Como sempre acontece quando chove, o preço dos aplicativos de transporte privado de passageiros, como Uber, 99 e Indrive, explode. Isso acontece porque a oferta de veículos diminui ao mesmo tempo em que a demanda aumenta. O resultado é sempre péssimo para o passageiro e compromete a confiabilidade do serviço, que não sofre qualquer ingerência do poder público na maior parte do País.
Nesta quarta-feira (22/6), quando as chuvas atingiram com força o Estado, principalmente a Região Metropolitana do Recife, a volta para casa ficou muito cara. A maioria dos percursos aumentou mais de 300%. Outros que não chegaram a esse valor, ficaram na casa dos 100% ou 200%.
Uma corrida de Santo Amaro, próximo à Avenida Mário Melo, para Boa Viagem, nas imediações do Segundo Jardim, custava R$ 80 por volta das 17h30. Em dias normais, mesmo no horário de pico, sai entre R$ 20 e 23.
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Distâncias curtas, com um percurso de quatro a cinco quilômetros, no máximo, estava saindo por quase R$ 50, quando geralmente custa menos de R$ 10.
Também de Santo Amaro para a Rua Amélia, nos Aflitos, a corrida que custava R$ 15 estava por quase R$ 90. Até mesmo o Uber e 99 Moto, serviços que mesmo ilegais vêm crescendo no Grande Recife, tiveram os valores majorados em mais de 100%.
APLICATIVOS SEGUEM SEM REGULAMENTAÇÃO EM PERNAMBUCO
UBER MOTO AVANÇA NO GRANDE RECIFE, MESMO ILEGAL
SEM REGULAMENTAÇÃO
Os aplicativos de transporte individual de passageiros nunca foram regulamentados de fato ou fiscalizados no Recife. Desde 2021, uma decisão obtida pela empresa 99 está impedindo o processo. Embora as regras para que o serviço operado na capital tenham virado lei ainda em 2018 (Lei Municipal 18.528/2018), até agora nenhum tipo de fiscalização ou exigência começou a ser realizada pela Prefeitura do Recife por causa dessa decisão. Movida pela 99, a ação tem beneficiado, inclusive, os outros apps, como a Uber.
REAÇÃO ÀS CRÍTICAS
Motoristas de aplicativo e ao menos a empresa Uber reagiram à reportagem sobre a explosão do preço das corridas pelas plataformas em dias de chuva - e quando a população mais precisa delas, vale ressaltar. Além de diversos comentários, pelo menos dois condutores procuraram a Coluna Mobilidade por email para criticar o fato de a reportagem dizer ser absurdo o aumento, muitas vezes, superior a 300%.
Os condutores argumentam que é preciso reconhecer o risco e os possíveis prejuízos que os motoristas correm quando colocam os veículos na rua em dias de chuva, principalmente quando as precipitações são fortes. Algumas das reações, inclusive, chegaram a ser desrespeitosas. Mas a Coluna Mobilidade publica mesmo assim.
Confira o que disseram:
“Sua matéria sobre as tarifas estarem muito altas em dias de chuva, deixa muito a desejar nas informações. Em dias normais, as tarifas estão tão baixas, que chegam a inviabilizar muitos percursos. Carro à gasolina é inviável. Apenas com combustível GNV é possível "ainda" realizar as corridas.
Especificamente em dias de chuvas torrenciais, alagamentos e diversos outros transtornos, é natural que os valores se elevem 2 ou 3 vezes mais.
Você já parou para pensar, que nesses dias carros se quebram, placas são perdidas, falhas elétricas, mecânicas, o tempo das corridas duplica ou triplica? Quem paga esta conta? A vida do motorista de aplicativo não está nada fácil.
Compre um carro e venha para as ruas de Recife e Jaboatão transportar pessoas em dias de chuvas fortes. Venha conhecer os alagamentos da Avenida Recife, do Ibura, de Afogados, da Imbiribeira, de Piedade, Candeias, etc…
Se informe melhor antes de escrever uma matéria”.
Eduardo Lemos
eduardomlemos@hotmail.com
“De forma pontual, vejo sua insatisfação em relação à tarifa cobrada.
Numa situação dessa de fortes chuvas e alagamentos na cidade é justo o motorista de app colocar no sua ferramenta de trabalho (veículo) dentro da água!? Correndo o risco de danificar o rolamento, pivô de bandeja, coifa da junta homocinética ou chegar ao extremo de um calço hidráulico?
Se a tarifa cobrada tá um "absurdo" porque não pega um táxi, se conseguir achar um? ... E não vai achar!
Sabe por quê?
O primeiro a recolher é o taxista... porque sabe que o prejuízo nessas chuvas não compensa a corrida.
Muito fácil contextualizar sua insatisfação e não se lembrar dos danos que podem causar ao motorista (sic) enfrentar alagamentos para embarcar passageiro.
A plataforma trabalha com algoritmos, se a demanda de corrida tem poucos motoristas online, o sistema aumenta a tarifa para que o motorista que está enfrentando todos esses problemas tenha condições de atender a sua chamada.
Lembre-se que do outro lado tem um trabalhador igual a você, muitas vezes se submetendo a tarifas defasadas há 6 anos, desde 2016 sem reajuste”.
Atenciosamente,
Leonardo Ebrahim, motorista de app
boxprime1101@gmail.com
Já a Uber, questionou a abordagem sobre o serviço Uber Moto e explicou a razão dos preços dinâmicos.
Confira os posicionamentos:
Preço dinâmico
"Quando a demanda por viagens, em uma determinada área, é maior do que o número de motoristas parceiros circulando na região naquele momento, o preço se torna dinâmico e o valor da viagem pode se tornar mais caro do que o habitual para aquele mesmo trecho.
O preço dinâmico é aplicado para incentivar que mais motoristas se conectem ao aplicativo e assim os usuários tenham um carro sempre que precisar. Quando a oferta sobe novamente, os preços voltam ao normal. De qualquer forma, o preço dinâmico é informado ao usuário no momento em que a viagem é solicitada”.
Uber Moto
“A Uber desenvolve um aplicativo que conecta parceiros que dirigem os próprios veículos a usuários que desejam se movimentar pelas cidades, em acordo aos Termos de Uso da plataforma.
Na modalidade Moto, parceiros do aplicativo realizam transporte privado individual em motocicletas, atividade prevista na Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal 12.587/2012) e distinta de categorias de transporte público individual em motocicletas, como o mototáxi.
A norma federal que regulamenta o transporte individual privado de passageiros - e que estabelece os limites para a regulamentação pelos municípios - não faz distinção quanto ao tipo de veículo. É comum que a atividade seja desempenhada com automóveis, mas isso não significa que este seja o único modal permitido.
A Uber sempre defendeu que a coexistência de novas opções de mobilidade trazidas pela tecnologia e os tradicionais serviços de transporte público não apenas é possível como traz benefícios ao consumidor, que passa a ter mais possibilidades de escolha”.