Lado mais frágil do trânsito brasileiro - que mata mais de 30 mil pessoas por ano e mutila outras 500 mil -, os pedestres têm conseguido um pouco mais de protagonismo no Recife. A gestão municipal tem ampliado as áreas de segurança para quem caminha.
Não há como negar. Basta circular pela cidade - não só as áreas centrais, mas também alguns bairros do subúrbio - que é possível ver espaços criados para acomodar e proteger quem caminha do tráfego de veículos. Lugares onde o volume e a insegurança dos pedestres são extremos.
E tudo isso usando o urbanismo tático, ferramenta barata, de rápida execução e bastante simbólica para a segurança viária, que já está incorporado à paisagem. E, o que é melhor: a capital começa a transformar os espaços antes pintados em estruturas permanentes, premissa do conceito de urbanismo tático.
E essa mudança merece ser destacada no mês do Maio Amarelo, segunda data nacional em que o País parece se preocupar um pouco mais com a matança diária no trânsito brasileiro, que deixa mais de 32 mil mortos e 500 mil mutilados por ano.
Segundo dados da Prefeitura do Recife, desde 2019 já são mais de 350 mil pessoas beneficiadas com as intervenções que totalizam 40 áreas e mais de 14 mil metros quadrados nas ruas da capital, protegendo não só pedestres, mas também ciclistas.
O ritmo de intervenções vem sendo acelerado. Apenas em 2021 foram 17 novas áreas, totalizando 8,4 mil metros quadrados. Entre os vários exemplos de intervenções ocorridas neste ano estão a Rua da Palma, no Bairro de Santo Antônio (1 mil m²), Rua das Ninfas com Rua do Progresso, na Boa Vista, e Avenida Manoel Borba (189 m²) e Rua Velha - segunda etapa - (784 m²), no mesmo bairro.
“Antes da intervenção, a Rua da Palma, por exemplo, tinha uma ocupação de 60% de veículos e 40% de pedestres. Após o urbanismo tático, a prioridade foi invertida: hoje são 60% de pedestres e 40% de veículos circulando pela via”, destaca a PCR por email.
40
áreas de urbanismo tático foram implantadas no Recife desde 2019, quando o uso da ferramenta prática e barata começou na cidade
350
mil pessoas estão sendo beneficiadas pelas intervenções que totalizam 14 mil metros quadrados nas ruas da capital, protegendo não só pedestres, mas também ciclistas
41%
foi a redução dos sinistros de trânsito com vítimas após as intervenções de urbanismo tático e áreas de proteção permanentes na cidade
60%
era a ocupação dos veículos na Rua da Palma, no Centro do Recife. Após o urbanismo tático, a prioridade foi invertida: 60% de pedestres e 40% de veículos.
Entre as ações de urbanismo tático que se transformaram em intervenções permanentes para priorização do pedestre, estão o Largo da Paz, em Afogados, e o encontro das Ruas Princesa Isabel e Hospício, na Boa Vista, e da Avenida Agamenon Magalhães, no trecho entre as Avenidas Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, entre o Derby e o Parque Amorim.
Segundo a prefeitura, há outras intervenções semelhantes sendo implementadas na cidade. É o caso das imediações do Viaduto Joaquim Cardozo, nos Coelhos, e do cruzamento das Ruas Neto de Mendonça e Dr. José Maria, no Rosarinho.
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MAIS SEGURANÇA
A gestão municipal diz que os ganhos de segurança para pedestres e ciclistas são reais e apresenta números. Em pesquisa realizada antes da implantação, foi verificado que 72% das pessoas não se sentiam seguras com o trânsito da rua e 74% dos entrevistados não tinham segurança ao realizar as travessias.
E que 76% das pessoas na área utilizam meios de transportes sustentáveis, como a pé, de bicicleta ou de transportes públicos. Dessa forma, o espaço viário, que antes era de apenas 20% para o pedestre, passou a ser 50% destinado para as pessoas que andam a pé no local.
SINISTROS DE TRÂNSITO
A proteção aos pedestres tem provocado um efeito positivo na segurança viária. Segundo a PCR, o uso do urbanismo tático tem ajudado a reduzir os sinistros de trânsito no Recife (não é mais acidente de trânsito que se diz, por determinação da ABNT).
Houve uma redução de 41% de sinistros com vítimas após as intervenções. Áreas como o Largo da Paz tiveram sete sinistros com vítimas entre janeiro e fevereiro de 2019 e, no mesmo período do ano seguinte, duas ocorrências.
Na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, área central da capital, o número também caiu de 23 para 14 no mesmo período. E na Avenida Conde da Boa Vista, a mudança foi de 22 para quatro sinistros com vítimas também neste período.
Ou seja, o urbanismo tático a a evolução dele para estruturas permanentes salvam vidas.