O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campo Neto, disse nesta quinta-feira (27) que o Comitê de Política Monetária (Copom) não tem intenção usar sua política monetária para pressionar o Congresso Nacional a aprovar a reforma da Previdência.
“De nenhuma forma tem pressão no Congresso, é nossa forma de trabalhar. Quando, obviamente, existe fator de risco atribuído a isso [reformas estruturantes], nós temos que mencionar, porque faz parte da análise do Copom”, disse Campos Neto ao apresentar o Relatório Trimestral de Inflação.
Na reunião da semana passada, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros da economia (Selic) em 6,5%, seu menor nível histórico, e informou que os avanços concretos na agenda de reformas que reduzam os gastos públicos, como da Previdência, são fundamentais para consolidação do cenário benigno para a inflação. De acordo com Campos Neto, este é um dos fatores analisados pelo BC que compõem o balanço de riscos da inflação, que inclui também o mercado externo e a ociosidade da economia, em especial de mão de obra e na indústria.
“O mercado também tem essa sensibilidade [na expectativa da aprovação da reforma] porque entende que é fator predominante de risco”, ressaltou. “Não existe nenhum tipo de chantagem. Nós analisamos sempre o balanço de risco, mantemos a coerência [de] que esse era um dos fatores que vinham sendo analisados, mudamos nosso cenário e deixamos mais confortável o cenário benigno para a inflação analisando esses três fatores”, explicou.
O presidente do BC explicou que a instituição não trabalha sob hipóteses de processos que estão no Legislativo. Ele acrescentou que, quando e se a reforma da Previdência for aprovada, a situação será analisada e as decisões serão tomadas, levando em conta o canal de incertezas para a inflação e o balanço de risco, para “propor um caminho razoável para sustentabilidade da política monetária”.
Principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, a taxa Selic é medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, o indicador fechou em 4,66% no acumulado de 12 meses. Depois de vários meses de alta no início do ano, o índice desacelerou em maio, atingindo o menor resultado para o mês desde 2006.
Para este ano, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu meta de inflação de 4,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não poderá superar 5,75% neste ano, nem ficar abaixo de 2,75%. No Relatório de Inflação, divulgado hoje, o Banco Central estima que o IPCA encerrará 2019 em 3,6% e continuará baixo até 2021.
O documento apresentou ainda uma redução da projeção de crescimento da economia para este ano. A estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) passou de 2% para 0,8%.
De acordo com Campos Neto, essa projeção do Banco Central já inclui a expectativa de recuperação e melhora da economia no segundo semestre.
Entre os fatores para a redução da projeção, o BC cita o crescimento menor do que o esperado no primeiro trimestre deste ano e também condiciona o crescimento em 0,8% à recuperação da atividade econômica e à continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira.
Roberto Campos Neto reafirmou que o Banco Central não está contente com o nível das taxas de juros no país, já que o spread, diferença entre a taxa de captação de recursos pelos bancos e a cobrada dos clientes, não caiu na mesma proporção da Selic. Ele ressaltou que existem várias iniciativas para diminuir o spread, como incentivar a competição e buscar soluções junto aos bancos para entender a diferença das taxas de juros das tarifas emergenciais (que são mais altas, como o rotativo do cartão de crédito) e as demais.
Ele destacou a Agenda #BC, lançada em maio, com iniciativas divididas em quatro categorias: inclusão, precificação, tranparência e educação financeira. “Educação é uma medida que poucas pessoas comentam, mas que tem grande efeito sobre o spread. Hoje temos categorias emergenciais de juros, como cheque especial, que grande parte dos usuários tem renda abaixo de dois salários mínimos e educação até idade média, aqui temos claro um problema de educação financeira”, explicou.