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ENTREVISTA

Evandro Carvalho faz uma avaliação dos dez anos à frente da FPF : "Nosso problema é apenas falta de dinheiro"

Presidente reconhece o mau momento do futebol pernambucano, lamenta pela falta de apoio do Governo do Estado e reclama dos torcedores que não se associam aos clubes

Cadastrado por

Marcelo Cavalcante, Marcos Leandro

Publicado em 19/09/2021 às 10:34 | Atualizado em 19/09/2021 às 11:44
Evandro Carvalho fez balanço dos seus dez anos à frente da FPF e seus planos para o futuro do futebol pernambucano - Marcelo Cavalcante

O advogado Evandro Carvalho era advogado pessoal do então presidente da FPF, Carlos Alberto de Oliveira, quando recebeu o convite para integrar a entidade. Morava em São Paulo e, por isso, não aceitou o convite no primeiro momento. Mas depois, topou. Trabalhou como vice jurídico por muitos anos até ser vice executivo. A morte de Carlos Alberto de Oliveira, em 2011, fez de Evandro mandatário da FPF. Já se passaram 10 anos. E, pelo visto, ele terá mais um mandato de quatro anos pela frente. Nesse papo com os jornalistas Marcelo Cavalcante e Marcos Leandro, Evandro mostra-se muito satisfeito com todos os períodos em que esteve à frente do futebol pernambucano, embora reconheça o momento atual muito difícil, que para ele tem um motivo: a falta de incentivo financeiro do Governo Estadual aos clubes. 



BALANÇO GERAL

Nós tivemos 80% do tempo em que estou à frente da Federação com absoluto e total êxito da nossa gestão. Fomos protagonistas entre os clubes do Norte, Nordeste e Centro-oeste. Nenhum estado se comparou a nós. Chegamos a ter dois clubes na Série A e um na B. Nenhum estado chegava a confrontar Pernambuco no futebol em qualidade e investimento. Mas isso foi se esvaziando. Três anos depois do começo da minha gestão, o programa Todos com a Nota se encerrou. Foi um colapso financeiro enorme. Ninguém pode culpar os dirigentes atuais de uma situação dessa, que herdam uma dívida de décadas sem ter dinheiro. Eles são heróis. Enfim, eu diria que esse é o primeiro e único momento ruim do nosso período à frente da Federação.

FINANÇAS

A gente estava com um passivo  de R$ 11 milhões, consegui pagar 50%. A FPF tem duas fontes de receita. Tem o Programa de Ajuda Financeira da CBF, que repassa R$ 70 mil reais por mês. A gente teria também os 5% da renda das rendas dos jogos, que não estão acontecendo por causa da pandemia. Eu digo que a Federação é que vive à míngua, não os clubes. Isso por que não tenho débitos, não tenho passivo, nem tenho processos, protestos, nada que venha impedir alguma movimentação minha no mercado financeiro. Todo dinheiro que entra vai para os clubes. Os únicos que não têm pendência com a FPF são Retrô, Caruaru City, Afogados e Porto.

RANKING

O ranking não existe tecnicamente, mas nós o criamos. Claro que caímos nessa temporada, mas se o o Sport se manter na retoma a sua posição dos últimos dez anos da minha gestão, sendo o mais organizado e estruturado. Mas temos o Retrô como uma novidade positiva. Apareceu no ranking. O Afogados apareceu graças sua participação na Copa do Brasil. O futebol é um ciclo uma roda gigante. Tem momentos em que estamos em cima, mas em outros, em baixo. Para mim, ficar na Série A do Brasileiro é uma escolha de gestão. Na minha opinião, o clube que sai da Série B e vai para a A, tem que ir com um propósito que não é permanecer na elite. É receber todo o recurso, se reestruturar e fazer a reengenharia financeira. Fatalmente ele vai cair de novo. Aí, quando ele voltar para a elite, o clube volta sem passivo e sem débito e com valores disponíveis para investir no futebol. O importante é disputar a Série A sem dívidas.

MOTIVO DA CRISE

Futebol só se faz com dinheiro. Acabou a época romântica. A gente vê Banco do Pará é R$ 10 ou 12 milhões por ano no futebol. Paraíba, nos últimos cinco ou seis anos, investiu R$ 9,6 milhões por ano. Em Alagoas, o governo do Estado liberou um extra para CSA e CRB. Aí, o que nós tínhamos, o programa Todos com a Nota, que fazia a diferença, nos foi tirado e, agora, eles passaram a ter. Isso desequilibrou a balança. Você imaginar que Joaquim Bezerra, presidente do Santa Cruz, não é um gestor é um crime. Ele é um dos maiores executivos do Brasil, quiçá do mundo. Imaginar que Edno e Diógenes não fazem um trabalho brilhante, de altíssimo nível administrativo no Náutico é uma aberração. Os dirigentes são heróis. Eu consegui arrecadar R$ 11 milhões que nenhuma Federação conseguiu, mas eu precisaria ter arrecadado R$ 20, 30 ou 40 milhões. Agora, tudo tem um limite, um deadline. E, realmente, eu não tenho mais onde buscar recurso. Toda capacidade financeira de endividamento da Federação, da network da Federação, da nossa força junto a patrocinadores e CBF, tudo isso esgotou.

