O PDT lançará oficialmente a pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes à presidência da República, nesta sexta-feira (21), após a realização da Convenção Nacional do partido. Com o nome colocado oficialmente na corrida eleitoral, a expectativa é de que Ciro possa iniciar uma série de agendas políticas pelo Brasil, o que poderá ajudar a impulsionar a montagem dos palanques estaduais a favor da sua postulação. Até o momento, o que tem sido observado é que essas amarrações políticas com os partidos têm recaído muito mais ao direcionamento do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e dos dirigentes estaduais e municipais.
A exemplo de outros nomes que também estão colocados como pré-candidatos, Ciro não tem marcado presença nos estados e nem exposto conversas com as lideranças locais. Em Pernambuco, no ano passado, já cumpriram agenda no Estado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi à mesa com o governador de Pernambuco Paulo Câmara e, posteriormente, com o prefeito do Recife, João Campos.
Vale lembrar que o PT e PSB têm travado uma verdadeira batalha sobre a composição dos palanques estaduais que possam vir a dar sustentação à candidatura de Lula. E os socialistas são colocados como aliança prioritária do PDT para apoiar Ciro.
- PDT discute a ideia de retirar Ciro Gomes da disputa presidencial em 2022
- Lula seria o principal herdeiro dos votos de Ciro Gomes, aponta pesquisa
- Vídeo: após reclamar de falta de debate, Sergio Moro se nega a conversar com Ciro Gomes
- Aqui, onde Renan é esteio moral e Ciro Gomes é um poço de sensatez, Guido Mantega seria um ótimo ministro da Economia
- Ciro Gomes trabalha para ter Marina Silva como sua vice, diz jornalista
O governador de São Paulo, João Doria, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também estiveram no Estado em uma agenda que fazia parte das prévias do PSDB para a escolha do candidato a presidente. Durante sua passagem, além de ser recebido pela prefeita de Caruaru e presidente estadual do PSDB, Raquel Lyra, o governador tucano também esteve reunido com Paulo Câmara.
Já o presidente Jair Bolsonaro (PL), esteve em Pernambuco duas vezes no ano passado. Em setembro, participou da cerimônia de posse do novo comandante do Comando Militar do Nordeste (CMNE), no Recife, e no dia seguinte participou de uma motociata partindo de Santa Cruz do Capibaribe até Caruaru. Em outubro ele voltou ao Estado para inaugurar mais um trecho no Ramal do Agreste, no município de Sertânia.
No mês passado, foi a vez do ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, cumprir sua primeira agenda no Nordeste, após ser lançado oficialmente como candidato pelo partido Podemos. Ele esteve no Recife, para lançar o seu livro “Contra o Sistema de Corrupção”.
O ex-juiz da Lava Jato, inclusive, tem ultrapassado Ciro Gomes nas pesquisas de opinião mais recentes, sendo o terceiro colocado na preferência de votos - atrás do presidente Jair Bolsonaro e de Lula - e disse não ter interesse em debater com o líder pedetista. Prontamente, Gomes foi até as redes sociais desafiar Moro, além de chamá-lo de “corrupto” e "bandidão despreparado”.
Sérgio Moro passou todo o dia de ontem sem responder se topa ou não debater comigo. Isso depois de dizer numa entrevista que aceita debater com qualquer um. Aproveitei a CIRO GAMES de ontem pra reforçar o convite e estou esperando o retorno. E aí, Moro? #DebateCiroeMoro pic.twitter.com/kbyVQ1JAcC
— Ciro Gomes (@cirogomes) January 12, 2022
“Penso que um problema é que a estratégia nacional do PDT ou de Ciro, pois aparentemente a estratégia é dele, não é dialogada com os outros atores estaduais. Há uma dissonância entre a estratégia nacional de Ciro e as alianças regionais que têm caráter diferente e precisam de outra costura”, avaliou o cientista político e professor da Asces-Unita, Vanuccio Pimentel.
“Eu acho que aí é onde está o problema maior, a posição de Ciro e uma certa inflexibilidade com relação à candidatura pode gerar alguns atritos em nível local e Pernambuco é um polo importante para o PDT de sobrevivência nacional e como partido, porque a cláusula de desempenho e outras coisas exigem que você tenha uma capilaridade maior”, comentou o docente.
