Após dois dias da violência policial durante manifestação contra o governo Bolsonaro, na área central do Recife, a Secretaria de Defesa Social (SDS) ainda não afastou os policiais militares do Batalhão de Choque que atiraram nos olhos de dois trabalhadores na Ponte Duarte Coelho. Até agora, oficialmente, apenas quatro policiais da Radiopatrulha, envolvidos na ação contra a vereadora do recife Liana Cirne (PT), atingida por spray de pimenta, além do oficial da operação desastrosa foram afastados das atividades nas ruas.
Segundo informações extraoficiais, o PM que atingiu o adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, já teria sido identificado pela Corregedoria da SDS. Já o militar que atirou no arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29, ainda não foi identificado. Todos os envolvidos são do Batalhão de Choque. As vítimas devem perder a visão, segundo familiares.
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Durante toda a segunda-feira (31), a SDS foi procurada pela coluna, mas nenhuma resposta foi dada sobre as investigações da operação desastrosa.
O secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, que estava no Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR), onde é possível acompanhar as imagens de todas as câmeras de segurança, ainda não fez declarações oficiais sobre o ocorrido. E não foi esclarecido quem deu a ordem para que os policiais atirassem contra os manifestantes, que seguiam de forma pacífica pelo Recife.
INVESTIGAÇÃO
Mesmo com as investigações da Corregedoria da SDS e da Polícia Civil, um inquérito civil foi instaurado pelo Ministério Público de Pernambuco para apurar os excessos dos militares, flagrados em diversas imagens e que resultou na cena. O MPPE irá atuar, por meio das Promotorias da Capital, em relação a todos os fatos relacionados à atuação da PM. O apoio da Procuradoria Geral de Justiça - que comanda a instituição -, inclusive, foi destacado no comunicado à imprensa. Um claro sinal de repúdio às cenas presenciadas local e nacionalmente. “O Ministério Público ressalta que repugna qualquer ato de violência contra manifestações democráticas e não admite qualquer atitude arbitrária dos agentes públicos responsáveis pela garantia da segurança do povo pernambucano”, diz a nota.
PERDA DE VISÃO
Jonas Correia de França, 29 anos, saía do trabalho em direção a casa onde mora com a esposa e seus dois filhos quando foi surpreendido pela tentativa da Polícia Militar de dispersar manifestação pacífica que acontecia no Centro do Recife. Os disparos com balas de borracha feitos contra os militantes atingiram o olho direito do jovem, que não participava do ato. Segundo ele, os médicos disseram que a visão foi perdida. Além dele, há relatos de pelo menos mais três pessoas feridas.
"Ele (o médico) disse que fez exames e que eu não tenho mais visão. Eles querem tratar o globo para não tirar, deixar pelo menos ele no rosto. Hoje eu acordei muito triste, é difícil para mim acordar e me ver nessa situação. Só Deus sabe como eu estou. Acordar de manhã para levar o pão de cada dia para minha família e acabar assim, perdendo minha visão", contou ele à reportagem do JC nesta segunda-feira (31), no intervalo entre a bateria de exames que vem fazendo na Fundação Altino Ventura (FAV).