MODELO DE GESTÃO

Esse é um problema do nosso futebol. Criamos um modelo de 250 anos. Nós preservamos patrimônios. Pernambuco é o que tem clubes com mais patrimônio. O Sport, por exemplo... Talvez só o Fluminense tenha um patrimônio igual. Náutico e Santa Cruz tem menos, mas também tem. Se você ver, Bahia, Chapecoense, Fortaleza... esses clube não tem um tanque para o sócio tomar banho. É apenas um clube de futebol. Então, o Sport arrecadava R$ 100 milhões. Desse valor, R$ 38 milhões vão para manter toda a estrutura. Disputa toda modalidade olímpica, tem um patrimônio caríssimo. De onde sai esse dinheiro? Do futebol. Aí, enfrenta Fortaleza, Bahia... que só tem o que? Só o nome e o CT. Então, é lógico que vai levar desvantagem. Não sei se é ideia da nossa sociedade rever essa questão. Temos times de futebol que não são apenas times de futebol, mas também são clubes. Isso é fantástico. Mas temos um defeito grave. O Sport é o que tem mais sócios em dia. Algo em torno dos 30 mil, no ápice. Aí, você pega Grêmio, Internacional... os grandes, todos passam dos 100 mil. Os médios do Nordeste, 50 ou 60 mil sócios. Aqui o Santa Cruz tem 2 mil sócios. Enquanto o torcedor não se conscientizar que perdemos a receita pública, e os nossos clubes não tiverem cada um 100 mil sócios, os clubes não terão oxigênio para competir. O Santa Cruz tem 1 milhão de torcedores. Se ele tem esse quantitativo, porque não tem 100 mil sócios pagando. O Sport e o Náutico são as mesmas coisa. Não se compreende. Temos um problema estrutural. O torcedor tem uma ideia de que o clube tem que oferecer algo para ele se associar. O clube não é para oferecer nada a ele. O torcedor é que tem que ter prazer, orgulho de entrar na história de que ele é quem ajudou seu clube. E não de depender de oferecer crédito para comprar remédio, por exemplo, para ser sócio. A estrutura atual dos clubes é um privilégio, mas isso exige uma cota de sacrifício do seu torcedor. É um orgulho ter o patrimônio que Sport, Náutico e Santa Cruz têm. Mas isso demanda uma contrapartida que o torcedor tem que pagar. Se o sócio não pagar, o clube vai tirar o dinheiro do futebol para colocar no patrimônio. Se faltar dinheiro, o patrimônio cai. E quando vai recuperar, é outra fortuna.  torcedor tem que sentir orgulho do patrimônio que o clube tem e saber que tem um custo para isso. patrimônio é uma demanda que o sócio precisa pagar.

DIRIGENTES

A pessoa falar que Joaquim Bezerra não é um gestor é um crime. Porque ele é um dos maiores executivos do Brasil, quiçá do mundo. Você imaginar  que Edno (Melo) e Diógenes (Braga) não fazem um trabalho brilhante, de altíssimo nível administrativo é uma aberração. Você pensar que, toda estrutura que o Sport, que Milton (Bivar) conseguiu recuperar... toda a história do Sport, que já foi considerado o clube mais qualificado do Brasil, junto o Athletico-PR, durante um período de Gustavo Dubeux. O único problema do futebol pernambucano é a falta de dinheiro. 

LOTERIA

É algo importante para o futebol de Pernambuco. Venho trabalhando nesse projeto desde quando entrei na Federação há 14 anos. Um ano antes da morte do presidente Carlos Alberto de Oliveira, eu falei que era possível liberar a loteria em Brasília. Quando assumi, conseguimos a aprovação e regularização dos jogos. Agora, a expectativa é que o Governo do Estado libere parte da renda desses jogos para os clubes, que não poderá ser mais de 10% e nem menos de 5%. Vamos conseguir substituir a receita do Todos com a Nota para os clubes da capital. Aí, eu tenho que cuidar do pessoal do interior. E a única forma é tendo dotação orçamentária de Brasília. Com essa verba, em dois ou três anos estaremos no ápice e nenhum clube da região vai se comparar aos de Pernambuco. Seremos os predadores, pois não se faz futebol sem dinheiro.

CANDIDATO

O que me faz seguir como presidente da Federação é o pedido dos clubes para seguir à frente. Na hora que os clubes disserem que querem outra pessoa, qualquer presidente vai se retirar. Nenhum presidente é dono da sua candidatura. Agora mesmo, os clubes de 86 municípios do interior me procuraram, pois entendem que a atual conjuntura exige um deputado federal. O apoio dessa vez foi muito expressivo. Estou avaliando a situação. É um apelo interessante, pois sem dúvida, um deputado federal tem caminho livre para investir em emendas no valor de R$ 20 milhões em quatro anos. E investir esse valor no futebol do interior e amador daria um soerguimento grande. Será o novo Todos com a nota para o interior. E não existe impedimento algum ser presidente da federação e deputado federal. Acho que vai alavancar recursos. Essa é a política certa, a política republicana, que é ajudar a quem necessita.

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