Seguindo o “levanta, povo” entoado pela sambista neta de escravos Clementina de Jesus em um canto de trabalho que festeja o fim oficial da escravidão no Brasil, a Marcha da Consciência Negra contra o racismo, o genocídio e pelo direito de viver saiu às ruas do Recife, nesta quarta-feira (20), na data que marca a morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, para celebrar a cultura e os ancestrais e mostrar que a luta continua até que todo tipo de cativeiro fique para trás.
Ao som de afoxé e maracatu, a passeata saiu do Parque 13 de Maio (que remete à data oficial da abolição da escravatura), em Santo Amaro, área central da cidade, conhecido pelo movimento como Parque 20 de novembro, em homenagem a Zumbi, e seguiu até o Bairro do Recife.
>> Dia da Consciência Negra: Data remete à morte de Zumbi dos Palmares
“É importante reafirmar nossa existência diante de políticas que nos matam e estão querendo nos boicotar, principalmente aqui para ressaltar a imagem de Zumbi. É a nossa força, nunca estamos abaixo disso”, explicou a estudante Allem Dino, 24 anos, integrante da Articulação Negra de Pernambuco (Anepe).
Na caminhada, a professora Tétis Duarte, 55, relembrou a 13ª Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, no mês de outubro, para afirmar que o povo negro está cada vez mais unido em resistência. “O Dia da Consciência Negra tem toda a importância porque a gente vem sempre sofrendo preconceito, e só queremos igualdade, só queremos ser aceitos. Dizem que o racismo diminuiu, passou, mas não é verdade, continua como se estivesse mascarado. O que eu venho notando e achando interessante é que estamos começando a nos unir mais. Na Marcha dos Terreiros, fiquei emocionada com a gente dizendo que é um só. Cada movimento que fazemos mostra mais ainda nossa questão”, disse.
>> Consciência negra: foi vítima de racismo ou injúria racial? Saiba como denunciar
O cortejo chegou ao fim na Rua da Guia com apresentações musicais.
Nesta quinta-feira (21), a programação para celebrar a consciência negra segue na Praça do Campo Santo, em Santo Amaro, com o projeto Nos pés do Baobá. O local foi escolhido por abrigar uma árvore dessa espécie, considerada um dos símbolos da luta dos negros por ser sinônimo de resistência e força. Às 10h e 15h, haverá contação de histórias. À noite, às 20h, espetáculo Dança para Iansã, do Balé Afro Raízes se apresenta no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. No sábado (23), às 14h30, a Praça do Campo Santo recebe mesa de discussão com o tema O baobá como um ícone no resgate, afirmação e reafirmação da identidade cultural, histórica e religiosa do povo negro.