões levantadas nesta terça-feira (18) na Câmara dos Deputados durante debates acerca do Projeto de Lei 399/2015, que pode autorizar a liberação do cultivo de cannabis sativa para fins medicinais, o deputado federal Daniel Coelho (CID) usou um exemplo familiar para justificar o seu apoio à proposta. Segundo o parlamentar, a sua esposa, a nutricionista Rebeca Coelho, que está em tratamento contra um câncer, tem utilizado o óleo da cannabis para reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia.
"Eu tenho dois filhos, Lucas e Helena, e sou casado com Rebeca. Há cerca de dois anos, eu fui buscar os meus filhos na escola e terminei sendo chamado pela professora para ela entender um desenho que o meu filho tinha feito na sala de aula. Quando foi solicitado para ele desenhar a sua família, ele desenhou o pai trabalhando e a mãe na cama, dormindo. Na memória dele, a mãe vivia na cama. A minha esposa há dois anos faz um tratamento de quimioterapia e por muito tempo ela teve de abdicar das próprias atividades de mãe e das suas atividades profissionais como nutricionista. De alguns meses para cá, baseada em uma liminar e com um custo altíssimo - que graças a Deus a nossa família pode pagar -, ela começou a utilizar o óleo de cannabis. Hoje, ela continua o tratamento, mas não mais na cama. (...) Após o uso do óleo da cannabis, ela diminuiu o uso de corticoides, parou de enjoar, de vomitar e passou a ter uma vida normal", declarou o deputado pernambucano.
Sobre o mérito do que está em discussão na Casa, Daniel criticou o tom político que alguns parlamentares têm tentado colocar sobre o tema e afirmou que não se deve misturar o uso recreativo da maconha com a utilização medicinal da cannabis, pois essas seriam coisas completamente diferentes. "A gente está fazendo aqui esse debate, muitos querendo usar dessa discussão para ganho eleitoral, mas o óleo de cannabis nada tem a ver com a maconha recreativa. Não 'dá barato', ninguém 'viaja' tomando óleo de maconha, não. O óleo da cannabis é um remédio que possibilita a pessoa que está fazendo uma quimioterapia ter uma vida normal; possibilita alguém que está com alzheimer e não reconhece mais o filho, após a sua utilização, olhar para o filho e reconhecê-lo de novo; possibilita a uma criança com autismo ter uma vida normal, estudar, poder trabalhar; possibilita a uma família que tem uma pessoa com epilepsia ficar tranquila de que ela vai poder caminhar nas ruas sem cair, ter um acidente, poder ser atropelada. E a gente aqui fazendo uma discussão com cunho eleitoral, apelativo, como se nós estivéssemos discutindo a liberação de uma droga", disparou.
O parlamentar frisou, ainda, que não teme perder votos por conta do seu posicionamento, uma vez que tem convicção que a provação do projeto de lei poderá beneficiar muitas famílias que, hoje, só podem ter acesso à cannabis via decisão judicial. "Eu não tenho nenhuma dúvida que se eu tiver de escolher entre perder eleição, entre perder votos e defender uma vida, eu vou defender uma vida. Quanto mais milhares de vidas nesse país? Só a Abrace (Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança), na Paraíba, tem 14 mil pacientes que estão recebendo hoje o medicamento de forma precária, através de uma decisão judicial. (...) Eu escolhi um lado aqui, é o lado da vida, é o lado daquilo que é certo. Se prejuízos pessoais terei, terei muito orgulho lá na frente de olhar para os olhos dos meus dois filhos, de Lucas e Helena, e dizer que lutei o quanto pude para defender o bem-estar da mãe deles e de muitas e muitas mães, filhos e avós que precisam desse medicamento", observou Daniel.
CONFUSÃO
A sessão de hoje da comissão especial que debate o tema na Câmara foi bastante tensa e terminou em confusão. O imbróglio, gerado por um desentendimento entre o presidente da Comissão, Paulo Teixeira (PT), e parlamentares aliados do Palácio do Planalto, teve até agressão física, mas a segurança da Casa e os demais deputados presentes no momento conseguiram evitar um embate ainda maior entre os envolvidos.