Notícias sobre segurança pública em Pernambuco, por Raphael Guerra

Segurança

Por Raphael Guerra e equipe
PRISÃO

TJPE nega liberdade a policial acusado de desviar armas da Polícia Civil, no Recife

Cleido Graf Gonçalves Torreiro, que era lotado na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), foi apontado como mentor do esquema de venda de armas a criminosos

Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 04/11/2021 às 6:30
Operação da Polícia Civil, em agosto, prendeu acusados - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) negou, por unanimidade, o pedido de liberdade provisória para o comissário da Polícia Civil Cleido Graf Gonçalves Torreiro. Ele está preso no Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, desde agosto, acusado de participação no esquema de desvio e venda de armas de fogo que estavam sob a guarda da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), no Recife. Ao menos 326 armas (pistolas, revólveres e submetralhadoras) teriam sido furtadas, além de mais de 3 mil munições.

A defesa alegou que o comissário não possui maus antecedentes, tem residência fixa e é comissário há mais de 30 anos, além de ter 70 anos de idade e de apresentar comorbidades. No entanto, os desembargadores da 1ª Câmara foram contrários.

O relator, o desembargador Leopoldo Raposo, pontuou que, segundo as investigações, "Cleidio Graf seria, supostamente, o mentor/articulador do esquema criminoso e teria dissimulado a propina recebida adquirindo uma casa de veraneio em nome de suas filhas. Em decorrência de tais fatos, além do crime de organização criminosa, o paciente foi denunciado por peculato, corrupção passiva qualificada, comércio ilegal de arma de fogo e lavagem de dinheiro, cujo processo, segundo informações da autoridade coatora, encontra-se aguardando resposta escrita dos denunciados". A decisão foi tomada na última sexta-feira (29). 

ENTENDA O CASO

Vinte pessoas - entre elas cinco policiais civis - acusadas de envolvimento no caso foram denunciadas pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) à Justiça.  As investigações conduzidas desde janeiro deste ano revelaram um grande esquema criminoso, criado há alguns anos no Estado, e que ainda pode resultar em desdobramentos, visto que há indícios de que facções envolvidas com homicídios e tráfico de drogas continuam com parte das armas desviadas - e vendidas por valores que variavam de R$ 6,3 mil a 6,5 mil, cada uma. Já as submetralhadoras custavam R$ 22 mil nesse comércio ilegal. Detalhes das investigações foram reveladas, em setembro, na coluna Ronda JC

PREJUÍZO Doadas pela Polícia Rodoviária federal, em 2020, as 120 pistolas que seriam usadas pela Guarda Municipal de Ipojuca sumiram da Core - WILDERSON PIMENTEL/SECOM IPOJUCA

As investigações, sob sigilo, tiveram início um dia após um comissário da Polícia Civil voltar de férias, em 05 de janeiro. Responsável pela manutenção e conserto de armas da Core, ele sentiu a falta parte do armamento - incluindo 119 pistolas que pertenciam à Guarda Municipal de Ipojuca, município da Região Metropolitana do Recife (RMR) - que estava guardado numa sala isolada e com acesso restrito. Ele informou à chefia da desconfiança e passou a fazer a contagem do material - foi quando descobriu, de fato, o sumiço do arsenal. 

Diante da gravidade, a chefia da Polícia Civil designou dois delegados para comandar o inquérito: Cláudio Castro, gestor do Departamento de Repressão ao Narcotráfico (Denarc), e Guilherme Caraciolo, que posteriormente passou a comandar o Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco).

Em depoimento à polícia, ainda em janeiro, um detento revelou que, anos antes, havia se dirigido à Core para comprar munições destinadas a uma facção criminosa - indicando os delegados que a prática ilegal não era recente na unidade policial. O vendedor teria sido justamente um dos policiais civis que acabou denunciado pelo MPPE ao final desta investigação.

Outros depoimentos colhidos pela polícia revelaram a suposta ligação de comissários da Core com criminosos. A venda de munições e carregadores de pistolas seria prática comum e antiga. Para se ter uma ideia, uma caixa com 50 munições era vendida por R$ 350, revelam depoimentos.

Quebras de sigilo fiscal e bancário apontaram, ainda, que os comissários investigados tinham movimentações financeiras incompatíveis com seus rendimentos.

Em 12 de agosto deste ano, a Polícia Civil deflagrou a operação denominada Reverso, que cumpriu 18 mandados de prisão e 22 de busca e apreensão, autorizadas pela 18ª Vara Criminal da Capital, pouco antes da conclusão das investigações. Entre os presos, estavam os policiais investigados e integrantes de facções. A Justiça ainda determinou o bloqueio dos bens de parte dos investigados, a pedido da polícia. No dia da operação, também foram apreendidos oito armas, cerca de três quilos de uma droga derivada da cocaína, R$ 40 mil em dinheiro e R$ 5,8 mil em notas falsas.

COMO AGIRAM OS POLICIAIS, SEGUNDO INQUÉRITO

1 - José Maria Sampaio Filho (comissário da Polícia Civil)

Foi reconhecido por uma testemunha por ter, em três momentos, “repassado grande quantidade de munição comercializada, que se destinou a uma facção criminosa. Numa operação da polícia, em agosto, para cumprir mandados de prisão contra os investigados, o policial foi flagrado na posse irregular de uma arma de fogo calibre 9mm sem registro.

2 - Cleido Graf Gonçalves Torreiro (comissário da Polícia Civil)

Apontado pelos investigadores como “o grande mentor/articulador” de todo o esquema de desvio de armas, munições e acessórios. Detinha acesso irrestrito à armaria da Core. “Sem qualquer justificativa, frequentava aos sábados e domingos a armaria. Manipulava planilhas com a inserção e supressão de dados. Utilizava intermediários na comercialização”, pontuou relatório da Polícia Civil ao MPPE. Ainda teria adquirido casa de veraneio e automóvel em nomes das filhas.

3 - Josemar Alves dos Santos (comissário da Polícia Civil)

Investigação apontou que ele auxiliava Cleidio no desvio das armas, munições e acessórios, manipulando as informações em planilhas no setor administrativo.

4 - Edson Pereira da Silva (comissário da Polícia Civil)

Segundo as investigações, “faltou com dever funcional realizando pesquisas no sistema integrado da Polícia Civil para integrantes da organização criminosa, justamente de um desafeto que eles estavam procurando para matar”.

5 - Carlos Fernandes Nascimento (agente administrativo da Polícia Civil)

“Fez contatos, intermediou, despachou e arrecadou dinheiro da venda de munições, armas e carregadores desviados da Core”, descreve o inquérito. Ele faleceu 17 dias após ser preso.

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