Matéria atualizada às 10h29 do dia 23.11
A crise e o consequente sucateamento do Metrô do Recife chegaram ao limite. A situação está tão crítica que, assim como aconteceu em 2018 e pelas mesmas razões, o sistema metroferroviário que atende a Região Metropolitana está sob risco de suspender parcialmente a operação. Na prática, a estratégia seria parar a operação da Linha Sul, que liga o Centro da Capital a Cajueiro Seco, bairro de Jaboatão dos Guararapes, para conseguir garantir o funcionamento da Linha Centro - que é o principal eixo do sistema e transporta, em seus dois ramais (Jaboatão e Camaragibe) 70% dos passageiros do sistema. Se o sistema metroferroviário não receber investimentos, a previsão é de que o ramal seja desativado até junho de 2022.
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Enquanto a Linha Sul está transportando, atualmente, menos de 70 mil pessoas por dia, a Linha Centro garante o deslocamento de 100 mil. Antes da pandemia de covid-19 eram 150 mil passageiros/dia na Linha Sul e 250 mil na Linha Centro - a que teve a maior perda de demanda na crise sanitária. Todo o problema está relacionado à quantidade de trens disponíveis para a operação. Sem recursos suficientes sequer para garantir o custeio do sistema (despesas básicas da operação), o metrô está acumulando trens quebrados e sem peças básicas para reposição no Centro de Manutenção de Cavaleiro (CMC), a grande oficina do sistema. Mais de dez equipamentos estão parados no local, à espera de peças - muitas delas baratas e simples. Enquanto isso, poucas composições estão na operação, o que aumenta absurdamente o intervalo entre os trens. E, para que o leitor entenda, a consequência direta de intervalos longos é a superlotação dos trens e a ausência de conforto para os passageiros.
A situação se tornou ainda mais grave há um mês, aproximadamente, segundo fontes ouvidas pelo JC. E, na semana passada, chegou ao absurdo de a Linha Centro operar com apenas oito trens e a Linha Sul com outros quatro. Quando o mínimo aceitável seriam 12 e oito trens, respectivamente. E, mesmo assim, seria uma quantidade muito baixa porque - de acordo com metroviários ouvidos pelo JC - significa intervalos de 10 minutos no tronco (ao longo da linha) e de 20 minutos nos ramais (nas Estações de Jaboatão e Camaragibe), por exemplo.
E estamos falando dos horários de pico da manhã e da tarde/noite. No chamado horário de vale (fora pico) o intervalo é ainda maior. “Com a oferta de apenas oito trens na Linha Centro e quatro na Linha Sul, significa, praticamente, duplicar esses intervalos. Seriam 20 minutos de espera no tronco e 40 minutos nos ramais. É muito tempo. Antes da pandemia , o metrô operava com intervalos entre cinco e sete minutos nos horários de pico. Veja a diferença”, alerta um metroviário. A situação estaria ainda mais crítica na Linha Diesel, operada pelos VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos). Dos sete equipamentos adquiridos há mais de dez anos, apenas dois ainda estão em condições de uso.
ESTRATÉGIA
Diante da situação, a Superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife já teria como estratégia a paralisação da Linha Sul do metrô para transferir os poucos trens que ainda consegue manter operando para a Linha Centro. E, de acordo com as pessoas ouvidas pelo JC, a situação não está ainda pior porque a operação foi reduzida nos primeiros meses da pandemia de covid-19. “Caso contrário, o desgaste dos equipamentos seria ainda maior. algo precisa ser feito e rapidamente”, alerta outro metroviário com quem o JC conversou.
A paralisação da Linha Sul, inclusive, não seria anunciada abertamente. Ao contrário. Segundo fontes, a estratégia adotada pela superintendência seria, mais uma vez, omitir os problemas que cercam o sistema. Seria dito que a Linha Sul iria passar por uma manutenção geral até que houvesse condições de repor os trens.
ORÇAMENTO CURTO
O Metrô do Recife segue com o pires na mão. Há pelo menos cinco anos se organiza como pode com apenas 50% do orçamento necessário para custear a operação. Precisaria de R$ 200 milhões para fazer uma operação decente, mas recebe R$ 100 milhões por ano, em média. Recursos para investimento inexistem. O último foi no valor de R$ 22,8 milhões, em 2020, para três intervenções de infraestrutura: a construção de uma ponte sobre o Rio Pirapama, em Jaboatão dos Guararapes, a recuperação das cobertas de seis estações da Linha Centro e a adequação de acessibilidade de três estações do Cabo de Santo Agostinho.
