Amanda foi uma grata surpresa no circuito cinematográfico no início desse ano. Um melodrama inspirador, e um tanto juvenil, que posicionava seus personagens num espaço público parisiense sempre tensionado – o que circunscreve a temática do terrorismo, mas com uma leitura autoral e bastante distinta do costumeiro exploitation. Obsessão, do irlandês Neil Jordan – thriller de suspense que entra em cartaz amanhã nos cinemas do Recife – não é, propriamente, sobre terrorismo. A trama é o que o título anuncia. Sua execução, no entanto, diz muito sobre os contrastes nessas políticas de espaço.
No primeiro diálogo do filme, a protagonista Frances, vivida por Chloë Grace Moretz, é alertada pela sua companheira de apartamento, após trazer para casa uma bolsa abandonada no metrô: “Estamos em Manhattan, não se pega bolsas assim. Podem ter uma bomba dentro”. Há, de cara, uma inquietação prévia a toda trama que segue o filme. O espaço público não é mais seguro, as ruas, as praças e o metrô de Nova York estam sob um espectro de tensão.
A cena é a única que o filme alerta sobre isso, além de tocar no tema “terrorismo”. O que não impede disso tudo aparecer diluído na concepção imagética nos planos conseguintes. Obsessão, na sua maioria, é composto por internas. Seus personagens interagem em ambientes privados (apartamentos, restaurantes), e o terror, o mote principal, também se passam neles.
Um plano, inclusive, se assemelha bastante a um dos mais inspirados de A Vida Como Ela É (1978), do falecido recentemente Jean-Claude Brisseau, em que um garoto rodeia com sua bicicleta um cadáver estendido na rua. Frances realiza o mesmo movimento ao redor de sua amiga enquanto ela faz yoga. O estranhamento da ação não se interpela pela crueza da violência como em Brisseau, mas por uma espécie de confinamento espacial: o ato acontece dentro do apartamento das duas.
Mas, afinal, onde está o terror de Obsessão? Voltemos ao início quando a bolsa, deixada no metrô, adentra ao ambiente e vida privada da protagonista. Não só o objeto, mas sua verdadeira dona também. Ao devolver o item, Frances termina se tornando mais uma vítima do esquema da psicopata Greta – vivida por Isabelle Huppert (e é importante ressaltar isso porque a personagem parece uma encarnação da persona da atriz), que passa a perseguir a moça rotineiramente.
Surge daí uma tensão. Greta invade (fisicamente, em um mundo dominado pelo digital) todas as barreiras que o resquício da segurança do “privado” traz consigo. Persegue Frances no seu trabalho, no seu prédio além de aterrorizar sua amiga.
Importante destacar também que são nessas zonas que a vilã existe e reside – quase como um Leatherface moderno, personagem de O Massacre da Serra Elétrica, no modo como sua casa (que serve de cativeiro) e suas ações se inserem e se escondem nos confins da vida privada – principalmente na metrópole. É até interessante pontuar isso dentro do cinema do diretor Neil Jordan, que costuma trabalhar com o fantástico nas suas mais famosas obras (Entrevista com o Vampiro, A Companhia dos Lobos e Byzantium).