Rio Una volta a assustar moradores do município de Barreiros

Com receio de enchente do Rio Una, Defesa Civil da cidade determinou a desocupação de imóveis em oito bairros ribeirinhos
Da Editoria Cidades
Publicado em 29/05/2017 às 1:15
Com receio de enchente do Rio Una, Defesa Civil da cidade determinou a desocupação de imóveis em oito bairros ribeirinhos Foto: Foto:Sérgio Bernardo/JC Imagem


A forte chuva da madrugada de domingo (28/05) fez o município de Barreiros, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, viver um dia de pânico no último fim de semana de maio. Diante da possibilidade de mais uma enchente do Rio Una, a Defesa Civil da cidade, distante 102 quilômetros do Recife, solicitou a moradores e comerciantes de oito bairros ribeirinhos que desocupassem os imóveis. Em pouco tempo, as ruas se encheram de caminhões carregando mudanças feitas às pressas, mulheres correndo com sacolas de feira nas mãos e crianças resgatando animais.

“Vou sair logo daqui porque o rio está enchendo muito rápido. Vi o caminhão parado na minha porta, não sei de onde veio e nem para onde vai, mas vou nele”, declara a dona de casa Verian Maria dos Santos, moradora da Rua Santa Gorete, no bairro de mesmo nome. Ela concedeu a entrevista enquanto orientava a desocupação do imóvel. “Mais cedo, dei abrigo a minha irmã e a uma vizinha, que já estavam inundadas, achando que minha casa não alagaria. Agora somos três famílias precisando de abrigo”, diz ela.

Até as 15h de domingo (a hora da maré alta) a casa não havia alagado, mas todos temiam enfrentar novamente a tragédia das enchentes do Rio Una em 2010 e 2011. O caminhão, enviado pela prefeitura, levou o grupo desalojado para a rodoviária, numa parte mais alta de Barreiros. “É o mesmo local onde fiquei abrigada na cheia de 2010”, afirma Ana Lúcia dos Santos, a irmã de Verian Maria.

Com 4,5 metros acima do nível considerado normal, por volta das 12h, o Rio Una inundou vários imóveis do bairro Santa Gorete, forçando as pessoas a procurarem alojamento em escolas públicas e residências de parentes. “Minha casa alagou, eu consegui tirar alguns móveis e acabei invadindo uma moradia que outra família desocupou mais cedo, com medo da enchente”, revela Gilvânia Maria da Conceição.

No desespero em busca de um lugar seguro, ela e mais duas famílias invadiram o imóvel desocupado na Rua Santa Gorete. “Se a situação piorar e o rio encher mais, não sei para onde vou. Já botei as crianças em casa de parentes. Agora, se o governo tivesse entregado todas as casas prometidas para a população que vive na beira do Rio Una, isso não estaria acontecendo outra vez”, destaca Gilvânia Maria.

“A cidade entrou em desespero desde que anunciaram pela rádio o pedido de desocupação das margens do Rio Una. Moro uma parte alta, mas vim ajudar um amigo ribeirinho a fazer a mudança”, diz Fábio Roberto dos Santos.

CENTRO

Comerciantes da Rua Marechal Rondon, no Centro de Barreiros, desocuparam as lojas, com receio de perder mercadorias. Por volta das 15h era grande a movimentação de homens e mulheres transportando de manequins de roupa a ventiladores pelas ruas. “Recebemos um prazo de oito horas, até mais ou menos as 18h, para fazer a desocupação de tudo. Foi difícil conseguir caminhão de mudança”, observa o comerciante Humberto Santos, proprietário de um armazém de produtos agrícolas e material de construção.

“Barreiros é o ponto de encontro dos Rios Una e Carimã, quando eles se juntam numa cheia, a cidade alaga. Minha loja ficou submersa em 2010”, recorda Humberto Santos. Ele levou a mercadoria para um depósito próprio na mesma cidade. Moradora da Rua Marechal Rondon há 30 anos, Bernadete Ângelo Gama transferiu-se para a casa da filha, numa parte mais alta do município.

A mudança temporária, debaixo de chuva, diz ela, é necessária. “É a terceira enchente que enfrentamos desde 2010. Como a casa é própria, a gente vai ficando e aguardando a situação melhorar. Se Deus quiser isso ainda vai acontecer. Mas numa hora dessa, ninguém pode esperar para ver novamente as cenas de 2010. Todo mundo está dizendo que vem muita água de Palmares pra cá”, declara.

CHUVA

Famílias da Rua do Carrapicho, no bairro Rio Una, também lembraram o pesadelo de 2010 ao desocuparam as moradias, na tarde de ontem. “O rio passa atrás da minha casa, estou vendo a correnteza forte e o nível cada vez mais alto, não vou arriscar. Sete anos atrás eu fiquei esperando e quando vi a água cobriu tudo, só ficou o teto de fora. Perdi metade dos móveis”, diz o motorista José Gomes da Silva.

Ele levou a família para um imóvel emprestado por um amigo, em outro trecho de Barreiros. “É uma mudança sem data para a volta, vamos esperar passar o inverno. A casa ficará desocupada e fechada”, afirma Vanessa Carla Gomes da Silva, uma das filhas de José Gomes. Em 2010, Barreiros e Palmares foram as cidades mais castigadas pela cheia do Rio Una. Na época, o governo do Estado contabilizou 26 mil desabrigados na Zona da Mata Sul.

De acordo com o pluviômetro da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), choveu 147,70 milímetros em Barreiros em 24 horas (até as 20h10 de domingo, 28/05). Cada milímetro de chuva equivale a um litro de água por metro quadrado.

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