Engenho Poço Comprido: entre a história e o vazio

Na sétima reportagem da série sobre o abandono dos engenhos de cana-de-açúcar de Pernambuco, conheça Poço Comprido, em Vicência, na Zona da Mata Norte. Apesar de ter sido recuperado e transformado em museu, oferece pouca estrutura para receber o visitante
Cleide Alves
Publicado em 15/03/2014 às 14:29
Foto: Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem


Único engenho de Pernambuco com proteção federal, Poço Comprido é uma construção do século 18, composta de casa-grande, capela e fábrica (o local onde a cana era transformada em açúcar). Há dez anos, foi restaurado e aberto a visitações turísticas, mas está completamente vazio. Apenas morcegos vagueiam no casarão, deixando um rastro de sujeira nas paredes e no chão, além de mau cheiro em todos os cômodos.

Quando o JC esteve em Poço Comprido, encontrou as edificações empoeiradas. Havia teia de aranha no altar e o pó cobria o guarda-corpo do coro, indicando que a Capela de São João Batista não passava por limpeza há algum tempo. Penas de pássaros e restos de ninho preenchiam uma luminária acima do fogão de pedra, na cozinha da casa-grande. As paredes da fábrica estavam cheias de rabiscos, destruindo o reboco.

Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Joana D’Arc Ribeiro, coordenadora do Museu Poço Comprido, disse que espantar os morcegos é seu maior desafio. “A casa fica fechada, a partir das 17h. O telhado é de madeira, sem estuque. E temos frutas no pomar. Tudo isso atrai os bichos”, comenta Joana D’Arc. A infestação de morcegos, diz, é um problema para o funcionamento do museu. “Mas, a quantidade já diminuiu bastante.”

Ela não avalia como uma deficiência o visitante se deparar com o engenho vazio, sem móveis no casarão, sem máquinas na fábrica, nem qualquer peça de exposição. “A arquitetura do engenho, por si só, é um museu. Poço Comprido é o único com a estrutura do século 18 de pé e original”, alega Joana D’Arc. O espaço não conta com porteiro e vigilante.

Dois homens, bancados pela usina proprietária do engenho, fazem a limpeza e capinação, de segunda a sexta-feira. “Como não temos funcionários, trabalhamos com a comunidade do entorno, para garantir a limpeza”, informa. “Estamos pleiteando recursos pelo Funcultura (Fundo de Cultura do governo do Estado) para implantar um projeto museológico e museográfico”, diz Joana D’Arc.

Como não temos funcionários, trabalhamos com a comunidade do entorno, para garantir a limpeza

Joana D'Arc Ribeiro, coordenadora do Museu Poço Comprido

O engenho, cadastrado desde 2008 no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), é considerado um ponto de cultura desde 2009. “Fizemos a conservação da capela e da casa-grande e agora vamos em busca de verba para organizar a fábrica, instalar sinalização interna e montar uma exposição sobre o funcionamento dos engenhos de açúcar.”

Não há horário definido para as visitas, que devem ser previamente marcadas por e-mail (afav_vicencia@yahoo.com.br) ou pelo facebook (museupoçocomprido). “Abrimos em função dos agendamentos”, afirma Joana D’Arc. A taxa de entrada custa R$ 5 por pessoa. Escolas públicas pagam metade e os colégios de Vicência são isentos. “Nosso maior público é o estudantil, nos meses de funcionamento das escolas”, diz.

GESTÃO

Para o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Frederico Almeida, é necessário dar um uso adequado e sustentável ao lugar, estimulando a visitação. “A população precisa conhecer a nossa história. A gestão dos equipamentos é um grande desafio”, observa. O Iphan acompanhou a obra de restauração do engenho, executada com recursos do Estado e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Poço Comprido, com o charme de ter a capela interligada à casa-grande por uma passarela interna, é tombado pelo Iphan desde 1962. As edificações históricas ocupam uma área de quatro hectares e são administradas pela Associação dos Filhos e Amigos de Vicência (Afav), num comodato com a usina, desde 2004.

Para o superintendente do Iphan, Frederico Almeida, é necessário dar um uso adequado e sustentável ao lugar, estimulando a visitação

Ainda no município, o Engenho Tabatinga, erguido no século 19, teve um destino diferente. Sem nenhum tipo de proteção, foi saqueado e destruído em 2008. Sobraram uma parede da casa-grande e uma coluna da fábrica, onde se vê a data 1838. “Levaram grades, portas, vitral e azulejos. Até tijolos carregaram”, relata Pascoal Calábria, que administra uma pousada no Engenho Iguape (século 19), em Vicência.

Originalmente, Poço Comprido, Tabatinga e Iguape – o mais novo dos três engenhos de açúcar – pertenciam à mesma família (Pessoa Guerra), diz Pascoal Calábria.

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engenho tabatinga engenho poço comprido vicência
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