Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes disse que as cenas de violência da Polícia Militar de Pernambuco para dispersar um protesto contra o presidente Jair Bolsonaro e em favor de vacinas contra covid-19 causam "preocupação com o despreparo das forças para lidar com manifestações de grande porte, que tendem a se tornar frequentes em 2022".
Durante o lamentável episódio, dois homens que não participavam do ato foram atingidos nos olhos por balas de borracha disparadas por PMs. O governo estadual não informou quem deu a ordem para a Polícia Militar usar gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha contra os manifestantes, mas o governador Paulo Câmara (PSB) afirmou que o comandante da operação e quatro policiais militares envolvidos na agressão à vereadora do Recife Liana Cirne (PT) foram afastados das funções e são investigados.
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"As cenas de truculência e brutalidade da ação policial em Recife causam imensa preocupação com o despreparo das forças para lidar com manifestações de grande porte, que tendem a se tornar frequentes em 2022. Dois homens que sequer manifestavam perderam um olho. Até quando?", questionou Gilmar Mendes em seu Twitter, na manhã desta segunda-feira (31).
Atingidos
Após serem atingidos nos olhos pelas balas de borracha atiradas pelos PMs, Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, e Jonas Correia de França, de 29 anos, foram socorridos para o Hospital da Restauração, na área central do Recife, onde seguem em observação nesta segunda-feira (31). Um terceiro ferido, Ednaldo Pereira de Lima, de 58 anos, foi atingido na perna, mas teve alta na manhã do domingo (30).
Paulo Câmara determinou, na manhã deste domingo (30), que a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) acompanhe a assistência médica aos dois homens feridos. O governador também acionou a Procuradoria Geral do Estado (PGE) para, em conjunto com a SJDH, iniciar o processo de indenização aos atingidos. “Assim como estamos acompanhando a investigação que está sendo realizada pela Corregedoria, também vamos seguir de perto a assistência às pessoas que resultaram feridas”, afirmou.
Manifestação
No sábado (29), o protesto era, até então, pacífico, mas aconteceu em descumprimento ao decreto estadual que proíbe aglomerações de pessoas devido à crise sanitária causada pela covid-19. Ao chegar na Ponte Duarte Coelho, o ato foi surpreendido por uma barricada da PM que avançou contra os manifestantes, que afastavam-se do confronto em direção à Rua da Aurora. Bombas de gás lacrimogênio foram lançadas contra os militantes. Havia cerca de dez viaturas da PM no local. Ainda, um helicóptero da Secretaria de Defesa Social (SDS) rondava a Avenida Conde da Boa Vista.
"Estávamos tranquilos, chegando na Avenida Guararapes, quando fomos confrontados pelo Choque e recebidos com bala de borracha. Foi desnecessário. Você diz que está protegendo a saúde do trabalhador, mas estava ferindo e colocando em risco a integridade física dos manifestantes. A policia agiu de maneira arbitraria e truculenta por mais de 40 minutos. Tivemos companheiros feridos e presos", relatou no dia Antônio Celestino, que integra a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB-PE).