Lá vamos nós - passageiros - de novo. O protesto dos motoristas de ônibus realizado nesta quinta-feira (21/3), travando a área central do Recife e impactando na circulação de corredores viários importantes da região e, principalmente, na rotina dos passageiros, é o início de mais uma queda de braço política e financeira do setor.
Não é a primeira e não será a última. A diferença, agora, é que mudaram os atores, já que o governo de Pernambuco, após 16 anos de PSB, está sob gestão do PSDB, com a governadora Raquel Lyra à frente.
Mas uma coisa é certa: nessa queda de braço, o maior prejudicado é e sempre será o passageiro.
Para que o leitor entenda, esse é o mecanismo da briga entre empresários, trabalhadores e o governo estadual, gestor do sistema de ônibus do Grande Recife: os operadores do sistema usam os motoristas de ônibus (cobradores não existem mais, vale lembrar) para pressionar o governo do Estado a pagar o subsídio público em dia, enquanto os rodoviários usam a população para pressionar os empresários a pagarem seus salários.
Essa é a lógica e a leitura verdadeira dessas e da maioria das manifestações da categoria.
Não é à toa que a manifestação desta quinta teve como razão o atraso no pagamento da quinzena dos rodoviários, que foi adiada, segundo os operadores, devido à indefinição do Estado em pagar o subsídio das empresas permissionárias. Vale lembrar que o sistema de ônibus do Grande Recife é uma máquina que movimenta R$ 1,2 bilhão por ano (incluindo receita e subsídios públicos).
OPERADORES SEM REAJUSTE DAS PASSAGENS E GARANTIAS DE QUE SUBSÍDIOS SERÃO PAGOS
Como já alertado em diversas reportagens da Coluna Mobilidade, a decisão da governadora Raquel Lyra de não aumentar a passagem pelo segundo ano consecutivo e unificar os anéis tarifários pelo menor valor foi excelente para o passageiro, mas teve e terá consequências ruins para o sistema.
Isso porque, o mesmo Estado que tomou a decisão política e social de não onerar ainda mais o usuário de um sistema de transporte ruim, quente, velho e sem prioridade nas ruas, não previu melhorias reais para o setor. E, pelo menos até agora, não deu sequer garantias legais de que o aumento do subsídio público - estimado em mais R$ 60 milhões - será pago, de fato, às empresas permissionárias - que são aquelas que não têm contrato licitado com o governo e são a maioria dos operadores (oito empresas e consórcios das dez que operam o sistema).
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É importante dizer que o sistema de ônibus do Grande Recife recebeu R$ 250 milhões em subsídios públicos em 2023 e tem previsão de ultrapassar os R$ 310 milhões em 2024.
E, para agravar a situação, um Estado com histórico de atraso no pagamento desses subsídios. Veja a situação da empresa Vera Cruz, que no início do mês pediu para entregar linhas no Grande Recife.
RODOVIÁRIOS, POR SUA VEZ, PROTESTAM PORQUE SÓ ACUMULAM PERDAS NOS ÚLTIMOS ANOS
Do outro lado, temos os rodoviários, que só acumulam perdas, principalmente após a pandemia de covid-19, quando viram a dupla função dos motoristas ser universalizada no sistema e as agressões a motoristas, sozinhos nos coletivos, aumentarem.
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O atraso no pagamento da quinzena salarial é uma prova incontestável da precarização do trabalho da categoria.
REELEIÇÃO SINDICAL E ELEIÇÕES PARA VEREADOR DÃO UM TOM A MAIS
Além dessas peculiaridades de cada um dos lados, é preciso considerar a política, que sempre, sempre está em tudo. Seja a disputa sindical ou a eleitoral.
Este ano de 2024, por exemplo, é ano de eleição no Sindicato dos Rodoviários e a atual gestão (Guará, liderada por Aldo Lima) pretende se reeleger. Os protestos em favor da categoria - sem questionar a legitimidade das razões que os provocam - são fundamentais para pavimentar esse caminho, não há como negar.
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Principalmente quando há uma oposição à gestão querendo assumir a entidade, como acontece agora. E mais: entre maio e junho, os rodoviários também têm a campanha salarial anual - um período já conhecido dos passageiros pelas manifestações dos motoristas na cidade.
“A categoria rodoviária hoje tem um sindicato de fato combativo e independente dos empresários, bem diferente do que existia nas gestões anteriores. Sentimos o reconhecimento da categoria que pede para que a luta continue”, diz o sindicato.
Indo além da disputa sindical, é preciso considerar as Eleições 2024, quando é histórica a candidatura de sindicalistas e líderes dos motoristas a mandatos de vereador, por exemplo. Os rodoviários, entretanto, alegam que, pelo menos por enquanto, o debate sobre possíveis candidaturas não foi feito.
E, no meio de tudo isso, estão os passageiros do sistema.