Sob essa perspectiva da "ausência" de Ciro Gomes nos estados, o presidente do PDT de Pernambuco e deputado federal, Wolney Queiroz, reconhece que o líder pedetista poderia estar tendo uma presença mais efetiva nestes pólos, mas afirma que a agenda em janeiro ficou um pouco atropelada. O primeiro fator é relacionado ao aumento do número de casos da covid-19 e da influenza H3N2.
“Havia uma previsão de que ele estivesse aqui no dia 11 de fevereiro para fazer uma agenda com o partido, agora com esse crescimento dos casos da covid-19, isso está suspenso. Não faria sentido trazer Ciro sem poder fazer um evento maior, com visita aos partidos. O que posso asseverar é que assim que passar essa fase mais crítica da covid-19, nós vamos fazer o lançamento da candidatura dele aqui no Estado e ele terá uma agenda pública, irá encontrar o governador Paulo Câmara e o prefeito João Campos”, declarou Queiroz, em entrevista ao JC.
As dificuldades da conjuntura nacional não são um problema a ser enfrentado exclusivamente por Ciro, mas por qualquer candidato que esteja sendo colocado como uma opção da terceira via. Segundo Vanuccio Pimentel, a viabilidade desse projeto nacional deve levar em conta os sacrifícios em torno das alianças regionais.
“ O que o cenário mostra é que é muito difícil você romper as alianças regionais agora em torno de um projeto nacional que aparentemente não tem o mesmo fôlego de 2018, então eu acho que esse cálculo ainda vai ser feito para tentar equalizar essas forças, os interesses nacionais e regionais”, explicou o cientista político.
Articulações
O deputado federal Wolney Queiroz reforçou que o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, tem “carta branca” para fazer essas movimentações em prol da viabilidade da candidatura de Ciro Gomes. Para o secretário-geral do da sigla e presidente do PDT do Recife, Fábio Fiorenzano, há um trabalho de base permanente para a postulação de Ciro, que é considerada “irrevogável” - prova disso é que Lupi esteve ano passado em Pernambuco e cumpriu agenda em outros municípios para conversar sobre Ciro e as nominatas do partido.
Paralelo a presença do presidenciável, o PDT tem o desafio de ampliar sua representatividade no Legislativo. A federação está na pauta, mas é um tema que tem sido tratado com cautela. Siglas como Avante, PSC, DEM e PSL, estão no radar das conversas. “Existe uma dificuldade de montar uma legenda com essas novas regras eleitorais, de ter 80 mil votos para eleger um deputado estadual e 190 mil votos para federal, isso é algo que estamos enfrentando hoje. Ainda não fechamos a nominata, mas o PDT deverá sair fortalecido nas eleições”, afirmou Fiorenzano.
O PDT também deixa claro que não dá para usar as eleições municipais de 2020 como parâmetro para o pleito de 2022, onde mesmo compondo uma chapa com o PSB e elegendo a vice-prefeita Isabella de Roldão, não conseguiu conquistar nenhuma vaga na Câmara Municipal do Recife.
Primeiro porque houve um racha na sigla quando o deputado federal Túlio Gadêlha lançou de forma independente o seu nome como pré-candidato a prefeito. O posicionamento de Túlio acabou culminando na sua destituição como dirigente do partido no Recife e chapa de vereadores lançada por ele, não obteve êxito nas urnas. No dia 18 de dezembro, o parlamentar anunciou sua filiação à Rede Sustentabilidade.
“Nós temos hoje no PDT, duas possibilidades em Pernambuco. A primeira é o PSB apoiar Ciro Gomes, que é o que queremos e estamos trabalhando na Frente Popular. A segunda é a divisão do palanque com uma representação majoritária do nosso campo. E não tenho dúvidas de que o nome de Wolney representa essa significância”, explicou Fábio.
Questionado sobre o que poderá ser feito caso nenhuma das duas alternativas dê certo, o secretário-geral diz que o partido terá palanque para Ciro Gomes e pode pensar em uma candidatura própria no Estado, assim como ocorreu em 2018. “Não seria difícil encontrar um nome, pois temos quadros técnico políticos proeminentes”
Naquela eleição, em uma composição com o PROS, o PDT teve Isabella de Roldão como candidata a vice-governadora e o ex-deputado Maurício Rands como candidato a governador. A nível nacional o PSB se manteve neutro, vindo a apoiar Fernando Haddad (PT) no segundo turno contra Bolsonaro. Mas, neste primeiro momento, o nome de Isabella tem sido estudado para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados. Ela deverá dar um posicionamento até o fim deste mês.
Comentários