Em linhas oficiais, o silêncio parece ter imperado dentro do PSB após as declarações da vice-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), a ministra Ana Arraes, não apenas contra o seu neto, o deputado federal João Campos, referindo-se ao episódio em que o parlamentar afirmou, durante reunião da Comissão de Educação da Câmara, que o tio Antônio Campos (Pode) seria “pior” do que o ministro da Educação, Abraham Weintraub; também a respeito de ser a detentora do legado dos Arraes.
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Procurado pelo JC, o deputado João Campos, através de sua assessoria, afirmou que não iria comentar as declarações da avó. Filha do ex-governador Miguel Arraes e mãe do também ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, a ex-deputada federal revelou que ainda aguarda um pedido de desculpas do neto. “Se ele não pedir nem me procurar, o problema é dele. Quem me agrediu foi ele. Eu não o agredi, nunca agredi nenhum neto. Muito pelo contrário, sempre fui avó”, afirmou, em entrevista ao Blog de Jamildo, nesta terça-feira (7).
Líder do PSB na Câmara dos Deputados, o deputado federal Tadeu Alencar informou durante visita do presidente Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, ao Palácio do Campo das Princesas, nesta quarta-feira (8), que não iria se posicionar sobre o assunto. Na ocasião, o governador Paulo Câmara não falou com a imprensa.
O presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, também foi procurado pela reportagem para comentar as declarações. “Só comentaria se fosse um debate político. No entanto, não se faz esse tipo de debate com uma ministra do TCU. Ela é impedida”, afirmou, ao JC. Outras lideranças e alguns parlamentares do partido corroboraram com essa postura, evitando comentar sobre os impactos que essa crise familiar poderá causar à legenda.
No entanto, nos bastidores, sabe-se que o racha no ninho socialista parece ser inevitável, tanto em relação aos desenhos de 2020 quanto aos de de 2022. A ministra - que se desfiliou oficialmente do PSB no dia 7 de outubro de 2011, segundo consta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - não escondeu o seu desejo de pleitear um cargo eletivo e entrar na disputa pelo executivo estadual. “Eu vou me aposentar daqui a dois anos e meio e, se eu estiver bem, como estou agora, pois já sou uma idosa, eu pretendo continuar na luta. Na luta pelo povo pobre de Pernambuco, pelas crianças que precisam de creches, umas das minhas batalhas na Câmara”, afirmou.
Um socialista, em reserva, afirmou categoricamente que, se a filha de Miguel Arraes for candidata ao governo do Estado em 2022, sairá vencedora. “O legado dela e do seu pai, no interior do Estado, continua sendo muito forte. As lideranças aqui não pensariam duas vezes em seguir com ela. Geraldo Julio (prefeito do Recife em último ano de mandato e cotado como candidato a governador pela legenda) é um pupilo, mas teria que andar dois anos pelo Estado para ser conhecido”, disparou.
E a ministra já demonstrou não estar preocupada com os possíveis opositores ao seu projeto. “Eu quero saber quem é mais antigo e quem tem o que mostrar”, provocou, na entrevista de terça. Por outro lado, há quem não acredite que essa disposição irá ganhar corpo. “Não acredito que ela vá abrir mão do cargo antes destes dois anos e meio para se aposentar. Mas, se colocando na disputa majoritária, ela teria apoio do partido, e Geraldo Julio esperaria o seu momento”, declarou um parlamentar, que não quis ser identificado.
Não dá pra viver só de passado, a gente tem novas agendas que claramente surgem de um projeto eleitoral pro outro, e que o partido tem que começar a observar”
cientista política Priscila Lapa
Para a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda Priscila Lapa, todo esse imbróglio eclodido no PSB é resultado até da própria perpetuação do partido no poder.
Serão 16 anos seguidos de PSB à frente de Pernambuco em 2022. E serão 8 anos à frente da Prefeitura do Recife ao final deste ano. “Isso faz parte de um contexto de desgaste dentro do próprio grupo político, não só dos filiados mais próximos, mas daquelas peças que transitam dentro desse projeto político, de que o PSB é uma grande liderança. Essa é uma evidência do desgaste de estar à frente do poder há tanto tempo, que naturalmente chega uma hora que não consegue contemplar todo mundo dentro dos espaços de poder, que todo mundo deseja”, explicou a especialista.
Ainda segundo a avaliação de Priscila Lapa, a disputa da herança de legados não deverá ser o definidor de cenários. “Essa questão tem uma memória positiva do eleitor em relação ao governo Eduardo Campos e ao legado do governo de Miguel Arraes, e que obviamente vai continuar sendo explorada. Agora, não dá pra viver só de passado, a gente tem novas agendas, que claramente surgem de um projeto eleitoral pro outro, e que o partido tem que começar a observar”, salientou.
A respeito de herança política, Ana Arraes também comentou na entrevista a Jamildo sobre a pré-candidatura da sobrinha, a deputada federal Marília Arraes (PT), à Prefeitura do Recife. “Todos têm direito de ser candidatos, mas eu quero dizer, também, que a origem política é minha. Eu sou filha de Miguel Arraes, mãe de Eduardo Campos e Antônio Campos, criei os dois na política, sempre estiveram com o avô deles, então o nascedouro é meu.”
De acordo com a assessoria da parlamentar, Marília está em viagem e não vai se pronunciar sobre a citação da ministra do TCU.
Presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Antônio Campos (Pode) esteve em Brasília nesta quarta-feira (8) para apresentar projetos do Estado e, em particular, solicitar à Embratur e ao Ministério do Turismo a reforma do Seminário de Olinda.
Durante a agenda, Antônio Campos fez uma declaração provocativa ao sobrinho, a quem chamou de “menino”. “Enquanto o menino diz que sou ruim, no Dia do Leitor dei a biblioteca do meu pai (Maximiano Campos) à Fundaj e seu acervo”, afirmou. “Também consegui em Brasília dinheiro para terminar o Seminário de Olinda, que é um pedido do bispo, dom Fernando Saburido (arcebispo de Olinda e do Recife). O bem demora, mas aparece”, disparou o advogado, ao Blog de Jamildo.
Os atritos entre Antônio Campos e o PSB se tornaram ainda mais evidentes quando o advogado decidiu disputar a Prefeitura de Olinda, em 2016. Derrotado nas urnas, Antônio abandonou a legenda no ano seguinte, afirmando que não havia clima para permanecer no partido. “Não ligaram pra mim, o ambiente é hostil”, afirmou, a época. Ele ganhou o primeiro turno. Mas perdeu o segundo turno para Lupércio (SD).