O METRÔ DO RECIFE ESTÁ SENDO PREPARADO PARA SER CONCEDIDO À INICIATIVA PRIVADA
A gestão do Metrô do Recife nega toda esta reportagem. Diz que não há estratégia de retirada de trens da Linha Sul para garantir a operação mínima da Linha Centro. Também rebate os horários de intervalo entre as composições, insistindo que o sistema opera com a quantidade de trens que atende à demanda atual de passageiros - que caiu praticamente pela metade com a pandemia de covid-19, saindo de quase 400 mil para aproximadamente 200 mil pessoas/dia. E mais: que há perspectiva de incremento na operação em 2022. Mas, ao mesmo tempo, não dá detalhes como datas e valores.
Leia a resposta na íntegra e tire suas conclusões:
Resposta da CBTU
“Afirmamos que não há estratégia de retirada de trens da Linha Sul para operação na Linha Centro. A CBTU está trabalhando com um número de trens que atende a demanda atual, além disso, há alguns meses não há paralisação do sistema. Informamos ainda que há perspectivas de incremento na operação no ano de 2022 com a chegada de insumos e peças que estão sendo licitadas no ano corrente.
Os intervalos atuais entre os trens são:
No horário de pico (de 6h às 8h30 e 17h às 19h30):
• 8 minutos na Linha Centro;
• 9 minutos na Linha Sul.
Fora dos horários de pico (horário de vale):
• 10 minutos na Linha Centro;
• 12 minutos na Linha Sul.”
Nas ruas, a população confirma o abandono do Metrô do Recife e os longos intervalos entre os trens. “Piorou demais no último mês mesmo. A espera está muito longa e as viagens sendo feitas em trens cada vez mais lotados. E temos que entrar porque, se não formos espremidos mesmos, perdemos o horário do trabalho. Demora muito. E tudo isso pagando muito caro”, critica a diarista Cláudia Maria da Silva, que três vezes por semana sai da Estação Camaragibe para a Estação Joana Bezerra. A tarifa do Metrô do Recife está em R$ 4,25, após sete aumentos consecutivos no período de um ano.
A gestão do Metrô do Recife nega toda esta reportagem. Diz que não há estratégia de retirada de trens da Linha Sul para garantir a operação mínima da Linha Centro. Também rebate os horários de intervalo entre as composições, insistindo que o sistema opera com a quantidade de trens que atende à demanda atual de passageiros - que caiu praticamente pela metade com a pandemia de covid-19, saindo de quase 400 mil para aproximadamente 200 mil pessoas/dia. E mais: que há perspectiva de incremento na operação em 2022. Mas, ao mesmo tempo, não dá detalhes como datas e valores. Leia a resposta na íntegra enviada para nossa reportagem:
"Afirmamos que não há estratégia de retirada de trens da Linha Sul para operação na Linha Centro. A CBTU está trabalhando com um número de trens que atende a demanda atual, além disso, há alguns meses não há paralisação do sistema. Informamos ainda que há perspectivas de incremento na operação no ano de 2022 com a chegada de insumos e peças que estão sendo licitadas no ano corrente.
Os intervalos atuais entre os trens são: no horário de pico (de 6h às 8h30 e 17h às 19h30); 8 minutos na Linha Centro; 9 minutos na Linha Sul. Fora dos horários de pico (horário de vale); 10 minutos na Linha Centro; 12 minutos na Linha Sul."
Nas ruas, a população confirma o abandono do Metrô do Recife e os longos intervalos entre os trens. "Piorou demais no último mês mesmo. A espera está muito longa e as viagens sendo feitas em trens cada vez mais lotados. E temos que entrar porque, se não formos espremidos mesmos, perdemos o horário do trabalho. Demora muito. E tudo isso pagando muito caro", critica a diarista Cláudia Maria da Silva, que três vezes por semana sai da Estação Camaragibe para a Estação Joana Bezerra. A tarifa do Metrô do Recife está em R$ 4,25, após sete aumentos consecutivos no período de um ano.